Capítulo Quatro

786 131 31
                                    

"Agora você não tem ninguém em quem pode confiar
Acha que é errado injustiçar sua alma
Apontar seu dedo e negar"
YOU CAN RUN | Adam  Jones

José Ferreira

Acho que eu não deveria ter aceitado no fim o convite para o cinema, mas com as caras que Dani fez... ela parecia pedir socorro em todas as três línguas que sabe falar, então talvez seja por isso que cedi a todas as vontades que ela jogou na minha direção, como: ir direto da faculdade para a sua casa e passarmos a tarde revendo seus episódios favoritos de Gilmore Girls e uma vasilha com pipoca de chocolate entre nós dois.

Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Guilherme, desde a "invasão" no apartamento de Pietro, estou com a minha consciência pesada, acho que acabei me perdendo sozinho no que eu queria fazer — o qual nem lembro mais direito a razão para bancar um YOU com ele.

"Gui, pfvr, cancela o que eu te pedi. Como faz?"

— Ah não, Zé. — Dani toma o celular da minha mão. — A tarde é para ser só nossa... quem é o bonitinho que tá roubando o meu amigo de mim?

— Dani...

Ela espia a tela do celular, não tem nada de comprometedor.

— O que você tá pedindo para o primo do Gustavo? — ela me devolve o celular. — Esse menino é um porre, se lembra de toda a confusão que ele e a gangue dele causou na manifestação no Zélia? Você foi preso pelas babaquices dele.

— Eu sei, não quero nada com Gustavo mais não, ele morreu para mim. — e é verdade, Gustavo Teixeira morreu para mim desde a noite que me deixou sozinho pagando a fortuna que foi aquele motel. Teria dado um desconto se tivesse me comido direito. — E, antes que pense alguma coisa, o Guilherme não faz o meu tipo.

Hum, sei. — ela estreita o olhar na minha direção. — Você é sempre aleatório com os carinhas que fica, José, nunca consigo criar um padrão...

— Eu gosto de homem. — nós dois nos encaramos por alguns segundos antes de cairmos numa risada e esquecermos do episódio na televisão.

— Nossa menino, a hora voou e a gente nem se tocou, o filme é às oito. — Daniela se levanta do chão e olho a tela do meu celular. 19:17. — Insisti para que Pietro não viesse nos buscar, não tô entendo porque Roberto tá sendo mediador dessa coisa aleatória. — ela passa a mão pela boca, limpando o chocolate no canto dos lábios. — Tipo... tem coisa mais aleatória? Sério mesmo. Eu tô perdida.

— Bom... seu irmão já é um pouco aleatório. — dou de ombros. — Acho natural ele arrumar amigos aleatórios também. — sorrio.

Mais alguns segundos de papo e Daniela foge para o banheiro. Pego minhas coisas e caminho para o quarto de hóspedes ao lado, para aproveitar o banheiro e não perdermos tempo, puxo meu celular e vejo uma mensagem de Guilherme.

"Só me autorizar pelo AnyDesk que tiro tudo"

Tiro o notebook que levei para a faculdade e baixo o programa levinho que ele pediu e mando o código. Não demora para ele acessar meu computador e o mouse começar a passar sozinho pela tela. Espero que Guilherme Teixeira não me hackeie.

Pego a toalha e entro no banheiro. Tomo um banho rápido num puta chuveiro enorme. Quando saio, Guilherme já desinstalou o programa espião e tudo que me ligava a minha personalidade de stalker. Agradeço ele, e acho que nossos favores acabaram.

Coloco uma roupa básica, calça jeans, camiseta de manga longa cinza (puxo as mangas até a altura dos cotovelos), coloco um colar no pescoço (imita um cadeado, estou numa fase bem e-boy) e penteio meu cabelo para trás, desfazendo meus cachos. Sorrio para meu reflexo e termino tudo calçando meu Vans encardido.

PIETRO - Os Irmãos Scafidi #6 | EM ANDAMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora