CAPÍTULO 28:" Encontro "

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Marcus era um homem mais velho, gentil e sorridente. Fomos andando até a lanchonete mais próxima da escola. Falamos sobre a família dele, sobre como todos são músicos desde a geração do avô. O céu está cheio de estrelas, o vento forte passa por nós me fazendo apertar a jaqueta ao meu corpo. Ignoro a vontade rápida de abraça-lo para me esquentar.
- Uma família de artistas. - digo, sorrindo para ele.
- Seria, se não fosse meu irmão bastardo que decidiu fazer medicina.
- Mas é um curso muito bom também.
- É sim, tô brincando. Olha só, é do outro lado da rua, bem ali. - Ele aponta o local e atravessa a rua comigo com uma das mãos na minha costa. Entramos em um lugar do tamanho do meu quarto com portas de vidro.
- Queria poder levar você em um lugar mais legal de primeira mas prometo que a comida daqui é muito boa. - Ele diz, sentando.
- Você que é apressadinho, eu esperaria mais um pouco. Não tem problema inclusive.
- Oi boa noite sejam bem vindos. No que posso ajudar você e sua amiga hoje Marc?- uma mulher alta, magra e ruiva com aparentemente quarenta anos nos atende.
- O de sempre pra mim Jenny.
- Sanduíche vegetariano. Anotado.
- Você é vegetariano?- pergunto.
- Sim. O que você vai querer ?
- Quero o mesmo que ele. Vou experimentar.

A mulher anota nossos pedidos e sai. Ele estava tão a vontade, com certeza vinha muito aqui.

- Não me contou essa parte- reclamo.
- Já falamos muito de mim. Além do mais ainda não chegamos na parte que digo pra você o que gosto de comer na sexta a noite. Vamos falar de você agora.
- Você quer que eu faça um monólogo ?
- Vamos fazer diferente.
- O que você sugere ?
- Eu pergunto e você precisa responder rápido, tipo a primeira coisa que vier na cabeça.
- Eu topo !

Ele está do meu lado, estamos sentados em uma das mesas minúsculas de madeira. Tem poucas pessoas então falamos bem baixo.

- Cor preferida
- Rosa.- Digo rápido
- Comida- ele pergunta mais rápido.
- Lasanha- seguimos um ritmo
- Um animal
- Gatos.
- Uma banda
- Backstreeet boys

Ele ri.

- Um hobbie
- Crochê
- Você faz crochê???

A garçonete traz as batatinhas primeiro. Pego uma do pote.

- Sim. Impressionado ?
- Bastante. Você não tem cara ...bom
- Minha vez ! - limpo os dedinhos em um guardanapo.
- Tá bom.
- Cor favorita
- Verde escuro
- Bebida
- Não bebo.
- Hummmm. Interessante - digo.
- Um sentimento
- Paz - Ele responde, sereno.
- Comida ?

Nosso sanduíches chegam.

- Isso responde sua pergunta ?

Rio e faço que sim com a cabeça. Comemos bem devagar, conversando sobre um assunto diferente a cada mordida.

- Gostou do sanduíche?
- É perfeito!!
- Você ainda vai se impressionar com a culinária vegetariana.
- Você vai me mostrar ?
- Só se você quiser. Oh jenny, a conta por favor.
Ele vai até o caixa, paga e caminhamos até a minha casa.
- O que vai fazer depois da escola? - Ele pergunta, caminhando devagar ao meu lado.
- Quero fazer vestibular pra ciências.
- Quer ser cientista é?
- Isso aí.
- Você parece inteligente. Vai conseguir.
- Como você decidiu que queria fazer música igual todo mundo da sua família e não seguir outro caminho ?
Ele respira fundo.
- Bom, meu sentindo dominante é audição, então isso sempre me ajudou com música. Eu não fui obrigado a gostar, eu aprendi a gostar sozinho. Eu até tentei outro curso.
- Jura? Qual ?
- Engenharia. Mas não gostei. Voltei pra música. Sou feliz assim.
- Parece tão fácil falando assim.
- Ah não, nunca é. Eu demorei um pouco pra me encontrar. Você é muito jovem. Vai conseguir.
- Chegamos- Digo. Ele me abraça
-Boa noite, moça do crochê.
Demoro a solta-lo e ele não recua. Sorrio.
- Boa noite, moço vegetariano.
- Até domingo.
- Até.
Vejo ele descer a rua. Ele vira e acena pra mim mais uma vez e eu aceno de volta.

O Sexto SentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora