Capítulo 19.

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O vento açoitava meus cabelos com força. Eu sentia frio, mas isso não era nada perto da dor no meu coração. Eu já havia tentado parar de conter as lágrimas e simplesmente as deixei rolar. Eu não sabia se fazer isso era a melhor opção, mas eu estava tão cansado... Só queria que acabasse de uma vez por todas.

Meu coração martelava forte no peito enquanto eu subia em cima da mureta, a única coisa que me separava do lado de lá.

Eu já havia pensando e repensado no que eu estava fazendo, e diversas vezes dei um passo para trás, desistindo dessa ideia insana. Mas então tudo que vem acontecendo vinha na minha mente e eu sabia que não poderia aguentar muito tempo mais daquele jeito.

Eu estava ciente de que minha vida não seria muito longa de qualquer jeito. As palavras de Niall às vezes ainda eram capazes de me atormentar, mesmo já tendo aceitado o inevitável.

Olhei para baixo, para o gramado cinco andares abaixo de mim. Senti vontade de vomitar e sair correndo de lá imediatamente, mas me forcei a olhar para frente e não encarar o que me esperava lá embaixo.

Olhei para o horizonte e respirei fundo duas vezes. Com o vento forte e apenas o azul infinito do céu à minha frente, eu podia até pensar que estava voando.

Por um segundo minha mãe me passou pela cabeça novamente, mas eu a bani de lá. A vontade de desistir era muito grande quando eu pensava nela e em tudo que eu estava deixando para trás. Eu já havia pensando em tudo. Já havia pensado na situação dela quando descobrisse e isso partia o meu coração, mas eu tinha que fazer aquilo. Por mim. Não dava mais para viver daquele jeito.

Me aproximei um pouco mais da beirada com as lágrimas escorrendo dos meus olhos. Eu não queria que acabasse assim. Eu não queria ter que partir. Mas viver já não era mais uma opção. Não naquela situação.

Eu sabia que iria morrer de qualquer forma, mas pelo menos seria do meu jeito. Ele já tinha estragado e controlado minha vida de todas as maneiras possíveis, agora eu queria que fosse da minha forma. Se fosse acabar, pelo menos que fosse por minha conta. Não deixaria ele tirar isso de mim.

Me aproximei um pouco mais da ponta. Agora apenas os meu calcanhares estavam em contato com a única coisa que me sustentava ali em cima.

Aquela voz na minha cabeça me gritou mais uma vez, dizendo que eu era insano e que essa não era a melhor saída e que eu deveria descer dali e pensar melhor. Ela não parava de berrar comigo.

Só que dessa vez eu não a escutei.

Fechei os olhos com força e respirei fundo mais uma vez. Tentei pensar na vez em que meus primos me levaram para saltar de bung jump. Eu estava morrendo de medo, com o coração na garganta, assim como naquele momento. E eu fiz a mesma coisa que estava fazendo ali. Fechei os olhos com força, suspirei e pulei. Me lembro de, antes do medo me fazer desistir, ter pensado: é só pular.

E foi o que eu pensei naquele momento. É só pular. Eu tinha apenas que pular e acabar logo com aquilo. Com aquela angústia que as vezes ameaçava me sufocar. Eu só tinha que parar de pensar no medo e no que me esperava no fim daquela viagem. Eu só tinha que pular.

E eu pulei.

No momento em que me vi caindo cinco andares abaixo em direção à morte iminente, me arrependi de não ter ouvido a voz na minha cabeça.

Meu coração se comprimiu no meu peito e por um segundo pareceu parar de bater enquanto eu tentava gritar como se isso fosse ajudar em algo. Mas nada saiu da minha garganta. Era como se o mundo estivesse em câmera lenta, apenas para me torturar mais ainda. Eu via o chão se aproximar lentamente de mim, prolongando minha viagem, como se o universo estivesse gozando com a minha cara.

Chamas da Ilusão -L.sOnde histórias criam vida. Descubra agora