Pela segunda chance

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Eram quarto horas da manhã. Sabe quando você sonha que está caindo de um prédio e acorda assustada? Eu estava assim. Meu coração estava especialmente acelerado, mas não era eu que estava caindo do prédio, e sim 'ele'.
Os braços de Bruna me prendiam como um urso. Eu a afastei com calma para não a acordar e respirei fundo. Minhas mãos geladas coçaram meus olhos e então minha cabeça, que doía sempre desde o acidente. Me sentei devagar e peguei meu celular. Assim que acendi a tela minha vontade foi bater na Bruna. O papel, mesmo amassado, estava ali no meio da tela.
Mordi meu lábio inferior e abri o papel. Li o pequeno texto que Bru tinha lido antes e virei o verso. Disquei o número, apenas para salvar. Fiquei alguns minutos encarando o contato e então apertei para chamar. Eu não esperava que ele atendesse aquela hora da manhã, e estava quase desligando quando o barulho da chamada sendo encaminhada se tornou uma voz.
Senti um frio enorme na barriga. Queria poder desligar, mas ele pensaria que sou louca. Estava tentando fazer o menor barulho possível, deixando apenas minha respiração entregar que eu estava lá.
David: -Alô? Quem é? Que horas são?! - a voz dele estava baixa e rouca. Devia ser crime estar tão perfeita daquela forma. Respirei outra vez, devagar.
David: -Marcela, é você? -"Ah não. Droga!" bati de leve a mão na testa.
Marcela: -Desculpe ter te acordado. Eu não devia te ligar essa hora. Eu, boa noite David...
David: -Hey, não desliga! Eu estava esperando sua ligação, pensei que não ligaria... - houve uma pausa. Na verdade um silêncio torturante e constrangedor. - Vai aceitar sair comigo? Como amigos. Vai ser uma festa e a Bruna pode ir. - ele deu uma pequena risada e eu também. Cheguei a sentir minhas bochechas queimarem e tentava imaginar se ele também estava corando.
Marcela: -Posso responder amanhã? A Bruna está dormindo. Devemos fazer o mesmo... - outra pequena risada dos dois - Boa noite David.
David: -Boa noite, Lindona.
Desligamos juntos. Eu ri por causa disso. Apertei o celular contra o peito e voltei a me deitar. Acabei adormecendo.
(...)
Bruna acordou primeiro no dia seguinte e já começou a pular em cima de mim, gritando.
Bruna: -Eu sabia! Sabia! Você ligou pra ele. Tinha que ter me acordado. Eu sabia!
Fingi não saber sobre o que ela falava e fui ao banheiro fazer minha higiene. Ela entrou junto e ficou encarando eu escovar os dentes.
Bruna: -Não vai contar? Tudo bem... O Bernard me contou. Ele disse que o David não para de falar sobre você...
Ela deu as costas com um sorriso vitorioso. Bruna me conhecia e sabia que eu iria atrás dela. Respirei fundo e prendi meu cabelo, indo para a cozinha.
Marcela: -Ele... Fala de mim?
Bruna correu e se sentou junto comigo na cadeira, como sempre. Quando ia começar a falar os pais dela, tia Marta e tio Ailton entraram na cozinha.
Tia Marta: -Ele quem hein mocinha? Pode dizer. Sou sua segunda mãe...
"Ferrou" eu e Bruna nos olhamos e rimos de leve. Eu não poderia contar pra ela, não quando não sabia o que estava acontecendo.

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