Capítulo 26

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    Tínhamos apenas dois dias

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    Tínhamos apenas dois dias. Dois dias para passarmos o maior tempo possível juntos, para tentar compensar os dias que não vimos, para tentar finalizar a lista de lugares para visitar e a lista de coisas para fazer que não tem no Texas. Mas na verdade não fizemos um esforço tão grande para os dois últimos acontecerem, mesmo sem falar concordávamos que apenas a companhia um do outro bastava.

Desde que Kyle me contou que voltaria para casa não tocamos muito nesse assunto. Tentamos seguir os dias da mesma maneira, conversando sobre coisas banais ou do nosso passado, ignorando o máximo que podíamos o elefante na sala. Chegava a ser engraçado às vezes. Kyle se empolgava quando falava da faculdade, de como estava animado para começar a estudar ciências sociais - que eu nunca tinha parado para pensar, mas combinava tanto com ele -, até que ficávamos alguns segundos calados quando nos atingia que para isso ele teria que ir embora. Apesar do ar tenso que pesava logo depois, eu sorria e pedia para Kyle continuar falando, porque eu amava vê-lo se empolgar com algo que gostava.

Na verdade, amo muitas coisas em Kyle. Amo quando seus olhos brilham sempre que ele me vê. Amo ver a pequena indecisão em seu rosto quando estamos em público e ele parece estar meio inseguro em me beijar na frente de outras pessoas, mas logo depois parece pensar "ah, quer saber? Que se dane!" e me puxa como se voltássemos para a noite do nosso primeiro beijo. Amo tanto vê-lo sorrir por qualquer que seja o motivo que chega a doer lá no fundo do meu peito. E amo como, mesmo que nunca tivéssemos falado de amor, não soava estranho quando nos chamávamos assim.

Nessa mesma noite voltamos para aquela estrada, no alto da colina que nos presenteava com uma das vistas mais bonitas da cidade, no lugar onde eu nunca esqueceria daquele beijo. Quando Kyle pareceu combinar com as estrelas para elas brilharem mais, com o clima para que ficasse um pouco mais frio e nos obrigasse a dormirmos agarrados, e combinou com o meu coração para nunca esquecê-lo. Dessa vez apenas nos sentamos no capô do carro, com as minhas pernas entre as suas e minha cabeça escorada em seu peito, e ficamos em silêncio por um tempo. Kyle o cortou primeiro.

— Aquele foi o primeiro encontro que fiz na vida. Antes de te ver eu estava tão nervoso que achei que fosse vomitar.

— Não brinca? — perguntei me virando um pouco para trás, com uma surpresa genuína na voz. Ele assentiu com a cabeça, se entregando numa risada baixa. — Você parecia tão tranquilo. Quer dizer, tirando o letreiro luminoso que brilhava no seu rosto dizendo: "eu preciso beijar essa garota!"

Kyle gargalhou, e desejei poder gravar aquele som para sentir sempre o calor que me preenchia toda vez que o ouvia.

— Ah, vai dizer que também não estava louca para me beijar? — antes que eu pudesse responder senti seu corpo se inclinar no meu, e no segundo seguinte eu deixei um suspiro escapar com seus lábios em meu pescoço. — Podia jurar que se eu não te beijasse da próxima vez que nos víssemos você iria me bater.

Foi minha vez de gargalhar antes de voltar a encostar a cabeça em seu peito.

— Você é um idiota. — ele apenas riu, talvez concordando, e entrelaçou sua mão na minha. — Mas eu ainda te amo.

Saiu de uma forma tão natural que só me dei conta do que tinha falado quando senti seus dedos ficarem tensos sob os meus. Era a primeira vez que falava, pelo menos em em voz alta, mesmo que aquele sentimento já fosse tão comum para mim. Mas ainda assim soltei o ar que nem sabia que estava segurando, e sorri mesmo que ele não pudesse ver quando o ouvi sussurrar de volta.

— Eu também te amo.

Foi a primeira vez que falávamos em voz alta, a primeira e única vez.

    Na manhã seguinte eu o ajudei a arrumar sua mala, o que na verdade era apenas uma desculpa para ficarmos mais tempo juntos já que consistia em apenas uma mochila com algumas roupas e sua câmera

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Na manhã seguinte eu o ajudei a arrumar sua mala, o que na verdade era apenas uma desculpa para ficarmos mais tempo juntos já que consistia em apenas uma mochila com algumas roupas e sua câmera. Sorri ao lembrar do nosso primeiro-primeiro encontro, quando ele tirou uma foto minha sem que eu percebesse no píer, e sorri ainda mais ao ver que a foto ficava em sua cômoda, bem ao lado da cama. Ele a guardou junto com outras que tiramos nos últimos meses dentro de um caderno, e o enrolou em algumas camisas como se fosse algo frágil. Ou talvez precioso demais.

À tarde não ficamos sozinhos, Sara nos chamou para almoçar na casa dela. Claro que Cassidy e Michael também estavam lá, e consegui perceber que os três lutavam contra a vontade de nos deixar sozinhos e ao mesmo tempo de falar o máximo que podiam com Kyle. E eu não podia julgá-los, se pudesse atrasaria o dia o quanto pudesse, só para que ele não precisasse ir logo.

Quando a noite caiu cada um foi para sua respectiva casa e eu tentei me convencer de que estava tudo bem. De que os últimos dias tinham sido ótimos, perfeitos, e que meu coração estava em paz. Tentei me convencer que estava tranquila mesmo sabendo que em menos de vinte e quatro horas meu namorado iria embora e não íamos mais nos ver, que o sonho de verão tinha chegado ao fim e eu teria que dizer adeus. Tentei, de verdade, mas assim que deitei a cabeça no travesseiro, comecei a chorar. E não parei tão cedo.

A expressão "amar tanto que dói" nunca fez tanto sentido.

90 Dias Com EleOnde histórias criam vida. Descubra agora