Pela vontade dos menores

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Fazia uma semana que eu pedia, implorava para minha mãe me levar no aeroporto, e fazia uma semana que ela negava. Eu estava diante do meu computador, lendo mais uma vez a notícia de que a seleção iria desembarcar durante a madrugada em Curitiba, na minha cidade. Arg! Aquilo chegava a ser depressivo. Meu Neymar estaria em minha cidade e eu não o veria. Desliguei o monitor e desci em direção a cozinha, assim que ouvi minha mãe me chamar.

- Filha, pode me ajudar? -eu não disse nada, apenas peguei o pano e comecei a secar a louça, colocando tudo sobre a mesa. Estava na quinta peça quando desisti e resolvi pedir outra vez.

- Mãe, ele é meu ídolo sabe, eu amo ele! Por favor? -ainda não a encarava, mas estava prestes a fazer beicinho para ganhar o que queria.

- Você não vai. Não adianta chorar, e pode pedir o quanto quiser, vai ser sempre não!

- Mas eu amo ele! Nunca mais o Ney vai estar tão perto, e a Carol também vai. Por favor mãe... -ela sempre deixava quando a Carolina ia junto.

- Não, e chega desse assunto! Ele não sabe que você existe, ele não se importa. Só quer dinheiro! - ela suspirou nesse momento, fez uma pausa e então tirou o avental. Eu me virei assim que ela olhou para mim. Me recusava a acreditar naquelas palavras e ainda mais a deixar ela me ver chorando - Termina de guardar a louça, estou indo buscar sua irmã. -ela disse isso e saiu. Eu terminei, como ela tinha pedido. Quase pensei que o meu choro faria eu ter que secar tudo de novo, e me deu raiva o fato de conseguir fazer uma piada naquele momento.

Limpei meu rosto e subi de volta para meu quarto, me jogando na cama já com o celular em mãos. Procurei minha amiga, a Carol, na lista de contatos do whatsapp *Eu vou. Passa aqui em casa que horas?*
Eu sabia que era errado, mas a vontade de ver o Neymar era maior do que qualquer castigo que eu poderia responder, ou eu pensava assim.

É claro que a Carol pirou junto comigo quando eu contei que iria. Ela nem acreditou que minha mãe tinha deixado, e eu não contei que estava indo sem autorização. Para mim estava tudo perfeito, mas surgiu um pequeno problema: tio Beto. Pai da Carol e pessoa que nos levaria ao aeroporto, queria falar com minha mãe.
Respirei fundo por ela não estar em casa, e então senti um frio enorme na barriga. O telefone estava tocando. Quase escoreguei ao descer correndo as escadas, pois estava de meia. Minha voz se misturava com a respiração ofegante e pensei que tudo iria acabar ali.
- Então tio Beto, ela não está. Foi buscar a Clarinha na creche -fiz uma pequena pausa enquanto o ouvia explicar que era importante ele falar com minha mãe e mesmo sem ele ver eu concordava -Tudo bem tio, eu peço pra ela te ligar. Beijos!
Assim que desliguei eu me joguei no sofá. Tirei o celular que estava no bolso da calça e ri encarando a tela. Era a foto do Neymar. Foi então que minha mãe chegou. Ela estava com a Clara no colo e eu sorri, olhando para elas.
- Oi mãe, oi Clarinha! A fila da creche estava grande?- eu ri outra vez e sabia que pelo olhar, minha mãe desconfiava de algo. Mas ao mesmo tempo ela parecia querer se desculpar. Ela não disse nada, apenas subiu a escada e eu sabia que ela iria dar banho na Clara. E eu fiquei sozinha com meu celular, com a Carol... Com o Neymar.

*Carol, eu não acredito. Vai ser a primeira vez que chego tarde em casa! Tipo, vai estar amanhecendo*

*Verdade Mah. Falando nisso, meu pai disse que te pega 1 hora. Vou tomar banho agora amiga!!*

Eu apenas bloquiei meu celular e me levantei. Sabia que deveria responder um simples 'ok' para a minha amiga, mas eu só pensava em como iria sair de casa sem ser percebida. E voltar antes de acordarem.
Respirei fundo e quando me dei conta estava no meu quarto. Minha mãe estava no quarto ao lado com a Clara. Peguei o notebook e me deitei na cama. Não sei como, nem quando, mas acabei dormindo. E só acordei, porque o telefone de casa começou e também parou de tocar...

You make me glowOnde histórias criam vida. Descubra agora