Capítulo 01.

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Eu colocava a última foto no quadro acima da minha escrivaninha enquanto o som de Linkin Park preenchia meu novo quarto. Pelo menos isso me trazia uma sensação familiar.

Desci da cadeira e dei uma olhada ao redor. Não estava igual ao meu antigo quarto, mas eu tinha feito o máximo que podia para deixar parecido. As duas mesinhas ao lado da cama que ficavam abaixo da janela. A escrivaninha na parede em frente ao guarda-roupa com um quadro repleto de fotos acima. Dois puffs espalhados pelo chão em cima de um grande tapete laranja. Exatamente igual ao antigo quarto, mas ainda assim... Tudo era diferente.

As paredes do antigo quarto eram laranjas, minha cor preferida, e o teto era baixo, típico de uma casa antiga. Esse quarto tinha as paredes todas brancas, o teto alto de uma casa moderna e janelas grandes e sem grades.

Suspirei fundo. Iria demorar algum tempo para eu me adaptar à nova vida.

- Querido - ouvi minha mãe chamar e olhei para trás. Ela estava na porta com uma bandeja na mão. - Trouxe um lanchinho para você. - Ela sorriu.

Uma das minhas coisas preferidas na vida era o sorriso da minha mãe. Ele era jovem e encantador, assim como ela, que aos trinta e cinco anos, tinha aparência de vinte e olhos incrivelmente verdes, contrastando com sua pele clara e os cabelos negros que emolduravam bem seu rosto fino.

- Espero que esteja com fome - ela entrou e colocou a bandeja em cima da cama, se sentando nela logo em seguida e dando uma rápida olhada no quarto - Você fez um ótimo trabalho aqui.

Sorri e fui me sentar ao lado dela.

Dei uma olhada na bandeja. Havia um copo com suco de goiaba e um pedaço de bolo de cenoura com cobertura de chocolate.

- Fiz o máximo que pude para deixar parecido com o antigo quarto - eu disse, tomando um gole do suco e olhando o quarto de outro ângulo.

Até que tinha ficado bom.

- Não precisa se prender ao seu antigo quarto, querido - ela passou a mão em meu cabelo - Coisas novas não são ruins.

Dei um sorriso fraco.

- Vou sentir falta de lá. - Eu comentei.

Desde que eu podia me lembrar, eu morava na mesma casa de sempre junto com a minha mãe e meus avós. Ela era simples e confortável, o que era perfeito para mim. Mas não era disso que eu iria sentir falta. Eu sentiria falta do cheiro de café forte e do bolo que minha avó fazia todos os dias para eu ir para a escola bem alimentado. Eu sentiria falta do meu avô me esperando sentado na cadeira de balanço na varanda toda vez que eu chegava em casa. Do cheiro do charuto dele todos os dias à noite enquanto ouvíamos seu disco preferido dos anos 80...

Eram esses pequenos detalhes que estavam me matando. Eu gostava disso. Gostava do estilo de vida da pequena cidade onde eu nasci e cresci em Santa Catarina. Gostava do jeito que as pessoas ainda se reuniam a noite na rua para jogar conversa fora. Gostava da calma e do silêncio constante.

Mas então tudo mudou.

Minha mãe conseguiu o emprego que ela sempre quis depois de tantos anos tentando. Ficamos todos muito felizes, só que tinha um problema: teríamos que nos mudar para São Paulo. Eu fiquei chateado com a notícia, mas escondi isso bem e não me opus quando ela disse que estávamos de mudança. Havia sido o sonho dela por muito tempo e eu não tinha o direito de estragar tudo por conta de uma mudança de estado.

Olhando para meu novo quarto agora, eu sabia que iria sentir mais falta de casa do que imaginei, mas iria valer a pena. Eu sabia disso porque havia um brilho constante nos olhos da minha mãe que eu nunca tinha visto antes. E isso para mim já era o suficiente.

Chamas da Ilusão -L.sOnde histórias criam vida. Descubra agora