Trigésimo Oitavo Capitulo

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Eu havia me tornado um monstro. Estava irreconhecível, era uma nova eu, uma eu que nem eu mesma conhecia. Tudo me irritava, e eu tinha vontade de estourar a cabeça de todo mundo quando as coisas não aconteciam como eu havia planejado.

Joe saiu bufando da nova enfermaria. Parecia que ele estava prestes a vomitar.

- Joe? Você esta bem? - perguntei me levantando.

Ele fez sinal para que eu ficasse longe, e logo despejou um enorme jato de vômito no chão, e em suas botas. Virei o rosto, meu estômago também não é dos mais fortes. Ele limpou a boca e se virou pra mim.

- Aquela ferida, esta horrível agora - ele apontou para a enorme porta de madeira clara da enfermaria. - Não entre lá.

- Quem está lá? - perguntou Richard.

- Olha só quem decidiu aparecer.

Revirei os olhos. Não sei bem o porquê, mas desde o massacre - como chamamos o dia em que todos nós fomos assassinados - Joe tem uma cisma com Richard. Eles parecem estar se enfrentando o tempo todo.

- Austin, encontramos ele ontem quando saímos para caçar - respondi a Richard enquanto o puxava pela mão para que se posse de pé. - Tivemos alguns encontros desagradáveis - complete me lembrando da cobra, dos pássaros e dos supostos lobos que nos atacaram.

- E como ele está? - perguntou Richard limpando as mãos na calça escura.

Apertei os olhos me lembrando do osso exposto em sua perna.

- Ele esta bem agora, acho - respondi olhando para a porta à minha frente.

Então ouvimos um grito, era ele novamente.

- Talvez não.

E outro grito. Então mais um, que acho ser o último.

- Acho melhor sairmos daqui - murmurou Richard.

- Concordo - respondi dando as costas.

Saímos do corredor de pedras onde estávamos, e logo chegamos a maldita ponte de pedras que leva aos dormitórios, antigamente super prisão de Claus, ainda não me acostumei com isso. Joe parece ter pavor daquele lugar, pra ele é preferível dormir sentado do lado de fora, ele também não confia em Claus. Ninguém confia.

As pedras de que a ponte era feita, estavam sempre úmidas, e haviam homens caindo o tempo todo. Não havia chão la em baixo, não até a onde a minha vista alcançava. Chutei uma pequena pedra e esperei para ouvir o baque de quando ela se chocasse com o chão, mas esse som nunca veio.

- Qual sera a profundidade que tem isso? - perguntou Joe.

- Eu é que não quero descobrir - respondi e voltei a caminhar.

Quando finalmente chegamos ao outro lado, tivemos o azar de darmos de cara justamente com Silvermaan, o comandante do exército de Claus. Silvermaan é um Cheran, e gosta de assustar as pessoas. Sua pele é acinzentada como a maioria dos Airnstens, seus poucos fios de cabelo são brancos e seus olhos são imensamente negros, parecia não haver vida alguma neles.

- Drucker! - sua voz era grave e forte, e por mais que ele tentasse soar suavemente, ele ainda conseguia me assustar. - Exatamente quem eu estava procurando. Owsean, Foster, vocês também. Venham comigo.

- Pode explicar o que quer? - perguntei começando a andar, ou correr.

- Claus quer falar com vocês. Principalmente com você - sua voz era forte, e ecoava na paredes de pedra, repetidamente. Você, você, você, você.

- E o que ele quer desta vez?

- Eu não sei - ele deu de ombros e seguiu o caminho ate a sala onde Claus provavelmente nos aguardava.

Aquela parte da montanha era mais abafada, pois não havia muito espaço e nem janelas, obviamente. O suor começava a escorrer por minhas costas quando atravessamos uma enorme porta em forma de ovo. Do lado de dentro, encontramos Claus conversando com alguns de seus homens. Dentro, o ar estava mais abafado ainda, parecia que o ar havia estagnado quando entramos, depois ele voltou a circular.

- Sim, preciso que prepare-os para daqui dois dias. Precisaremos de agua e comida também.

- Sim senhor, iremos deixar tudo preparado para a viagem.

Claus assentiu e todos os seus homens se retiraram.

- Esta pensando em viajar Claus? Para onde vai? Fugir e se esconder em algum buraco como o covarde do seu irmão? - Me sentei em uma cadeira velha.

Ele sorriu e bufou.

- Desde quando você é tao gentil em falar com alguém?

Ele juntou as palmas das mãos.

- E desde quando você é tao intrometida?

Eu queria explodir a cabeca dele.

Richard se aproximou e apertou meu ombro, depois encarou Claus, demonstrando todo seu ódio e repulsa por ele.

- Disseram que queria conversar conosco. Estamos aqui, vá direto ao ponto.

Claus continuou o encarando, como se desejasse que ele ainda estivesse morto.

- Tudo bem. Daqui a dois dias iremos sair em busca do Elixir, e do meu irmão. Ele foi visto por um de meus homens perto dos portões que ligam esse mundo ao outro mundo, a Terra, mas ainda não temos certeza de que ele esteja la, minhas duvidas são de que Travor esteja mais perto do que imaginamos.

- Iremos sair assim? Sera uma busca em vão, você não faz ideia das coisas que tem la fora, eu sim.

- Nao, não, primeiramente iremos encontrar alguém. Alguem que pode nos dizer exatamente onde Travor esta. Quero que se preparem, partiremos depois de amanhã.

- Você vai matar todo mundo, sabia? - disse Joe.

- Sua amiga pode nos proteger por algum tempo, não pode? Eu sei o que ela é capaz de fazer. Eu vê ela salvando sua pele daqueles cães.

- Como você viu? - perguntou Joe novamente. - Estávamos apenas eu, ela e o Austin la fora naquela noite.

- Sim, o Austin, outro que pode nos ajudar...

- Nao, ele não pode - o cortei.

- Interessante, não quer que ele se arrisque Lara?

- Exatamente. Agora explique, como você viu o domo?

- Antigamente, antes do fim da maldição, eu só conseguia me progetar na cabeca de alguem com a ajuda de seu pai, agora posso fazer isso sozinho e com o que eu quiser, inclusive com uma pequena cobra.

Richard bateu as maos sobre a mesa e disse:

- Se entrar na minha cabeça novamente, eu te mato antes de você conseguir sair dela!

Ele se referia ao dia em que Claus o fez se voltar e atacar Amy no Palácio.

- Ah, irei fazer uma lista das pessoas que querem me matar e depois entrego a voces, para saberem em que colocação estão. Talvez ate haja um massacre entre vocês mesmos, e o sobrevivente ganha a minha cabeça - ele disse em um tom debochado.

- Talvez a gente te pique ao meio primeiro, assim cada um ganha uma parte, o que acha da idéia? - perguntei me levantando e saindo, logo atras de Richard e Joe.

- Sua amiga encontrou alguem que não deveria ser encontrado nos dois mundos. A Morte o esta procurando a tanto tempo...

Parei onde estava. Richard e Joe já haviam saido.

- Quem ele é? - minha voz saiu falhando, mas dava para se notar o ódio.

- Alguém que você nunca imaginou existir. Alguém que você nunca imaginou encontrar.

- Quem?!

Ele sorriu e também se levantou, olhou fundo em meus olhos e sussurrou:

- O filho da Morte.




A Maldição da Lua.Onde histórias criam vida. Descubra agora