Pelo tempo corrido

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Acabei levando alta naquele mesmo dia, a noite. Assim que cheguei em casa minha mãe me levou para meu quarto, e como pedi, ela me deixou com o notebook. Procurei sem sucesso por alguma nota sobre mim, por menor e mais insignificante que fosse. Minha vontade era chorar. Sempre havia notas sobre fãs que sofriam acidentes, no entanto, ninguém se importava. Não tinha nada.

"Ele nem sabe que você existe". "Fica perdendo seu tempo atrás dele". "Ele não se importa". "Ele só quer seu dinheiro". Essas palavras ditas por minha mãe fizeram sentido pela primeira vez. E por maior que fosse minha admiração por Neymar, ela sumiu da mesma forma que chegou: do nada e sem aviso.
(...)

Continuei meus estudos. Consegui passar em uma ótima faculdade de jornalismo e estou prestes a me formar. Já fazem seis anos desde o acidente. Nenhum idolo. Nenhum amor. Eu só queria me tornar alguém, que os outros admirassem e se importassem.
(...)

Eu estava com um vestidinho simples, rosa bebê e sapatilha. O material da faculdade todo nas mãos enquanto eu caminhava para dentro da escola. Estranhamente aquele lugar estava cheio hoje, e me deixava completamente irritada. Suspirei ao conseguir entrar, parecia um alívio enorme. Fui em direção ao elevador, sem sucesso, e voltei quando ele se fechou, já cheio.

Respirei fundo e girei nos calcanhares, voltando em direção à escada e assim, acidentalmente e sem perceber, eu esbarrei em um corpo. Eu acabei indo parar ao chão, e os materiais espalhados. Ao menos levantei a cabeca enquanto pegava os cadernos e apostilas.
- Você não sabe olhar por onde anda? Viu o que fez?! - bufei, pegando uma apostila. Quando fui alcançar meu caderno vi as mãos da pessoa o pegarem primeiro. A outra mão era estendida para mim.

- Me desculpe. Eu não te vi. Nunca quis te derrubar. Desculpe! - e só então ergui os olhos na direção da pessoa. Não podia sequer acreditar que era ele. 

David Luiz, jogador da seleção brasileira e do clube PSG. Estava diante de meus olhos. A ultima informação, referente ao amor que era oferecido à ele, me deu um resquício de raiva. Me levantei, um pouco rápido demais, o que me deu uma pequena tontura. Empurrei sem força as mãos de David, que pareciam querer me segurar. Ele me encarou confuso e eu nem consegui colocar freios na minha língua.

- Olha aqui, só porque é famoso, acha que pode ir derrubando as pessoas e pedir desculpas que tudo vai estar bem? Está enganado. Não fica tudo bem, e licença que estou atrasada! Um garoto me derrubou, sabe...- minha vontade era bater o pé no chão para mostrar que estava falando sério, mas conclui que seria infantil. Apenas desviei dele, que tentou segurar meu braço sem sucesso.

- Eu já me desculpei, fui sincero.

Estava ignorando qualquer olhar em minha direção, e mais ainda a voz dele que ecoava em minha mente. "Tudo de novo não!" gritou minha mente, para mim mesma ouvir e entender que aquilo não poderia estar acontecendo. Respirei fundo assim que terminei de subir as escadas.

Queria olhar no celular o quanto estava atrasada, mas tinha certeza que não conseguiria o pegar sem derrubar algo.

-Bom, o tema do TCC, trabalho de conclu...- meu professor Alexandre, se interrompeu com minha entrada não autorizada na sala. Eu corei e fui quieta para meu lugar. Bastou que eu colocasse as coisas em minha mesa para 23 garotos serem convidados a entrar na sala.

-Que jornalista não gostaria de entrevistar um jogador de futebol após a Copa no Brasil?

A sala foi a loucura. Mesmo depois da derrota brasileira seria o maior privilégio ganhar uma exclusiva com um deles.
- Hoje um deles completa 27 anos. Então vai ser o primeiro a escolher seu 'repórter'.
David deu um sorriso tímido e sinalizou com as mãos para que a sala não cantasse a tentativa de um 'parabéns'. Ele me encarou, com um sorriso que faria qualquer coração de fã parar e andou em minha direção. Passou por mim e eu Respirei aliviada.
- Quero ela. -quando fui olhar para trás ali estava ele, apontando para mim.

You make me glowOnde histórias criam vida. Descubra agora