Capítulo Dois

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José Ferreira

Antes que eu possa dar meia-volta, Daniela me empurra em direção a sua mãe que se levanta. Sorri na minha direção.

― Quanto tempo, José. Por onde andou?

― Eu... ― limpo minha garganta, ignoro os olhares de Roberto, seu pai e de Pietro Scafidi mais além enquanto converso com a dona da casa. ― Estudando. Muito, muito mesmo.

― Ah que ótimo. Não sei se conhece, mas... ― ela indica o grego sentado no sofá. ― Roberto trouxe um amigo para o jantar também. Pietro Scafidi, conhece?

Estreito meus olhos.

― Tem como não conhecer, mamãe? ― pergunta Roberto, risonho.

― Estava com sede, não é mesmo? ― Dani pega no meu braço e me puxa para fora da sala enquanto a sua mãe fala das bebidas que estão na mesinha de centro na sala. ― Me desculpa, me desculpa... nem eu sabia que ele viria.

― Não precisa pedir desculpas, Dani. ― digo. ― Não tem nada de mais. Somos adultos no fim das contas e temos que ter uma certa classe com o inimigo quando necessário.

Ela sorri, balançando a cabeça concordando comigo.

― Ele é bem mais simpático do que eu tinha pensado. ― Dani confidencia enquanto caminhamos em direção a cozinha. ― Nunca tinha conversado a sós com ele e... ele não parece ser o monstro por trás de todas as atitudes da Scafidi S/A.

Olho de relance para a minha melhor amiga.

― O que é isso? ― pergunto. ― Uma soldada ferida? Não se deixe abater pelo charme do diabo não, dona Daniela. Está me ouvindo?

Ela murmura alguma coisa concordando comigo.

A cozinha está agitada, e tendo não bater contra alguma das funcionárias da casa dos Figueiredo. Quando voltamos para a sala, eles estão todos sentados novamente, rindo de alguma coisa que o pai de Dani está contando.

Me sento ao lado da minha melhor amiga.

Observo a gravata vermelha de Pietro, eu, particularmente, preferia a azul que ele segurava no circuito horas antes. Desvio meu olhar, talvez eu já esteja pirando e é melhor parar com essa paranoia enquanto ainda é tempo.

Não quero nem pensar em ver os meus pais abrindo a porta de casa para a Polícia Federal que vai confiscar as minhas coisas e eu acabar sendo levado por um camburão.

Atuo muito bem nesse momento de socialização, rio quando todos riem, assinto quando se dirijam a fala ou o olhar na minha direção e molho os meus lábios com uma cerveja portuguesa que o Sr. Figueiredo importou ― e ostenta em falar esse fato a cada minuto.

Se eu me misturar e me distrair bem, essa noite vai se passar muito mais rápido do que eu temo.

* * *

Pietro Scafidi

Não sei identificar de onde ele é, mas sei que seu rosto é conhecido.

Assim que o amigo de Daniela Figueiredo entrou na sala, eu soube que o conhecia de algum lugar ― e enquanto a conversa avançava, metade dos meus neurônios processavam essa intuição. De onde o reconheço?

Olho para a irmã de Roberto e já me sinto extremamente culpado com o que seu irmão vem planejando. Não está nítido, mas será que ela sabe do que ele está aprontando? Dessa ideia ridícula de acordo envolvendo um matrimônio?

― Você parece pensativo demais, Pietro.

Pisco e vejo Roberto parado na minha frente.

― Eu estava pensando e algumas reuniões, apenas isso. ― respondo e olho ao redor, vendo que no meu lapso de pensamentos só sobrou nós dois na sala.

PIETRO - Os Irmãos Scafidi #6 | EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora