And I'm like, "oh my, oh my, oh my Oh my God"

5.6K 273 42
                                    

Quinta feira, durante todos os anos que leciono a língua inglesa em diversos colégios, tem sido só mais um dia semanal.

Minhas alunas, tem sido apenas alunas e os colégios, apenas meus trabalhos e fonte de uma renda extra.

E era assim que eu pretendia que fosse, pra sempre. Eu pretendia tanta coisa antes de Camila aparecer..

Eu entrei em meu carro, tentando restaurar cada pedaço da minha postura rígida. Meus cabelos pretos estavam apenas soltos, e eu podia jurar que eu estava em um daqueles dias que meus olhos se tornam cinzas. Minhas mãos já estavam no volante e eu já sentia o nervoso invadir meu corpo. Era incrível que só por saber que eu veria Camila eu ficasse nesse estado.

Comecei a dirigir rumo ao colégio, que não ficava tão longe do meu prédio, estacionando em uma vaga na calçada. Antes de poder sequer adentrar o local fui parada por três mulheres. Carla, Caitlyn e Debby, que de fato falavam sobre o ensino do sistema. Só coisas interessantes.

Eu prestei atenção em cada palavra dita até eu perceber o corpo encolhido que vinha na nossa direção.

Com a cabeça baixa Camila andava cegamente, impedindo-nos de ter a visão do seu rosto. Pelo clima matinal o short jeans e a blusa do uniforme que cobriam seu corpo pareciam deixa-la desprotegida e com frio. Minha vontade era tirar meu casaco e joga-lo pelos seus ombros encolhidos.

Ela chegou a nossa frente e quando abriu os braços eu pude jurar que era pra me abraçar. Mas não era, bem, ela desviou do meu encontro achando Caitlyn, que era a professora de álgebra, em um aperto rápido, antes de correr pra dentro. Ela parecia uma criança com as orelinhas ornamentais sobre seus fios agora lisos.

Não desfoquei em momento algum meu olhar da conversa e apenas continuei ouvindo, apesar de pensar sobre Camila. Não me contendo, me movi três passos além do portão, de uma forma que se eu olhasse de canto de olho poderia ter uma boa visão de onde provavelmente Camila estaria sentada.

O clima frio de Miami atingia todos nós, nos deixando numa penumbra e eu apesar de estar com minha habitual jaqueta de couro sentia um leve tremor. Espiei, uma duas e mais várias vezes Camila encolhida em sua bolha, seus fones pretos nos seus ouvidos enquanto ela esperava o sinal tocar e as aulas terem início.

Quando Dinah e Normani chegaram a mais nova me lançou um olhar que dançava misericórdia. Eu entendia o seu lado, mas apenas ignorei, captando o momento que as duas levaram Camila, que agora vestia um suéter, pro andar das salas.

Eu andei com Caitlyn tagarelando ao meu lado até estarmos na sala dos professores, e então subi indo para o terceiro ano.

Ao entrar na sala quase agradeci por Debby não ter ligado o ar hoje. Os olhares foram todos direcionados a mim enquanto eu não dizia ao menos um bom dia e escrevia no quadro negro.

Quando enfim terminei sentei em minha cadeira, relaxando antes de escutar uma voz petulante perto demais.

"Quer chiclete professora?" o asco em meu estômago cresceu.

"Não Wes, Obrigada" eu disse, fria, vendo o ser petulante se afastar de mim.

No meio dos alunos eu podia destinguir os verdes de Asher Keating e os castanhos de Dinah Jane. Os brilhantes verdes de Wes também estavam ali, meio aos adolescentes cheios de hormônios que copiavam a matéria sem muito interesse. Apesar de eu não aplicar português nessa turma, ingles e literatura inglesa eram ótimas formas de tortura. Batidas foram audíveis na porta e eu liberei quem quer que fosse para entrar.

