CAPÍTULO 4: Muitas perguntas

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Bato meu novo recorde em duas semanas, estou nadando sem me cansar.

- Eu disse que ele ia escolher você Thomas. - Austin diz, secando-se a beira da piscina. Ainda estou do lado de dentro.
- Não sei se posso ganhar essa competição. Melhorei faz pouco tempo.Não estou tão seguro assim.
- Se o treinador acredita em você, eu também acredito. - O celular de Austin vibra e ele começa a digitar algo. Mergulho até o fundo da piscina e sento-me, concentrado na água ao meu redor.

Nenhum barulho, apenas o meu coração desacelerando aos poucos. Uma das minhas partes favoritas do treino é quando acabo e posso mergulhar até o fundo da piscina, ficar em completo silêncio e esquecer da realidade por alguns minutos.

" preciso chamar ela pra sair na próxima mensagem..."

Viro-me para trás. Era a voz do Austin, parecia bem perto, como se tivesse mergulhado atrás de mim.

" caramba estou muito nervoso não posso perder essa oportunidade mandar agora essa mensagem "

Volto para superfície. Ele está sentado, ainda digitando.
- Cara, você não me disse que ia sair com a Kelly.

Ele me olha, confuso.

- Mas eu não disse mesmo não.
- Tá mas você acabou de dizer.
- Não cara, eu não disse não.

Encaro-o por 5 segundos.

- Sim Austin você disse, você estava até nervoso, disse que iria enviar a próxima mensagem.
- Você está lendo mentes agora?eu não disse isso, eu pensei nisso. Vamos, se veste cara, vamos dar o fora daqui que eu tenho um encontro pra ir. Fico confuso mas saio logo da piscina. Seco-me e vou buscar minha irmã na escola. O resto da semana é dureza, fizemos revisão para as provas finais. Sentei novamente ao lado da Lia na continuação da aula de biologia, ela não perguntou nada dessa vez, parecia séria, preocupada, mal falou comigo também. Na sexta-feira, depois do último horário, ela aborda-me no corredor da saída da escola.

- E aí Thomas. - Ela diz e começa a caminhar do meu lado para fora. Lia está de vestido preto fino de manga cumprida, all star, uma naquela jeans e o cabelo solto. Não consigo desvendar se ela tem um estilo próprio ou se muda de roupa dependendo do humor.
- Oi, está pronta para o trabalho?
Ela apoia uma alça da mochila em apenas um obro.
- Sim, muito preparada, você vai adorar minha apresentação. Inclusive eu tenho uma coisa para você.- Paramos na calçada. Alguns alunos estão para lá e para cá, o desespero da juventude em fim de semestre.

- É um livro de medicina de 1990, têm  algumas informações sobre Trissomia 21 aí, achei que você poderia usar no seu trabalho.
- Como você conseguiu isso?
- Você faz muitas perguntas. Depois me devolve. Bom fim de semana. -E ela some, virando a esquina da rua. Leio as primeiras páginas do livro antes de buscar minha irmã. 

- Mãe chegamos. - Tori e eu tiramos os sapatos  logo na porta e fico de meia, como de costume. Nunca entramos em casa com os sapatos sujos da rua, isso mantinha nossa casa mais limpa, e longe dos germes, dizia minha mãe. A baixa imunidade da minha irmã também foi um motivo para começarmos a andar de meias pela casa.

- Olha quem também chegou!- Minha mãe aparece, feliz, atrás dela está Melissa. Abro meu sorriso automático pela sua presença. Ela se lança em meus braços e sinto o cheiro do seu shampoo doce.
- Senti sua falta - Ela diz e beija-me levemente.
- Eu também amor. - Retribuo o beijo. Eu precisava estudar mais para as provas, para o trabalho final, mas eu queria estar com ela, precisava estar com ela. Subimos para o meu quarto. Fazemos uma bagunça na minha cama nos beijando pra lá e pra cá, até que minha irmã bateu na porta impedindo que nosso momento mais íntimo aconteça. Arrumo minha mochila enquanto Melissa brinca com Tori de quebra cabeça. Ela vai ser uma ótima mãe, penso. Mas será que eu realmente quero ser pai ?
Jantamos juntos, depois ficamos conversando até tarde. Como era bom estar com ela nos braços novamente.

Austin

Austin

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