Cap 1 : Aruna.

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Aruna

  Acordo com o meu celular tocando. Droga, esqueci de desligar o despertador. 

Olho para o teto do meu novo quarto. Suspiro, me levanto e vejo minhas caixas de roupas.

Me mudei para o morro da Rocinha, para morar com a minha mãe. Antes eu vivia com a minha vó, lá no asfalto, na Barra. Mas, minha vó resolveu me mandar viver com a minha mãe, para ela poder viajar com suas amigas. Diz ela que já está muito chata e que tem que aproveitar, nem para me levar.

Minha mãe, Carmem, me deixou muito nova com minha nona para poder trabalhar e me dar do bom e do melhor.
Foi pra fora do país para poder estudar. Desde então é eu e minha vó. 

Meu relacionamento com minha mãe sempre foi bom, compartilhava sempre com ela tudo o que me acontecia comigo. Lembro - me quando eu contei que tinha beijado pela primeira vez, pelo telefone. Ela me pediu detalhes de tudo, até de que posição a minha cabeça e a do menino ficou.  Morro de rir só de lembrar de como eu fiquei vermelha quando ela e minha nona me deu uma aula de sexo, com ela lá na Inglaterra e eu e nona aqui no Brasil. Antes eu morria de vergonha, agora eu acho engraçado.

Vovó Olívia, sempre foi muito minha amiga, sempre me dava conselhos em relação de amizades e relacionamentos. Vovó é daquelas que não perdem uma cachacinha no portão de casa fofocando com as amigas. E quando tinha briga na rua ? Elas fingiam que estavam lavando a calçada para ver as brigas de camarote.  E eu ia junto, não sou besta!

Hoje minhas coisas chegam da minha antiga casa. Minha cama de casal, meus livros, perfumes, roupas e tudo mais!

A casa da minha mãe é no segundo andar, embaixo é a loja de roupa dela. Minha mãe tem uma loja de roupa importadas, ela abriu junto com a sua amiga depois que voltou da Alemanha.  Ela estudou Moda.

Estou no ultimo quarto. É grande o suficiente para mim.  É um quarto que só tem uma cómoda e uma cama de solteiro,  não vejo a hora de me livrar dessa cama.

Pego minha roupa e vou tomar um banho.

Depois de tirar toda preguiça do corpo, coloco minha roupa e me olho no espelho.
Tenho os cabelos compridos, pretos e lisos. Meus olhos são um castanho claro, boca carnuda e nariz fino e arebitados. Puxei tudo a minha mãe.
Tenho o corpo bem cheio para uma garota da minha idade. Com o quadril largo e cintura fina, coxas grossas e bumbum avantajado. Tenho seios fartos. Sou morena.

Arrumo meu cabelo e saio do banheiro. Indo direto para a cozinha.

A casa não é muito grande, mas é super confortável. A cozinha é americana, toda branca com detalhes rosa bebê, assim como a sala, branca com tons rosa e cinza.
  A parede tem um painel com a TV, embaixo um rack com nossas fotos, eu pequena, com a nona, familiares e amigos.

Fui para cozinha comer algo.... Hmmm, sobrou pizza de ontem.

Pelo visto, minha mãe já foi para loja.

Hoje é sábado, dia de baile. É esses dias que minha mãe fatura na loja, sempre que tem evento, as meninas daqui amam as roupas da minha mãe e sempre vem arrumar um look para arrasar nesses bailes.

Ouço batidas na porta.
Abro a porta e vejo uma garota que trabalha na loja da minha mãe.

- Nega, chegou uns bofes com suas coisas lá embaixo -  diz Joana ou como ela prefere Jojo, conheci ela no dia que cheguei, logo de cara nos damos bem!

- Tô descendo gata! - Sai correndo para pegar o meu chinelo.

Depois de um tempo já estava tudo no meu quarto.

Suspiro, nem to louca de arrumar isso sozinha.

Tinha mais caixas de roupas, de sapatos, meus livros da escola e os livros de putaria que eu leio. Meus acessório, perfumes e cremes importados que mamãe sempre trazia para mim. 

Resolvo ir lá na loja, olhar o movimento.

Assim que chego na rua, noto olhares, claro sou nova aqui e nem cheguei a sair de casa para conhecer o lugar.

O morro é bem movimentado, tanto por moradores e por gringos quem vem para visitar os pontos aqui, e lógico tem os traficantes.

Aqui no morro tem um tipo de projeto cultural, onde tem vários tipos de danças, teatros e lutas. Onde os moradores podem se inscrever e talvez serem notados pelas grandes emissoras.

É uma forma de dar oportunidade a quem não tem recursos de serem notados por serem da favela. E é aqui que encontram grandes talentos. Já ouvi falar que já foram para o exterior e fizeram o maior sucesso. Acho isso muito massa!

Entro na loja e noto um movimento. Tem duas mulheres olhando umas roupas no cabideiro e outras no provador.
Vou direto na minha mãe que esta no caixa, passando o cartão de uma mulher loira.

- Bom dia mãe.
- Bom dia amor, dormiu bem? Caiu da cama foi!?
-  Dormi sim. Acabei esquecendo de desligar o despertador.

Ela agradeceu a mulher na sua frente e se virou para mim.

- Fica aqui no caixa hoje, tenho que ir no asfalto para pegar uma encomenda que não sobe aqui no morro !?
- Claro! - ela sorri e me da um beijo.
- Não demoro, bebê.

Foi até bom ficar aqui, conheci mais as meninas que trabalham como vendedoras.

Jojo, uma mulher alta e com um corpão.
Não tem papas na lingua, fala tudo sem filtros e medos. Negra de 23 anos com os cabelos em um black bem alto, cheio e super cheiroso. Tem os olhos bem brilhosos e grandes, labios grossos e um corpo de dar inveja. Veio da Bahia para participar do projeto cultural. Deixou sua familia e veio na cara e na coragem, sem nem conhecer o lugar. Hoje já está estabilizada, mora sozinha e totalmente independente. 

Eliza, totalmente o oposto da amiga, enquanto Jojo não é  nenhum pouco tímida, Lili é! Baixinha, tem os cabelos loiros e compridos em um ondulado. Tem o corpo magro mas com suas curvas, tem 24 anos. Tem os olhos grandes e sempre cora quando Jojo solta suas perolas, mesmo trabalhando a meses já com ela, ainda não se acostumou. Ela já é casada e tem um filho de 2 anos, Pietro. Lili já é daqui do morro mesmo!

O dia passou rapido, saimos da loja era quase 21 horas. Hoje o movimento foi bom!

- Aruna, vamos hoje no baile? - Jojo estava louca para ir, como diz ela " rebolar e sentar pra cacete hoje"
- Vai filha, eu vou sair com umas amigas e você vai acabar ficando sozinha em casa. - diz minha mãe.

Bem que seria uma boa ir nesse baile. Não vai dar em nada mesmo! Não sou e nunca fui de curtir esses tipos de festa, hoje seria a primeira vez.

- Bora, nega!

04 /10 /2021.

No alto da Rocinha [ PARADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora