Capítulo Seis

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"Nunca nos libertaremos
Cordeiro para o abate
O que vai fazer
Quando houver sangue na água"
BLOOD // WATER | Grandson

José Ferreira

O ônibus não faz o caminho para a minha casa, me leva até a Avenida Paulista.

Durante todo o trajeto penso no olhar de Dani e isso que me motiva a vir até aqui. O jeito que ela parecia magoada e... meu celular vibra na minha mão, assim que o viro, não podia ter hora melhor para receber uma mensagem de Pietro Scafidi.

"Oi, Pietro aqui, só mandando essa mensagem para dizer que a noite de ontem foi legal, podemos marcar uma próxima vez. Adoraria te ver numa sessão de terror haha"

Começo a digitar várias respostas... ele não pode ser inocente no plano de Roberto, ele deve saber de alguma coisa. Então meus dedos tremem quando mando uma mensagem que, possivelmente, eu possa me arrepender depois.

"Vá a merda você e toda a sua manipulação!"

Evitando algum outro problema, o bloqueio. Bloqueio porque não sou corajoso o suficiente para ver sua resposta, para saber se ele sabe do que eu estou falando, se ele realmente tem noção da gravidade que é toda essa história...

O ônibus breca e salto para fora. Enfio o celular no bolso, dois prédios a esquerda e vejo o prédio alto que ostenta a Scafidi S/A. Zica me informou que Roberto Figueiredo estaria aqui e cá estou eu. Caminho em passos largos, desvio de uma moça que me oferece iPhone desbloqueado e subo correndo a escadaria do prédio de aço e vidro.

A recepção está vazia... um ambiente suntuoso e grande, percebo então que eu nunca entrei nesse prédio, o máximo foi vir até a entrada com Dani ou com a ONG. Tento não olhar para o segurança perto do elevador que murmura alguma coisa no rádio enquanto seus olhos estão em mim. Não quero pensar nos motivos evidentes da perseguição quando me encosto no balcão.

— Bom dia...

A moça ergue o olhar na minha direção.

— A entrada dos zeladores é pelos fundos. — ela mal sustenta o olhar na minha direção.

— Eu não sou zelador.

Ela para de digitar e ergue o olhar.

— É currículo? Só aceitamos pelo site.

— Tampouco isso.

Ela suspira e permanece com o olhar em mim dessa vez.

— E o que seria?

— Vim conversar com Roberto Figueiredo.

Ela me olha de cima abaixo.

— O Sr. Figueiredo está com a agenda lotada. Ele fica na empresa só até o meio-dia. — ela volta a digitar.

— É importante...

— Rapaz, não quero ser grossa, mas a empresa está uma muvuca hoje, se eu fosse você voltava outra hora ou... — ela dá de ombros. — Desistia.

Flexiono meu maxilar e tiro o celular do meu bolso. Dani não tem o número do irmão salvo e vive me mandando prints das asneiras que ele fala. Afasto dois passos do balcão e procuro em nossa mídia uma dessas capturas de tela. Bingo! Memorizo o início e o final do número e ligo.

Alô?

— Roberto?

José?

— Sim, eu mesmo. — olho de relance para a atendente. — Preciso falar uma coisa urgente com você, sobre a Dani. Consegue liberar a minha subida?

PIETRO - Os Irmãos Scafidi #6 | EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora