Capítulo 22 - Quem é o Verdadeiro Inimigo?

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A nossa missão, apesar de dificultosa, foi um sucesso. Nosso treinamento era chegar até à base da Tropa na floresta de árvores gigantes. Porém, ao chegarmos lá fomos surpreendidos com o que parecia ser mais um titã como Eren. A Titã Fêmea.

Por pouco quase Eren foi capturado, mas capitão Levi e Mikasa conseguiram salvá-lo. A titã, no entanto, escapou.
Tivemos algumas perdas, é claro. E devemos estar preparados para mais, pois o mundo que conhecíamos já mudou, e devemos estar prontos para encarar essas mudanças.

Chegamos ao quartel de madrugada, quase de manhã. Nick estava acordado, mas ainda fraco. Levamos-lhe para o seu quarto e chamamos um médico no caminho que veio examiná-lo. Por incrível que pareça, não ouve nada muito grave.
Não pude deixar de suspirar aliviada e dar-lhe um abraço um pouco desajeitado por causa do cansaço. Ele me abraçou de volta e me deu um sorriso fraco.

- A sopa vai ter que ficar para outro dia... - falou em voz baixa. Não pude deixar de sorrir.

- Seu bobo. Não me interessa a sopa, só melhore. - respondi e em seguida todos saímos do quarto para que ele pudesse descansar.

Do lado de fora, o sorriso desapareceu do meu rosto. O cansaço me atingiu em dobro e eu sentia cada parte do meu corpo doer. Encarei meu braço, agora regenerado e agradeci a todas as forças e deuses que eu conhecia por não ter ficado sem ele.

Seria meu fim.

Embora a habilidade de cura seja muito útil, é também muito perigosa. Dependendo da intensidade do ferimento, pelo que pude perceber, meu corpo pode chegar a apagar totalmente por um tempo, para se recuperar. Afinal, eu não sou um titã. Sou apenas uma pessoa com uma habilidade poderosa que talvez meu próprio corpo não aguente muito.
Um experimento mal sucedido.

Caminhei a passos lentos pelo castelo, subindo as escadas e alongando meus braços e pescoço. Fui direto para o meu quarto e liguei a torneira para encher a banheira.
Enquanto a água escorria preenchendo o fundo lentamente, fui me despindo.

Quando estava já completamente livre das roupas, soltei meu cabelo e entrei na banheira. Esperei quieta e de olhos fechados que a água chegasse até o nível desejado e, enquanto isso, lembranças de mais cedo invadiam minha mente e me pertubavam. Martelavam incessantemente.

- Quem você acha que é o verdadeiro inimigo? - perguntou-me Comandante Erwin mais cedo, enquanto estávamos ainda cavalgando em direção à floresta. Eu fiquei um pouco confusa na hora, mas agora isso não me saía da mente.

Quem é o verdadeiro inimigo?

Até onde sabemos, qualquer um pode ser o portador dos titãs Colossal, Blindado e da Titã Fêmea, que agora descobrimos a existência.

- Quem... - acabei sussurrando para mim mesma e logo em seguida fui surpreendida com o som de batidas na porta. - Ahrg! - bufei.

Saí da banheira e me enrolei na toalha. Caminhei até a porta, mas não a abri.

- Quem é? - perguntei.

- Ah, é o Armin! O capitão nos disse para preparar um relatório e entregá-lo até o meio-dia. Ele vai se reunir com o Comandante Erwin e Pixis sobre o último ocorrido.

- Tudo bem. Obrigada, Armin. - disse e voltei para a banheira.

Suspirei novamente. Desejava que todo o cansaço do meu corpo fosse drenado pela água. Peguei uma esponja e sabonete e comecei a passá-la pelo meu corpo. Pacientemente, até ficar completamente limpa.

Depois peguei o shampoo de mel que o capitão Levi me deu e depositei um pouco na minha mão, para ir espalhando pelo couro cabeludo em seguida.

Aquele aroma doce invadiu minhas narinas e me fez sorrir. Trazia consigo além de boas lembranças, a sensação de paz e calmaria.
Tentei pensar em coisas boas. Memórias de tardes felizes em que eu e meu pai tomávamos chá e olhávamos o lago.

Outras em que Nick pescava e eu mergulhava para atrapalhá-lo e espantar os peixes.
Apesar do meu esforço, por mais que demorasse ele sempre pegava um.

E assim éramos felizes.

De olhos ainda fechados, minha mente se encaminhou para acontecimentos mais recentes.

Lembrei-me de nosso banho no rio depois de passarmos a noite carregando baldes de água. Os jantares e almoços animados.

Lembrei-me de como capitão Levi me ajudou na minha crise. Suas mãos um pouco trêmulas e desajeitadas me acariciaram.
Lembrei de quando ele me presenteou com esses cosméticos. Ele parecia um pouco tímido e nervoso.
E por fim, lembrei-me da noite antes da nossa expedição, quando ele me fez aquele pedido que mais pareceu uma declaração.
Seus dedos que tocaram suavemente minha orelha ao afastar a mecha de cabelo e me fizeram arrepiar. Seu olhar suplicante. Palavras presas na garganta que não foram ditas.

O que elas me diriam?

Quando percebi, estava corada novamente e com coração acelerado.

Terminei o banho e me vesti. Joguei-me na cama e resolvi dormir um pouco antes de fazer o relatório.

Porém, borboletas em meu estômago e corações palpitantes me mantiveram acordada.

Senti meu corpo quente. Minha boca ficara seca. Não parecia doença.
E em meio a tudo isso, o rosto de Levi Ackerman não saía da minha mente.

Eu queria algo. Necessitava de algo.

Mas o quê?

Era como se meu corpo estivesse sedento.

Ah! Lembrei-me de uma conversa que tive com minha mãe logo que entrei na adolescência. Ela comentara sobre alguns desejos que as pessoas começavam a sentir nessa idade. Sobre querer namorar e se relacionar com alguém.

Mas que porra. Pensei.

Passei todos esses anos sem sentir nada do tipo. Nunca namorei e nem tive tempo para isso após a queda da muralha. Sempre vi todos ao meu redor como amigos ou companheiros simplesmente.

- Droga! - sentei-me na cama.

O rosto corado, coração acelerado e a mente a mil.

Estava em grande conflito comigo mesma.

Não acredito que estou pensando em algo assim tendo em vista o momento que estamos vivendo.

Eu sou tão idiota.

Caos | Levi AckermanOnde histórias criam vida. Descubra agora