Após o jantar, esperei até que todos estivessem em seus quartos e fui até o quarto do capitão. Bati algumas vezes na porta e logo em seguida ele a abriu. Me surpreendi um pouco com isso, geralmente ele diz "entre" e eu mesma abro a porta e entro.
Ele passou as mãos pela calça num ato de enxugar e logo se dirigiu para mim.
- Já arrumou suas coisas para amanhã? - perguntou ele me olhando.
- Sim, já arrumei tudo. - respondi em seguida dando um aceno com a cabeça.
Ele deu espaço e entramos mais a fundo no cômodo. Ele se sentou na beirada da cama como na última vez e eu me sentei na cadeira. Tirei o papel cuidadosamente dobrado do bolso do meu casaco e entreguei a ele.
- Aqui está o relatório da última semana. Eu particularmente não notei grande coisa diferente. Ele parece muito determinado. - falei enquanto ele analisava cuidadosamente o papel.
Não tinha muito texto, então rapidamente ele terminou de ler e voltou sua atenção para mim.
Não falamos por alguns segundos. Ele parecia pensativo. Engoli em seco algumas vezes. Pude vê-lo fechar uma de suas mãos em punho como se estivesse incomodado com alguma coisa que estava pensando.
- Tome cuidado amanhã, ok? - ele disse após um momento de relutância.
Pude sentir uma pitada de emoção na sua voz. Ele estava pedindo aquilo do fundo do coração. Ou foi o que transmitiu para mim.
Meu peito se aqueceu.
- Tomarei cuidado. - respondi sinceramente e dei-lhe um sorriso.
- Você se sente bem? Nada a incomoda mais? - perguntou me analisando. - Se você não estiver bem, não precisa ir. - ele estava estranhamente agitado. Os olhos, embora geralmente impossíveis e ilegíveis, transbordavam preocupação.
- Eu... Estou bem
Eu nem tinha terminado de responder quando ele se levantou e caminhou até mim. Assim que se pôs à minha frente parecia relutante em fazer algo. Levantava o braço um pouco, mas rapidamente recuava. Como se não estivesse certo do que fazer.
Desviei o olhar por um segundo, quando logo senti suas mãos afastarem uma mecha do meu cabelo que cobria o meu rosto. Virei a cabeça para olhá-lo.
Ele me encarou com um olhar caloroso e temeroso.- Você não é qualquer pessoa para mim... - ouvi-o sussurrar. O que me fez estremecer, e meus pelos do corpo de arrepiaram.
O que podia significar isso tão de repente?
Eu estava confusa. Tudo estava silencioso, então não era difícil ouvir sua respiração acelerada. A mão que ainda estava em meus rosto também estava levemente úmida.
Aquilo foi claramente uma declaração, ou não?
Eu nunca tive experiência nessa área então não posso dizer com certeza, mas obviamente ele não faria ou diria algo assim pra qualquer pessoa. Mesmo eu não entendendo o porquê de ele fazer isso comigo.
Não há nada interessante em mim. Sou uma pessoa totalmente sem graça.
Nenhum de nós sabia o que fazer a seguir.
Ficamos assim por sabe-se lá quanto tempo, até que ele lentamente afastou sua mão e limpou a garganta.- Você.. pode ir. - disse mudando a postura. Ele ainda estava um pouco desconsertado.
E eu também.Pisquei algumas vezes voltando à realidade e me pus em pé.
- Então, eu já estou indo. Boa noite, capitão. - fiz uma reverência e me dirigi para fora do quarto.
Assim que adentrei meu próprio quarto, não pude deixar de soltar o ar que eu estava prendendo há tempos. Senti meu rosto esquentar e o coração acelerar loucamente.
A sensação de sua mão no meu rosto ainda perdurava, o que indicava que aquilo realmente aconteceu agora há pouco.Mesmo tentando afastar os pensamentos, era impossível. Demorei a pegar no sono, mas após muita luta consegui.
Coração idiota, pare de se animar assim tão facilmente.
***
Acordamos bem cedo, tomamos um rápido café da manhã e logo todos já estávamos prontos para partir em missão.
Estávamos na frente do portão, esperando a ordem para partir. Eu já estava montada no cavalo próxima a Reiner, Armin, Nick e Eld.
Eu não estava na mesma formação que capitão Levi e Eren, então só poderia vê-los após a missão, se tudo desse certo.
- Nervosa? - perguntou Nick ao meu lado.
- Impossível não estar. Mas não estou com medo, e você? - respondi de volta.
- Medo? Não conheço essa palavra. Se o capitão Levi é o soldado mais forte da humanidade, certamente eu sou o mais corajoso de todos. - respondeu ele e em seguida fez uma pose. Não pude deixar de rir de suas brincadeiras.
- Todos já encheram o gás? - perguntou Reiner.
- Sim. - respondemos.
- Quando voltarmos, eu vou cozinhar para todos a minha sopa especial de peixe e legumes. Uma recompensa por voltarmos vivos da nossa primeira expedição. - disse Nick. Ele não costumava cozinhar bem, a única coisa que ele sabia fazer com maestria era sopa de peixe e legumes, que sua mãe havia lhe ensinado.
Ele sempre gostou de pescar, e queria muito aprender a cozinhar o peixe, e depois de muito insistir para sua mãe, mesmo não sendo bom na cozinha, ele dominou a arte de limpar o peixe, temperá-lo, cortar os legumes e misturar tudo.
Depois do acontecido em Shiganshina, ele nunca mais teve a oportunidade de fazer isso, pois lhe lembrava de sua mãe, que assim como a minha, não sobreviveu àquele terrível dia.
Algo curioso sobre Nick é que ele não é realmente filho de Olga e Patrick. Eles na verdade o adotaram quando ele tinha dois anos de idade.
Olga não podia ter filhos, e se lamentava muito por isso. Até que um dia sua irmã mais velha apareceu e disse que havia um menininho recém chegado em sua casa que havia perdido os pais em um acidente. Eles eram amigos dela, e tinham ido visitá-la em comemoração ao seu aniversário depois de muitos anos sem se verem. Mas infelizmente, o colcheiro que condizia a carruagem deles pela estrada acabou bebendo à noite e eles sofreram o acidente em uma região montanhosa. Nick por sorte estava dormindo enrolado em uma manta grossa e caiu em um arbusto. Apenas ele sobreviveu. Ele era muito novo e ela (irmã de Olga) temia que sofresse em algum orfanato, ou sofresse na mão de alguma família ruim. Ela conhecia sua irmã mais nova, e sabia que ela não conseguia ter filhos. Logo, isso seria um presente. Uma família amorosa e trabalhadora para uma criança indefesa.
Assim, Nick tornou-se filho de Olga e Patrick.
Ele sempre soube que não tinha laços sanguíneos com eles. Seus pais não quiseram esconder isso dele. Mas isso não mudava nada para Nick. Ele certamente amava muito sua família.
- Acho bom cumprir sua promessa. - falei para ele e dei-lhe um olhar suplicante.
Por favor, fique vivo.
Comandante Erwin deu o sinal, e assim nós saímos na 57ª Expedição para fora das Muralhas.
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Caos | Levi Ackerman
FanfictionA humanidade vivia em paz dentro das muralhas. Até que um dia, um misterioso titã aparece e destrói tudo em um piscar de olhos. As criaturas, que, para muitos, não passavam de lendas ou histórias de terror contadas a crianças, invadiram o lugar que...