Capítulo 13 - Lamentável

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Mesmo após algumas horas, as feridas estavam demorando para cicatrizar.

O odor nauseante de pele e carne queimadas perdurou por muito tempo me fazendo ter dores de cabeça horríveis. Não conseguia manter meus olhos abertos. Eu estava muito tonta e quase delirante. Porém, não desmaiei.

Imagens e sensações do acontecimento anterior invadiam minha mente trazendo à tona a dor incessante e latejante. Minha mente estava um breu. Bagunçada. Não via nada claramente, mas era como se um milhão de pessoas gritassem nos meus ouvidos.

Eu queria morrer.

Talvez nem tenha se passado tanto tempo, mas o terror e a dor foram intensos demais para serem categorizado ou medidos pela simples escala de tempo. Eu não conseguia lembrar de um momento bom sequer em toda a minha vida até agora.

Meu cérebro não permitia.

Tudo em que eu pensava era nesse sofrimento e no possível motivo para tudo isso.

O bem da humanidade?

Por que só agora?

Por que eu?

Isso tudo vale mesmo à pena?

Isso é o correto?

No entanto, mesmo que eu passasse o dia inteiro pensando, a resposta não chegaria até mim.
Não tenho como saber as reais intenções dessas pessoas.
Não posso confiar em ninguém.

De repente, algumas lembranças recentes me vieram à mente.

O capitão Levi me abraçando e confortando em meio a um momento tão complicado.
Suas palavras me acalmaram e aqueceram meu coração.

Me senti segura.

Mesmo em um mundo tão perverso e cruel.

Traiçoeiro eu diria também.

Seus braços me fizeram sentir confiança. Como se nada fosse acontecer comigo. Como se nada pudesse me atingir.
Apenas o conforto e a segurança de braços calorosos e palavras quentes.

Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto, logo sendo seguida por outras.

Talvez aquilo tudo tenha sido apenas um sonho ou uma ilusão.

Talvez eu nunca mais o veja de novo ou escute sua voz e sinta seu breve calor.

Quando menos pensei, o choro silencioso havia se transformando em estérico. Lágrimas não paravam de escorrer dos meus olhos e minha vista estava muito embaçada para sequer enxergar algo.

Meu coração doía.

Um nó se formou em minha garganta.

Apenas o som do meu choro podia ser ouvido.
A rouquidão doída da minha voz chorosa fazia tudo parecer ainda mais lamentável.

Fiquei assim durante bastante tempo.

Mesmo após alguns minutos, as lágrimas não paravam de escorrer, mesmo que em um ritmo lento e mórbido, elas escorriam contra a minha vontade pelo meu rosto agora menos ferido.

Talvez fosse por eu estar mais fraca que o outro dia, mas as feridas estavam demorando a se curar. Por um momento achei que não se curariam mais. Mas pude perceber a fumaça fina quase imperceptível que subia delas.

Eu estava ajoelhada e impotente. Quase totalmente sem forças e sem esperanças no chão gelado e grotesco de uma cela que eu nem sabia onde exatamente ficava.
Mesmo fugir daqui seria difícil.

Me soltar das grossas correntes parecia um trabalho impossível.
Pareciam ser feitas do mesmo metal usado para forjar nossas lâminas de matar titãs.
Monstros quase que indestrutíveis, exceto por um único ponto fraco na nuca.

Era isso o que eu era?

Um monstro?

Em toda a minha vida eu nunca fui humilhada ou mal-tratada. Minha família mesmo pobre, era rica em amor e carinho.
Minha mãe cuidava tão bem de mim e me ensinava coisas importantes como acreditar em si mesma e cuidar das pessoas ao seu redor.

Porém, eu não pude cuidar dela. Ou de meu pai.

Fui obrigada a assiti-los serem mortos bem na minha frente sem nem ter a chance de me despedir ou retribuir tudo o que eles me fizeram.

Desde esse dia eu jurei proteger as pessoas importantes que me sobraram.

Antes resumia-se apenas a Nick. Mas depois que eu entrei na academia, essa lista só aumentou.

Sasha
Connie
Jean
Armin
Mikasa
até Eren

Capitão Levi...

Há muitas pessoas importantes pra mim.

Mas eu não fui capaz de proteger nem a mim mesma.

Sou só uma inútil. Incapaz de cumprir uma promessa.

Jurei minha vida à humanidade, mas estou prestes a perdê-la sem nem ter ido na minha primeira expedição.

Hahahahaha

Tão ridículo.

Um sentimento de amargura preencheu todo o meu corpo e alma.
Senti um arrepio na espinha.

Após tanto cansaço acumulado, meus olhos pesaram, minha mente escureceu e o barulho cessou.

Finalmente apaguei.



Caos | Levi AckermanOnde histórias criam vida. Descubra agora