O Sexto Sentido

CAPÍTULO 13: Testemunha

Na saída ainda está chovendo, caminho com kate até a rua dela que fica um pouco antes da minha. Eu nunca tive muitas amigas, por escolha própria, não sei dizer exatamente o por quê. Eu e ela nos aproximamos mais esse ano. Não andávamos grudadas, nem compartilhavamos todos os nossos segredos, mas nós nos entendiamos no nosso silêncio.
- Nossa essa chuva acabou com meu cabelo - Kate reclama, colocando a jaqueta por cima da cabeça.

Olho para trás. Nada do cara de moletom.

- Aí tá rolando alguma coisa com você e o novato ?
-Com quem ?
-Com o Thomas. Tá todo mundo comentando.
- Ah é? As pessoas não tem coisa melhor para fazer mesmo.
- Vocês estão andando juntos, as pessoas comentam Lia.
- Quem disse isso para você?
- Eu ouvi por aí.
- Ah, sei.

Olho para trás novamente.

- O que foi ?- Kate olha também.
- Nada, pensei que tinha visto alguém conhecido.

Atravessamos a rua pisando em pequenas poças de água.
- Eu acho que vou reprovar em biologia, o que não vai ser nenhuma novidade para os meus pais.
- Sua nota foi baixa assim ?
- Tá brincando? O Bewris me deu cinco. Cinco em um trabalho que valia dez! Eu não sei mais o que fazer, já aceitei a situação.
- Mas talvez sua mãe consiga falar com ele, ou com o diretor, para você refazer o trabalho, ou fazer outro. É o último mês do ano letivo, não acredito que eles queiram continuar vendo nossa cara ano que vem.

Ela fica calada o resto do caminho até sua casa.
- Tchau até amanhã - ela me abraça, úmida.
Passo mais duas ruas até chegar em minha casa, quando estou fechando a porta vejo o mesmo homem de capuz de mais cedo passando para o final da rua. Saio para ver onde ele vai mas o homem some por algum beco. Tranco a porta e as janelas até minha mãe chegar do trabalho.

◇◇◇THOMAS◇◇◇

Tori insiste para lavar o carro comigo. Ainda são quatro da tarde, cheguei da escola há dez minutos.
- Tudo bem mas quando começar a chover você entra tá bom ?
Ela começa a jogar água com uma mangueira na frente enquanto tiro os tapetes da parte de trás. A rua está calma, apenas uma ou duas pessoas passando para lá e para cá de cada vez.
- Tori você não pode molhar aqui atrás, só na frente.
Ela molha minha camisa com a torneira e começa a sorrir. Pego a outra mangueira e molho um pouco seu cabelo que está amarrado em uma trança.
- Vingança está vendo ?
Ela corre depois volta e começa molhar o carro novamente.

Sinto meu coração bater forte subitamente junto com uma pontada de raiva. Olho para trás. Nada.
A raiva aumenta e minha cabeça começa a doer. Encosto-me no carro.
- Mas o que ???- coloco as mãos na cabeça
Agora consigo ouvir algo.

" Eu vou matar aquela desgraçada "

Um homem passa andando rápido na minha frente, na minha calçada. Ele é baixo e magro, muito magro. Sinto a raiva e ansiedade dele passarem por mim como um tsunami que surge de repente. 
- Tori entra para casa por favor.
- Tommy ainda não acabei...

Espero alguns segundos. O que está acontecendo comigo ? Da onde vem isso ? Será que foi daquele cara ?

Vou atrás do homem que para três casas depois da minha, saca uma arma e atira na mulher que está abrindo a porta. Ela grita e o homem atira mais uma vez.

AH QUE DROGA !!
Corro até minha casa pegando minha irmã no colo com apenas uma das mãos.
- Tori eu mandei você entrar !
Entro e tranco a porta, minha irmã abraça minha perna.
Minha mãe surge desesperada
- Isso foi um tiro ?
- Mãe segura ela.
- Filho o que houve?
- Um cara acabou de atirar na vizinha
Tori começa a chorar. Minha mãe abraça-a.

Mas que droga foi aquela ??

- Mãe ele matou ela, eu vi ela caindo no chão- Minha mae me abraca.
- Você viu quem foi?
- Acho que ele fugiu. Mas sim eu vi ele passar, vi o rosto dele.

Sento-me no sofá. Minhas mãos estão tremendo. Minha mãe pega um copo com água para mim. Respiro fundo várias e várias vezes. Depois que meu coração acalma saio na porta novamente, alguns vizinhos estão saindo também, alguém está chorando e gritando, outra pessoa começa a ligar para a emergência.
- Meu Deus nosso bairro está tão violento!- minha mãe pega Tori no colo e a leva-a para o quarto.
Minha mente está repassando a cena a cada segundo. O homem passando, a raiva que ele sentiu, o tiro no rosto dela.
A polícia chega um tempo depois junto com o IML. Aproximo-me para ver o corpo sendo retirado.
- Alguém de vocês viu alguma coisa ?
-Policial eu só ouvi os tiros e quando vim ver ela já estava caída. - Diz minha vizinha da frente, Dora.
- Ninguém aqui viu quem fez isso com essa mulher ?
- Eu vi. - digo

Todos me olham. O homem alto e velho aproxima-se de mim.

- Você tem certeza do que viu ?
- Sim eu estava lavando o carro, ali na minha porta na hora- aponto para o carro.
- Você é maior de idade ?
- Sim tenho 19.
- Okay você precisa prestar depoimento, entende que foi testemunha de um homicídio?
Balanço a cabeça. Aviso minha mãe e sou levado até a delegacia.