CAP 7 : Aruna

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Acordei cedo na segunda feira, dia de trabalho.

Eu trabalho em um salão de beleza, no asfalto, salão da Dona Erica, amigona da minha vó.

Eu faço unha,desde pequena eu gosto de cuidar das minhas unhas e da minha vozinha, com isso fui me aperfeiçoando e acabei fazendo cursos. Dona Erica viu uma vez a unha que fiz de minha vó e acabou me contratando. Recentemente fiz um curso de um dia só de unhas de Gel. Peguei o diploma e agora estou fazendo unha de gel das clientes no salão.

Com a mudança, minha mãe me tirou da minha antiga escola, que ficava perto da antiga minha casa, colocou em uma perto do morro, estadual mesmo.

Mais perto, o ruim que por conta do trabalho eu tenho que estudar de noite.

Começo hoje.

Me levantei, sentindo dores no meu corpo, pela tarde de ontem, Rico me destruiu, até para sentar dói fora as marcas no meu corpo que ele deixou. Posso nem usar um decote agora.

Pego uma calça no meu guarda roupa e minha blusa de trabalho. Vou direto para o banheiro fazer minha higiene.

- Bom diaaaa - assim que chego na cozinha, está minha mãe, Jojo e Lili tomando café. Elas tomam café sempre com minha mãe, antes de abrir a loja.

- Bom dia meninas. - Tomamos o café em um clima traquilo e cheio de risadas. - Vou indo, tenho que pegar o onibus ainda.

- Eu te levo gata, no ponto. - Jojo disse se levantando.

- Ai, eu agradeceria, não sei o caminho. - pego minhas coisas e saiu.

- Edu me disse que você sumiu ontem - ela voltou a falar depois de que saimos de casa.

- O Rico foi atrás de mim. - assim que falei ela parou de andar com a boca aberta e os olhos arregalados. - Jojo ta bem ?

- O rico ?

- Sim

- O Rico chefão ?

- Sim

- O Rico traficante ?

- Sim

- Ai. Meu. Deus! - Ela começou a andar com o mesmo olhar de espanto. - Vai me conta, ele foi atrás, e ai ?

Acabo contando tudo para ela, disse que ele surtou pela minha idade, disse sobre a nossa noite e de como ele mudou quando eu não fiquei com ele para dormir.

- Nega, eu to chocada! O rico não é assim. Ele nunca foi de pedir para dormir, na verdade, nem para ir atrás.

- Eu pensei que esse era o jeito dele, para fazer as meninas ficarem rendidas aos seus papos.

- Rico nunca precisou de ir atras de uma foda, elas vem até ele. - Ela diz pensativa. Chegamos ao pé do morro, ela aponta para onde fica o ponto do onibus. - Amiga, cuidado com o Rico, ele é um traficante e é casado. Mas isso não impede dele ser de todas, não se ache importante por ele ir atrás de você. Possa ser que ele queria ser o primeiro a pegar moradora nova. Isso é um alerta de amiga, se envolver com traficante sempre acaba mal, e sempre quem se dá mal é a mais fraca, que nesse caso, é você!

- Como assim ele é casado? - Pergunto assustada, porque ela não me disse antes ? - Porque não me contou antes?

- Nega eu não imaginava que ele iria te procurar e que vocês iriam passar de beijos. - Disse gesticulando com as mãos - E amiga, esse casamento é só de fachada. Ela mora no asfalto nem sempre está no morro por isso ele vive desfilando com amantes para cima e para baixo. Ela vive as custas dele, é toda montada e "cavalona". Ela é perigosa igual a ele. Não mede esforços para tirar qualquer uma do caminho dela. É o que eu estou te falando, sai fora! - Finaliza.

- Não sei nem o que dizer! Eu não imaginava que ele tinha esposa. Eu já estava com pensamentos de nunca mais ver ele, e agora mesmo que não vou ver ele mais. - Digo indignada, lembrando do nosso momento de ontem. - I ALA MEU ÓNIBUS - assim que avisto o onibus saiu correndo deixando Jojo para trás.

- Ai bom dia moço - digo ofegante enquanto passo meu bilhete único e passo na roleta.

Sento no banco perto da porta de saida.
As palavras de Jojo rodam em minha mente, Rico é real um cara que devemos manter distancia.

E é o que eu vou fazer!

Assim que chego no meu ponto eu desço.

- Valeu, Moto.

Ando por uns cinto minutos e chego no salão. Já vendo a minha primeira cliente do dia.

- Bom dia meninas. - Comprimento assim que entro, e vou direto pra o quartinho que temos aqui para guarda nossas coisas. Prendo meu cabelo e pego luvas novas. - Pode vim amor - e assim começo meu dia, ocupando minha mente para não pensar no Rico.

***

Saiu do salão as 16h, vou direto para o ponto de onibus. Assim que eu pego, puxo meus fones de ouvido dá bolsa e coloco uma musica relaxante : Said Sum.

Desço quando avisto a entrada do morro, atravesso a passarela.

Passo pelos vapores, desejo boa tarde. Fazer amizades com eles é uma boa, é sempre bom manter um bom vínculo, vai que um dia precisamos né. Palavras de Jojo.

Subindo o morro eu reparo melhor na ruas e vielas. Tudo colorido, as paredes com frases de rappers, com desenho de atores, cantores e até de escritores. Passo por uma pracinha, onde tinha muitas crianças jogando bola, outra brincando em balaços e gangoras. Dou risada quando vejo uma garotinha cai de cambalhota do balanço e um menino correr até ela ajudando a levantar. Voltando para o meu caminho, eu avisto, o tal bar do seu Jorge, cheio de traficante com suas armas emcima das mesas, as motos paradas na frente do bar. Alguns tem os rostos conhecido, do baile e pagode.

Vou olhando cada um, até a vistar ele. Lindo, rindo de algo que um cara disse, colocando o boné para trás, assim como colocou quando ficamos naquele corredor, com uma arma na cintura e um copo de cerveja na mão. O pescoço com cordões de cruz que de longe dá para ver que é ouro. Aperto meu passo quando os olhos dele caem em mim. Jesus. Me arrepiei toda.

Para cortar caminho, eu entro em uma viela que dá bem na loja.

Derrepente sinto meu braço ser puxado para dentro de um beco, levei um susto do caralho, chega fechei os olhos soltando um gritinho. Mas parei quando reconheci o cheiro.
Abri os olhos.

- Rico.

No alto da Rocinha [ PARADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora