III Capítulo

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Estava me sentindo um trapo.
Senti como se uma avalanche se abatesse sobre mim. Me senti meio sufocada e depois caí de uma altura inimaginável. Caí em algo e voltei a flutuar... Uma rede? Porque teria uma rede embaixo da minha janela? Olhei em volta e tirei uma conclusão. Não estava mais no Instituto.
Estava em uma floresta enorme, com tantas árvores que mal via o céu. Alguém puxou um dos lados da rede e rolei, esse alguém me puxou e me colocou no chão. Olhei para quem era, tinha cabelos castanhos e olhos verdes. Não... Será que...?

-Bem vinda a Neverland.

Não era possível, simplesmente não era. Tudo isso era uma completa e enorme loucura, só podia estar sonhando. Dei dois passos para trás e belisquei meu braço algumas vezes.

-Porque está fazendo isso com você? -ele perguntou rindo.
-Porque eu só posso estar sonhando.
-Claro pensa assim, todos pensam -o garoto de olhos verdes riu e se aproximou de mim- Qual seu nome?
-Selina Blacktorn.

O garoto fechou a cara quando disse meu sobrenome.

-Blacktorn?
-S-sim...
-Nome engraçado -ele ainda mantinha uma expressão séria.

Ficamos em silêncio por um tempo. Olhei em volta e pensei no melhor jeito de fugir desse lugar.

-Qual o seu nome? -perguntei querendo quebrar o silêncio.
-Oh, puxa -ele riu- Esqueci de me apresentar? Sou Peter, Peter Pan.

Ok, isso era real. Toda a ilha é real. E foi ai que entrei em pânico. Corri como uma doida para longe dele. Era uma Caçadora em treinamento, meu primeiro dia de treinamento foi correr com obstáculos, o que me ajudou muito agora. Atravessei troncos, galhos e corri mais ainda. Mas, perto de uma descida, algo me empurrou e caí em cima do meu braço. Doeu muito. Gemi baixinho de dor e quando percebi Peter estava na minha frente. Ele me ergueu e me prensou contra uma árvore.

-Pensou que escaparia de mim, Blacktorn?
-Fique longe de mim -disse tentando me soltar dele.
-Me de um bom motivo. Vamos, eu gosto de um bom jogo.

Nada falei, ele estava com o braço na minha garganta, respirava com dificuldade.

-Vou te dar dois conselhos Selina. Um: você nunca vai conseguir escapar. Dois: Peter Pan nunca falha.

Ele me soltou e caí no chão. Ele riu e esticou a mão, com medo, segurei nela e me levantei, mas ele não me soltou.

-Agora vamos, você tem que conhecer alguns amigos meus.
-Você tem amigos aqui?

Eu menti, sabia dos meninos perdidos. Mas ele conheceu a minha mãe e não posso demonstrar que sei o que ele tentou fazer com ela.

-Claro que tenho, Blacktorn.
-E eles escolheram vir para cá por conta própria?
-Alguns não, mas outros suplicaram. Adoro quando fazem isso -ele sorriu de canto. Isso me irrita.
-Ah claro, porque viver em uma ilha é tão emocionante.
-Você nem imagina o quanto.

Ele me levou para uma espécie de acampamento, ergueu a mão e uma fogueira surgiu de uma pilha de madeira. Ele pegou uma flauta, se sentou e começou a tocar. Me sentei ao seu lado.

-Então... Cade esses "amigos"?
-Eles já vão chegar.
-Eles são tão agressivos quanto você?
-Como assim? -me olhou e sorriu de canto.
-Os meninos. São tão agressivos quanto você?
-Eles? -se aproximou do meu rosto- Não são nada comparados a mim.

Nem tive tempo de terminar meu pensamento, pois mais ou menos trinta meninos apareceram gritando e pulando. Me assustei e Peter riu, todos os meninos ficaram na nossa frente. Um deles se aproximou de mim e tocou em minha runa de força.

-O que é isso moça?
-Gunther -Peter disse e Gunther recuou, parecia ter medo dele- Esta, meus caros, é Selina Blacktorn.

Todos eles cochicaram entre si, Peter levantou a mão e todos se calaram.

-O que faremos com ela? -um loiro de gorro perguntou.
-Caro Felix, ela é minha convidada.
-Convidada?! -perguntei indignada.
-Aonde ela vai dormir? -um menino perguntou.
-Ela pode ficar comigo... -Felix disse com um sorriso que me fez estremecer.
-Felix. Ela é minha convidada -Peter disse e Felix se afastou- Podem ir meninos.

Todos eles ficaram malucos com essa frase, começaram a pular e dançar em volta do fogo enquanto Peter tocava aquela flauta.
Me levantei e me afastei de todos, estava muito barulhento. Fiquei andando até achar uma clareira cheia de flores. Me sentei no meio delas e fiquei brincando com as pétalas de duas margaridas. Não tinha mais vontade de fugir, queria ficar. Tudo aqui era tranquilo, calmo. Não tinha treinamento, laminas serafim, Clave, ninguém. Não sei o motivo de estar aqui, mas até lá vou aproveitar cada minuto.
Olhei para minhas runas e me lembrei da minha estela dentro na minha bota esquerda e da pequena adaga na direita. Estava com uma pequena dor no tornozelo, então peguei minha estela e tentei fazer um Iratze.

-Mas que po...
-Isso não funciona aqui, Blacktorn.

Me virei, Peter. Ele se sentou ao meu lado e tentei desenhar novamente um Iratze, mas não estava fazendo marca alguma. A dor que geralmente sinto quando faço uma, não tinha mais. Era apenas mais um utensílio de metal inútil.

-O que você fez com a minha estela?
-Eu? Nada. Agora a ilha, eu não sei.
-Mas que droga! -joguei a mesma longe.
-O que queria fazer com ela?
-Meu tornozelo está doendo por causa do corrida. Queria fazer um Iratze para ver se melhorava.
-Entendo...

Ele passou a mão por cima do meu tornozelo e uma pequena fumaça verde escapou dela. Quando notei, meu tornozelo estava bem novamente.

-Então você tem magia?
-Não quero que minha convidada fique com dores.
-Você é estranho, sabia?
-Estranho? Porque?
-Porque uma hora você é agressivo, grosso. Dois segundos depois você é todo preocupado, gentil. Vai ser complicado conviver com você Pan.
-Mas... Quer dizer que não gosta quando sou agressivo?

Ele se aproximou de mim e praticamente sussurou no meu ouvido essas palvras... Eu me afastei um pouco e fiquei arrepiada.

-Está arrepiada? Gosto disso.

Peter segurou em minha mão e me aproximou dele, depositando dois beijos em mim. Um em minha bochecha e outro em meu pescoço.

-Teremos dias interessantes por aqui, Selina.

Welcome to Neverland   •em revisão•Onde histórias criam vida. Descubra agora