Bônus - O início.

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1840

Eram quase três da manhã, e caía uma chuva fraca do lado de fora da velha casa de fazenda. A pequena casa de dois andares se erguia no meio de todo aquele nada, sem sinal de vida ao redor. Tudo que se podia ouvir era uma leve e suave canção vinda de algum lugar dentro da casa escura.

Uma lamparina foi acesa lá dentro. Uma mulher caminhava por um logo corredor com a luz estendida em frente ao rosto para poder enxergar o caminho. Sua coluna era curvada e seus cabelos desgrenhados e sem cor. As rugas ao redor dos olhos castanhos e da boca fina davam a ela o aspecto de ser mais velha do que realmente era. Ela tinha o rosto de alguém que um dia havia sido muito bela.

Da sua boca saia a única coisa que se podia ouvir por ali. A voz incrivelmente doce se contrapondo ao seu aspecto horrendo.

"It's a full moon night
The whole sky is starry
The shadows behind the trees
 Seem to sing thousands of songs
 Long forgotten by humanity
 Poor, sweet humanity..."

Ela cantava sozinha no meio da noite. Sua voz era baixa, como se não quisesse incomodar os ratos que viviam ali. O longo corredor da casa chegou ao fim. Havia uma única porta ali. Ela a abriu e, embora tenha tido cuidado para não fazer barulho, a porta velha acabou rangendo. Ela parou de cantar enquanto encarava as duas camas de solteiro, uma ao lado da outra, a sua frente, com dois garotos dormindo nelas.

Seus olhos correram rapidamente pelo grande quarto, que não possuía nada mais que um baú para guardar as roupas, duas camas e um berço. Ela deu um grande sorriso ao fitar o berço, revelando dentes amarelos e tortos que a deixava mais parecida ainda com uma bruxa.

Com cuidado, ela se aproximou do berço e fitou o bebê ali dentro. O garotinho estava acordado e com os grandes olhos pretos arregalados enquanto fitava nada em especial acima de sua cabeça, brincando com os dedos dos pés.

- Olá, meu garotinho – a mulher disse e colocou a lamparina em cima de uma pequena mesa ao lado.

Com cuidado, ela se curvou e pegou o garotinho em seu colo, sorrindo como se ele fosse a solução de todos os seus problemas.

E talvez fosse...

- Mãe – ela se assustou quando ouviu uma voz sonolenta a chamar. Olhando para o lado, viu seu filho mais velho de pé, ao seu lado, a fitando com seus grandes olhos escuros – O que você está fazendo com o bebê?

Ela encarou o garoto por algum tempo. Quando pensou em uma resposta para ele, um bocejo veio da cama ao lado, e lá estava seu outro filho, sentado na cama e esfregando os olhos enquanto despertava de um sono profundo. Ele era diferente do irmão mais velho. Seus cabelos eram ruivos e mais compridos, e seus olhos eram incrivelmente azuis.

Um sorriso ainda maior que o anterior surgiu em seu rosto, como se ela tivesse acabado de ter uma grande ideia. Era possível ver o brilho em seu olhar.

- Estão todos acordados – ela disse – Que maravilha!

- Aonde vai com o bebê? – o garoto mais velho perguntou mais uma vez. Ela sabia que ele não confiava nela.

- Dar um passeio.

O garoto olhou pela janela entre o berço e a cama, estreitou o olhar e depois voltou a fitar a mãe.

- Mas está de noite – ele disse – E está chovendo.

- E está uma linda noite para levá-los a um lugar especial – ela pegou a lamparina em cima da mesa novamente – Vamos, ajude seu irmão a calçar os sapatos.

Chamas da Ilusão -L.sOnde histórias criam vida. Descubra agora