IV Capítulo

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Me afastei dele e voltei para o acampamento. Quem ele pensa que era?
Quando voltei, os meninos não estavam mais lá. Os procurei e os achei em uma parte do acampamento em que não conhecia. Todos estavam armados, lutando uns com os outros. Observei de longe, era terrível. Alguns se machucavam demais, mas o outro insistia em continuar a machucá-lo mais ainda. Gunther, o baixinho, estava com feridas nos braços e pernas e sua boca sangrava. Ele estava lutando com Felix, isso não era justo.

-Felix, para -disse me aproximando.
-Você não manda em mim.
-Não está vendo que você já ganhou a luta? Pronto. Comemore. Deixe ele ir.
-Se eu quiser, eu continuo. Ninguém manda em mim.
-A não ser seu caro amiguinho Peter Pan.

Ele se irritou com a frase. Colocou a ponta da espada em minha garganta.

-Cale a boca, ou terei que calar ela para você.
-Que medo.

Vamos ver se esse maldito treinamento serviu para alguma coisa. Me joguei para o lado e lhe dei uma cotovelada no ombro, ele gemeu de dor e tomei a espada de suas mãos. Ele se afastou e apontei a espada para seu pescoço.

-Você é uma garota esperta -ele riu.
-Sou uma Caçadora de Sombras. E esqueci que você não sabe o que é isso...
-Na verdade...

Ele pegou na lamina com a mão, socou meu rosto com a outra e me prendeu ao corpo dele, deixando a lamina em meu pescoço.

-Já vi esse truque milhares de vezes, Caçadora de Sombras.
-Felix, solte-a.

Peter apareceu e Felix me soltou na hora. O olhei e ele se virou indo embora. Me virei e Peter estava na minha frente.

-Vamos dar uma volta, Blacktorn.

Ele colocou sua mão em minhas costas e me empurrou para uma espécie de cabana de madeira. Entrei nela e era bem pequena, havia apenas uma estante com uns nove livros e alguns (muitos) potes. Havia uma mesa com papéis e uma cama de casal ao fundo.

-O que pensa que estava fazendo?
-Ajudando Gunther, não era justo o que Felix estava fazendo.
-É, mas aqui não temos regras. Ninguém se importa se você está prestes a morrer em uma batalha.
-E se eu morresse? Você me salvaria?
-Serviria de lição para você.

Ele passou por mim e pegou um pote na estante. Colocou um pouco do que havia no pote dentro de uma pequena bolsa de pano. Olhei em volta e comecei a me senti cansada, tinha sido um longo dia. Bocejei e me sentei na cama.

-Mas já cansada Blacktorn?
-Eu tenho um nome e um apelido, se preferir.
-Eu sei, mas eu gostei do seu sobrenome. Agora venha, vamos passear.

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-Isso é maravilhoso!

O vento batia em meus cabelos, a sensação de liberdade me invadia e eu era mais do que feliz.

-Tente me alcançar Pan!
-É melhor correr Blacktorn!

Fui para mais alto e mais longe, estava rindo e sorrindo.
Peter havia me levado para uma montanha, de lá pegou a bolsinha de pano e jogou todo o conteúdo em mim. Em questão de segundos, estava voando. Ele simplesmente voou junto comigo e disse que era pó de fada. Contanto que tivesse pensamentos felizes ficaria no ar quanto tempo quisesse.
Pensei no dia em que meu irmão me levou para ver a Flor da Meia-Noite e no dia em que descobri meu talento para adagas.
Uma hora não ouvi mais Peter atrás de mim, me virei e parei na mesma hora. A ilha estava lá embaixo, sem luz alguma. Olhei para o céu, completamente estrelado. Olhei em volta, a paz reinava. Eu me sentia mais leve do que nunca... Até sentir uma coisa passar atrás de mim.
Olhei e não havia nada... Me virei para voltar a ver a ilha e vi uma sombra com olhos brilhantes e uma boca que parecia um buraco negro. Me desesperei na mesma hora e comecei a cair. Vamos Selina! Pensamentos felizes! Pensamentos felizes!
Não iria conseguir, aquela sombra me amedrontava há décadas... Porque ela estava aqui?! Porque?!

-Calma, calma! Eu te peguei, está a salvo agora!

Peter me pegou. Ele me pegou. Estou salva. Me agarrei fortemente a seu corpo e deixei que me levasse novamente para o acampamento. Era tarde, os meninos já dormiam. Peter acendeu a fogueira e se sentou ao meu lado.
Fiquei pensando naquela sombra... Tantos anos... E ela continua aqui... Porque...

-Quer me contar o que aconteceu?

Não respondi nada. Ele segurou minha mão, eu o olhei e percebi. Este era um dos raros momentos em que Peter era gentil comigo. Seus olhos eram carinhosos, e diziam: "pode confiar em mim, vou te proteger". Decidi contar.

-Desde que tinha 6 anos "A Sombra", é como a chamo, me assombra.
-Assombra? -ele parecia realmente preocupado.

"A primeira vez eu estava com meu irmão, passeando por um parque na cidade. Ele foi comprar sorvete e eu ouvi alguém me chamar. Segui a voz e havia uma sombra que se movia, eu gritei de pavor quando ela veio até mim. Andrew, meu irmão, disse que não estava vendo nada, que estava louca. Mas eu continuava vendo ela... Parada, me olhando. A segunda vez eu tinha 9 anos, estava no meu quarto tentando desenhar runas do Livro Gray no meu caderno quando ouvi um barulho. Peguei uma adaga e saí pelo Instituto, A Sombra estava em um corredor novamente, me encarando. Ela voou até mim e joguei minha adaga, mas estava tão apavorada que a joguei na janela. Fiquei encolhida no chão esperando ela me pegar. Quando senti uma mão no meu ombro me desesperei por completo, mas era apenas minha mãe. A terceira vez eu tinha 14 anos, estava ouvindo através da porta que teria que começar meu treinamento logo e corri para as estufas, chorando. Vi um arbusto se mexer, peguei uma adaga na minha bota e joguei no local. A Sombra pulou dali e me agarrou, fiquei suspensa no ar enquanto gritava. Quando minha mãe chegou, ela sumiu e eu chorei o resto do dia. A quarta vez foi quando ela me trouxe até aqui, e agora ela não vai mais me deixar em paz Peter..."

Quando terminei, ele me abraçou e eu chorei novamente.

-Não vou deixar que essa Sombra te pegue, Selina. Eu vou te proteger.

Welcome to Neverland   •em revisão•Onde histórias criam vida. Descubra agora