Quarto capítulo

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   Me recompus enquanto Amélia parecia processar o que havia acabado de acontecer. Estávamos no lado de fora dos enormes portões vermelhos do palácio. Eu continuava enjoado. Devo admitir que achei uma certa graça ao ver que ela ainda tinha esperanças de isso tudo ser apenas uma pegadinha.

—Tá legal, já podem parar — sua voz falhava antes mesmo de serem ditas.

— Não é pegadinha, garota.

Começamos a caminhar, indo em direção ao palácio enquanto Amélia me perguntava onde estávamos. Abri o portão assim que chegamos. Tive de puxá-la comigo quando ela se negou a entrar por vontade própria.

— O que você quer comigo? — Ela gritou e esperou pela resposta. Não a teve. — Porque me trouxe aqui? — Parecia que ela iria chorar.

— Cala a boca! — Fechei o portão.

A voz dela me irritava, igual o choro de uma criança. Ela abaixou a cabeça e começou a me seguir. Na verdade eu meio que a estava carregando pelo braço. Todos os habitantes de Cher Airns sabia quem era ela. Ela era algum tipo de deus para eles, todos queriam tocá-la. Tive de gritar mandando-os se afastarem. Se eu às vezes fico assustado com eles, imagina como Amélia deve estar?

Levei-a até a sala dos chefes. Eu nunca fui com a cara de Klaus, ao contrário de seu irmão Trevor, Claus era realmente de botar medo.

— Não cometi nenhum erro!

Estávamos na sala dos chefões e Cláus insistia em dizer que eu havia cometido um erro, pegado a Amélia errado. Depois das mil perguntas sem respostas que ela me fez, acredito que realmente errei. Isso era tudo o que eu sabia, a maldição era o único motivo de ela ter sido levada aquele lugar assim como eu e vários outros humanos.

— Como assim, que maldição? Do que você está falando? — Ela diz falhando a voz.

Acho que ela não desistirá de perguntar se eu não responder.

— Há muitos anos atrás, os humanos foram atingidos por essa maldição. Mas porém, como posso dizer? Ela foi extinta por um tempo. E agora retornou em você — digo parando de caminhar.

Volto a caminhar, ela me faz mais um monte de perguntas, mas eu sabia tanto quanto ela.

— Eu sei tanto quanto você, todo esse tempo que passei aqui, eu apenas fiquei em estado de treinamento, até que o dia de você vir para cá chegasse, pois então esse dia chegou e você está aqui, e agora eu não sei o que vai acontecer.

— Até que eu viesse para cá! Mas porque eu? — Ela diz quase que gritando.

— Porque você é a escolhida! Agora pare de fazer perguntas! — Ordeno gritando e minha voz ecoa em todos os cantos.

—Escolhida? Escolhida para que?

Ela não desiste, sua voz já estava me irritando. Saio andando sem responder. Ela não me perguntou mais nada até o fim do nosso caminho. Ela começa a chorar. Por fim chegamos ao castelo dos anciãos e chefes.

— Venha me siga! — Digo e saio caminhando.

Eu tinha que levá-la para os anciões, ela me seguiu em silêncio. A garota parecia ter se assustado ao ver Claus um dos dois anciões que sobraram. Ele era um híbrido metade humano metade monstro, um ser nojento.

— Quem é essa? — Claus pergunta se levantando de sua cadeira.

— É ela, senhor. A escolhida — digo dando um passo para trás e a empurrando para frente.

Ele se aproxima dela e passam as costas de um dos dedos em seu rosto, ela começa a gritar. Aquele era o tão chamado Grito da morte, os líderes tinham um tipo de poder que um pequeno toque deles poderia fazer você sentir uma dor horrível e insuportável, se um ancião lhe desse um abraço, você morreria em segundos. Foi o que me disseram quando fui trazido a este lugar.

— Então é este ser repugnante á escolhida?

— Sim é ela!

— Não! Acho que cometeram um erro, eu não sou a escolhida. Não posso ser!

— Os humanos cometem erros, nós não — Claus disse, olhando para mim.

— Não cometi nenhum erro.

— Espero que não esteja mentindo. Eu odeio mentirosos!

— Deixe o garoto irmão!

Trevor era o irmão bonzinho.

— Mas Travor!

— Saia Claus!

Travor e garota ficam conversando. Ela parecia estar com muito medo e não parava de tremer. Eu não presto atenção na conversa, estava pensando em minha família, minha mãe, a Bia e até no meu pai apesar de não nos darmos muito mal. Só voltei a mim quando a garota me perguntou o que eu fazia naquele lugar.

— Eu sou apenas um servo que busca os adolescentes e jovens para ensiná-los.

Isso era o que eu fazia naquele planeta estranho, essa era a minha missão de buscar adolescentes. Saímos da sala, eu não gostava daquele lugar.

— A cada segundo fico mais confusa.

Pego-a em um dos braços e a levo para o lugar que mais gosto, o único lugar onde posso ficar sozinho. Apesar do frio que fazia naquele lugar, eu gostava de lá.

— Se aqui é outro planeta, porque me faz lembrar tanto da Terra?

Ela parecia não saber nada mesmo sobre a maldição da lua. Ela me disse que seu professor já havia lhe dito sobre essa maldição, mas não levou a sério.

—Se é apenas uma lenda o que você está fazendo aqui? Você faz parte dessa lenda, é a única capaz de nos salvar.

— Salvar de que?

— Dos Arteirns, um grupo que se uniram, eles querem o poder da Lua, e pra isso eles precisam de apenas mais uma coisa.

— Do que eles precisam?

— Seu coração!

Desde que cheguei aqui me diziam que minha verdadeira missão seria sequestrar e proteger a garota do coração de sangue. Se os Airteirns pusessem as mãos nesse coração, ambos os planetas seriam destruídos. A maldição cairia sobre a Terra, explodiria o sol fazendo-o destruir tudo que estivesse em seu caminho, vários planetas do sistema solar seriam extintos para todo o sempre, incluindo a Terra. E sem a garota do coração de sangue a maldição seria mais forte, e todo esse planeta viveria apenas na escuridão, a lua não existiria mais, apenas a maldição que continuaria intacta. Ambas as raças, humanos e monstros, seriam extintos de todo o universo.

Algo que eu não entendi foi o fato de que os Airteirns queriam o coração da garota para usar o poder que era contido naquele coração contra a própria maldição, e assim apenas a Terra sofreria com isso. Mas mesmo se os Airteirns não matassem a garota para conseguir o coração, ela nunca voltaria para casa, pois iria ter de morrer no fim da batalha.

A Maldição da Lua.Onde histórias criam vida. Descubra agora