Bad Guy | jjk + pjm

Algo estranho

Jungkook.

Uma vez, enquanto fazia um trabalho da escola, precisei escrever um texto sobre minha família. Não tinha mínimo de linhas ou um enredo a ser seguido, era somente para seguir o tema determinado e pronto. Lembro que escrevi sobre dor, saudade e abandono. A professora me chamou para conversar e disse que eu deveria encontrar com a psicóloga, eu tinha uns dezesseis anos na época. Eu me neguei até o final, fugi da psicóloga e precisei cumprir detenção durante um mês.

Mas, bem, a professora da detenção dormia e eu ficava no meu canto desenhando. Era um momento de paz em minha vida. Um momento em que eu não estava bebendo em festas e beijando bocas de pessoas estranhas e tão vazias quanto eu. Então, no final das contas, a detenção nunca soou como um castigo em minha vida. E até o final do meu ensino médio, provoquei inúmeras situações para que eu fosse novamente mandado para lá.

Atualmente, não consigo mais pensar que família é somente sobre dor, saudade e abandono. Na verdade, compreendi que família não é apenas formada por pessoas que têm laço sanguíneo comigo.

Porque... Jimin não tem nenhuma relação de sangue comigo e, ainda assim, ele é como parte da minha família, sim. Ele é a pessoa que me representa um lar muito maior, melhor, mais confortável e aconchegante que a minha casa. Na minha percepção atual, isso sim é uma família.

E agora, estava tudo bagunçado. Porque o próprio Jimin estava uma bagunça e eu não sabia o que fazer para ajudá-lo.

Talvez a situação não estivesse ruim o bastante para que não pudesse piorar, mas é que tudo aconteceu tão rápido que algo dentro de mim estava se revirando durante aquela aula. A aula que me fez divagar sobre família e concluir que Jimin era a minha. O meu porto seguro, sabe? Onde posso ir caso o caos dentro de mim seja muito grande. Isso tudo porque eu deveria fazer uma planta de um apartamento e acabei desenhando o próprio Jimin, e então notei que estava vidrado demais em pensamentos sobre ele para prestar atenção nas instruções da professora.

Jimin tinha conseguido uns dias de folga das aulas por ser fim de semestre, e enquanto isso ele ficava na enfermaria horário integral. Ele dizia que era pelo dinheiro, mas não era preciso pensar muito para saber que Jimin somente queria ficar todo o tempo que pudesse longe de casa. Longe de seus pais.

Isso me entristecia, pois sabia ser o principal culpado dessa briga deles. E saber que estraguei uma família além da minha era doloroso, principalmente por conta de a relação deles ser tão boa antes.

E tudo estava tão estranho que a dor em meu peito e no meu abdômen apenas aumentou. E eu não conseguia mais aguentar, afinal não estava prestando atenção alguma nas aulas. Jimin poderia me dar algum medicamento ou ao menos me dispensar das aulas.

E só por pensar nele, aquilo que se revirava no meu estômago triplicou a força, me deixando com as pernas fracas, as mãos trêmulas e a respiração toda bagunçada.

Era como se houvesse algo se contraindo dentro de mim, me apertando e quase sufocando. Minhas pernas, fracas, pareciam dormentes. Minhas mãos tremiam como se não tivessem forças sequer para segurar a minha mochila, tarefa que pareceu difícil até mesmo para meus ombros. Meu corpo todo estava trêmulo.

— Tem algo muito errado comigo. — Murmurei sozinho enquanto caminhava com dificuldade pelo corredor.

Chegar na enfermaria nunca pareceu tão difícil, apesar de eu já ter feito esse caminho até alcoolizado. Tinha algo estranho dentro de mim, a dor ia e voltava, e piorava cada vez que Park Jimin voltava para meus pensamentos — o que acontecia a cada poucos segundos.

Quando adentrei o cômodo lá estava ele, usando seu jaleco branco e uma calça da mesma cor. Jimin tinha começado a se vestir melhor nas últimas semanas, o que era um atentado contra a minha sanidade já tão ferrada por causa dele.