Carla se fez presente pedindo por um remédio pra uma aluna e sorrindo alegremente quando eu disse que tinha e a entreguei a cápsula. Sem muito interesse, apenas curiosidade, perguntei pra qual aluna era o medicamento. E sua resposta martelou na minha mente sendo o único nome que eu não queria escutar.

"Camila Cabello."

Se olhar matasse, eu estaria morta pelos que Dinah me lançava. Suspirei, depois de Carla deixar o ambiente e esperava o sinal. Agradeci a deus quando finalmente tocou e deixei a sala antes de todos os alunos. Intervalo pra eles, intervalo pra mim.

Voltei a sala dos professores, minha mente pensando no porque Camila tinha dores.

Por sua causa, anta, meu subconsciente me lembrava. Sentei no sofá enquanto esperava os dois tempos mais caóticos se aproximarem e quando finalmente eles chegarem desfarcei calma ao meu caminhar até o meu destino.

Camila estava no fundo da sala e eu nem olhei pros alunos, mais uma vez, antes de copiar um texto grande no quadro. Era o segundo ano e era bom treinar análise sintática, ainda que eles vissem isso desde o fundamental.

Quando finalmente terminei sentei-me, esperando todos também terminarem.

Não dei muito tempo e me pus de pé. Os olhos de Camila nem ao menos provaram da minha imagem enquanto os de Normani tentavam inutilmente me ler.

Uma breve explicação do que fazer e meus pés me guiaram até Camila.

Quando eu a perguntei se havia entendido a matéria, sua voz com leve gaguejar poderia ter me desmontado. Permaneci firme quando lhe lancei um desafio. "Vou te dar um exemplo, você me diz se está certo" ela acenou e eu continuei "Sua paixão é tão má, que me faz bem"

Talvez eu tenha passado um pouco do limite, apesar de só perceber quando o corpo inerte de Camila caiu sobre a cadeira, desmaiado.

O peguei em meus braços e naquele momento pude constatar que aqueles braços foram feitos para a segurar. Enquanto seguia até a sala da diretoria, ou secretária, podia ouvir minha própria batida de coração. Fala sério, por a atender depois de um desmaio ele batia como uma marreta.

Suspirei enquanto a colocava na cadeira e seguia o olhar assustado de Carla até nos. A mulher molhou as mãos, passando-as no rosto de Camila e em dez minutos a menina acordou, já solicitando que fosse embora.

Carla, sem pensar, pediu que eu levasse a menina, se despendindo de nos e com isso me liberando de mais torturantes tempos. E eu o fiz. Acompanhei Camila que prestava atenção na música que saia de seus fones e entramos no carro, até que eu percebi que não sabia o caminho. Lentamente chamei seu nome tendo sua atenção para mim, me guiando por Miami até que estacionei em sua casa e sem nem olhar pra trás ela desceu do carro se apertando contra o suéter que Dinah ou Normani levará pra si. Cantei pneu, chegando em casa e deixando o raiban na mesa, de um modo que minhas olheiras, frutos de várias noites mal dormidas, fossem expostas pra mim mesma. Deitei na cama e não senti nada além de sono.

Peguei meu livro, tentando ler enquanto o sono se apoderava mais e mais do meu corpo. Adormeci.

Quando acordei ainda era cedo, uma sexta feira mais fria que o dia anterior. Meu celular apitava na cabeceira e não parecia ser pelo alarme que eu havia desconfigurado. Quando peguei o aparelho em minhas mãos pude ter uma visão completa de todo texto de Camila. Li uma vez, depois mais uma e mais algumas, até perceber que era uma música.

Você já se sentiu como se pudesse ceder a cada segundo? Foi assim que eu me senti quando finalmente terminei a mensagem de minha aluna. Deitei novamente, pressionando minhas pálpebras. Eu não tinha vontade de sair da cama, e de fato, não o fiz. Eu só faltei o trabalho, sem nem ter noção de que se eu fosse, hoje, muita coisa mudaria.

Demon teacher (SOB EDIÇÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora