CAPÍTULO 10: Especulações.

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THOMAS

Faz três dias hoje que a Lia não aparece na escola, nem responde meus directs de desculpas, nem dá sinal de vida. Sinto-me extremamente culpado pelo incidente do carro, ela deve achar que eu sou louco.

- Aí cara, está distraído esses dias, o que rolou?- Austin pergunta, secando o cabelo com uma toalha velha. Estamos em frente o espelho do vestiário masculino. Corpos molhados passam atrás de mim. Encaro meu reflexo pálido por alguns segundos.

- Acho que fiz uma bobeira, preciso consertar - Digo, vestindo a camisa o time de natação.
- Foi com sua namorada?
- Não. Foi com uma...uma colega.
- Quem ?
- Com a Lia.
Ele levanta as sobrancelhas para mim.
- Cara, qual a sua ?
- Como assim Austin, ela é da minha sala.
- Eu sei mas, você nunca falou sobre ela antes, nem sabia que vocês eram próximos.
- Não somos.
- Seja o que for, melhor resolver, mulheres se importam com coisas muito pequenas. Vai por mim.

O treino foi puxado, estávamos todos esgotados pelas provas finais e com a preparação para as Olimpíadas Escolares de Natação. São cinco da tarde quando avisto Lia no corredor da nossa sala, mexendo no seu armário. Para minha surpresa, ela não foge ao me ver. Paro do seu lado no corredor. Ela está de calça jeans skinny, blusa rosa chock e ...

chinelos.

- Você ainda está viva- digo, tentando não parecer estranho.

- Muito engraçado.- ela sorri, sem mostrar os dentes, como faz a maioria das vezes. Acho que nunca vi seus dentes de perto.

- Você vai me desculpar quando?

Ela tira alguns livros do armário e guarda na mochila.

- Já desculpei.

Pisco várias vezes, surpreso.

- E quando você pretendia me contar?- ajudo-a a tirar as outras coisas.

- Não sei, talvez daqui um mês ou dois.

encaro-a.

- Brincadeira.

- Não tem graça.

- Foi mal, olha só eu fui grossa com você e com razão né, mas sei que você não é maluco. Você só quer respostas, está claramente desesperado. - Ela me olha de cima a baixo com um olhar de pena e depois fecha o armário.

- Deixa que eu levo isso para você- digo, pegando a alça da mochila pesada.

- Obrigada.

- Então você já me desculpou, agora vai me ajudar?- começamos a caminhar pelo corredor rumo a saída. Austin passa ao nosso lado e nos encara rapidamente.

- Aí que tá, não sei como você acha que posso te ajudar, se você ficou confuso, acredite, eu estou duas vezes mais.

- Você pode começar me dizendo qual o sexto sentido.

Ela para, me olha nos olhos. Pela primeira vez vejo-a bem de perto, percebo seu nariz fino, suas sobrancelhas grossas e sua aparência cansada.

- Thomas eu não sei.

- Como assim não sabe.

- Ninguém sabe, aqueles cretinos do experimento com as crianças nunca revelaram qual é. Até hoje, o que se sabe são só especulações.

- De que tipo?

voltamos a caminhar no corredor.

- Ah você sabe... teletransporte, capacidade de regeneração, previsão do futuro.

- Mas e o que você acha?- pergunto, ainda incrédulo que não haja respostas.

Ela suspira e pega a mochila de volta quando chegamos na entrada.

- Sinceramente ? eu não sei. Preciso ir agora.

- Pra onde você está levando tudo isso?

- Fui suspensa pelo resto da semana pelo meu trabalho polêmico.

Ela atravessa a rua e some, como sempre.

Chego em casa e ajudo minha irmã a tirar os sapatos.

- Precisa tomar banho logo- digo, subindo as escadas com ela.

Tento concentrar-me na leitura para a prova de literatura da semana que vem mas não consigo. Eu preciso descobrir o que está acontecendo comigo, só uma pessoa pode me ajudar.

Pego meu celular e disco, três toques e ela atende.

'Alô'

' Oi, você pode me encontrar na escola daqui a quinze minutos?'

' Thomas, você engoliu água da piscina? são quase oito da noite'

' Só vá lá, diga para o vigia que você está me esperando para buscar um material da natação'

' Você quer banhar de piscina, agora?'

' Lia, só confia em mim tá? te vejo lá'

Troco de roupa, pego o carro do meu pai sem pedir e saio.

O Sexto SentidoOnde histórias criam vida. Descubra agora