Pelo céu sem estrelas

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Eu literalmente pulei da minha cama quando o telefone parou de tocar. Como assim? Apenas dois toques e pronto? 

Peguei meu celular e fingi não estar preocupada ao descer as escadas, mas na verdade estava.

Respirei fundo antes de descer todos os degraus e fui em direção a sala. Podia ouvir minha mãe no telefone, e ela disse meu nome. Eu me deitei no sofá e abri a conversa com a Carol no whatsapp, tinha duas mensagens. A primeira falando que tinha voltado, a segunda dizendo que iria se arrumar e era pra mim chamar se precisasse de algo. Eu estava meio confusa. Quanto tempo havia dormido? Quando fui olhar as horas no celular minha mãe desligou o telefone.

Estranhamente ela já estava na minha frente e o celular caido na minha cara.

- Era seu pai. Ele vai ter que dormir fora. Ah, ele concorda comigo sobre o garoto do futebol...- ok, ouvir ela falando aquilo era maior quase um crime, mas eu tinha que me esforçar para me acalmar. Fingir que nada estava acontecendo.

-Pois é, ele vai vir outras vezes. Sabe que horas são? Eu durmi mas ainda estou com sono!- deixei minha mãe responder, mesmo que eu tivesse acabado de olhar meu celular. Era quinze pra meia-noite. Faltava pouco mais de uma hora para o tio Beto ir me buscar. Minha mãe bocejou e subimos juntas para o quarto. Ela foi para o dela, eu me tranqueira no meu.
Calças jeans, regata branca do Mickey e meu vans preto. Maquiagem leve e um pequeno pedaço de papel que tinha a assinatura da minha mãe, e a letra dela, autorizando minha ida. Eu realmente era um gênio. Passei no quarto da minha mãe, ela realmente havia dormido.

Faltavam 10 minutos para o tio Beto chegar, desci as escadas e peguei minhas chaves. Estava prestes a me sentar na guia quando o siena prata virou a esquina.Eu sorri, como uma criança que ganha seu primeiro brinquedo. Era uma sensação tão estranha saber que eu encontraria o Neymar em breve. Meu estômago revirava, mas de uma forma boa, que fazia eu sentir um frio enorme na barriga. O restante do meu corpo estava quente, minhas mãos suavam e minha vontade era chorar.

Mas eu não faria aquilo, não ainda.

Mal entrei no carro e o Roberto (tio Beto) já queria descer e falar com minha mãe. Coloquei uma mão no ombro dele, já que estava no banco traseiro.

- Tio, não precisa. Ela está dormindo com a Clarinha. Deixou isso para o senhor! - entreguei o papel para ele. Eu quis rir, mas me segurei. Abracei a Carolina que estava ao meu lado e então o carro começou a andar.

Ele sussurrou algo como "coloquem o cinto". Eu mal havia escutado o que ele disse. Minha cabeça estava encostada no vidro, as duas mãos no peito pareciam querer segurar meu coração. E meu coração, parecia mais rápido que um colibri. Cada prédio que passava por nós e parecia que ele batia mais rápido, se isso fosse possível. Cada placa indicando o caminho do aeroporto e minha vontade de gritar e chorar mais aumentava. Os sonhos pareciam mais reais.

Um nó se formava em minha garganta de tanta ansiedade. Mas então minhas mãos agarraram com força o banco da frente, e eu desejei estar em casa. Pisquei duas vezes e tentei refazer as ultimas coisas que eu vi, e apenas a lembrança de um carro vindo em alta velocidade apareceu. E era do meu lado.

O carro parecia estaria girando, a boca de todos aberta para gritar, mas nenhum som. Eu também tentava gritar, mas minha garganta parecia seca. Nenhum som saía. Carolina e Roberto estavam parados, e eu parecia uma bola de pinball batendo em tudo. O sangue que escorria da minha cabeça era quente. Meu corpo todo estava dolorido. O barulho de fumaça parecia ser mais alto. Imaginei que tivéssemos parado. Tio Beto estava tentando soltar seu cinto quando as vozes, os gritos de socorro vindos de fora ficavam maia baixo, e então meu céu se apagou. Tudo ficou preto.

You make me glowOnde histórias criam vida. Descubra agora