Ventidue

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— Isso é sério mesmo?

O grupo estava esparramado pela sala, enquanto comia. Todos escutavam atentamente os integrantes responsáveis pela dança discorrerem sobre como as rotinas mudariam e como teriam que mesclar coreografias de músicas antigas, pois logo passariam a apresentar medleys com as mesmas.

— Segundo Simon, é seríssimo. — Suspirou Beauchamp — Ele está com umas ideias mirabolantes para a próxima turnê. Querendo mexer em tudo o que puder, trocar parceiros nas danças, instalar mais duplas. Quer, de toda forma, encaixar as músicas que foram produzidas durante a quarentena.

— Sendo que o grupo todo não estava lá — a coreana assumiu a palavra — Então teremos que discutir com Kyle como vamos encaixar pessoas, como vamos ensinar os passos para quem não foi... Fora que ele quer incluir lines, também. Regravar partes, adicionar vozes.

O suspiro foi coletivo. E o descontentamento também. Aqueles jovens estavam exaustos. O último ano não foi fácil. A saúde mental deles teve que aguentar, além de uma pandemia, um grupo de superiores que não fazia muita questão de prestar atenção no bem estar dos subordinados. Viagens foram feitas mesmo quando não era indicado, vários clipes e músicas foram produzidos, fora os episódios que eram gravados de casa. Muitos deles mal tiveram descanso entre uma viagem e outra, e a dificuldade de conseguir conciliar projetos e trabalhos era real.

— Fico pensando se o Simon não caiu e bateu a cabeça forte, durante a quarentena. Não é possível alguém ser tão fora da casinha assim. — Lamar pontuou, antes de morder sua comida.

Ninguém rebateu, pois o relacionamento do britânico com o criador do grupo era uma área nebulosa para todos. Preferiam não arriscar e gerar desconforto.

— Então todas as músicas antigas serão colocadas no medley?

— Não, Shiv. — Respondeu a coreana — Algumas ainda ficarão nos shows. Tipo Summer in the City, Beautiful Life e Who Would Think That Love. Tem outras, mas não lembro de todas.

— Nós teremos direito a alguma pontuação sobre isso, ou teremos que sorrir e acenar, como se nada tivesse acontecido?

— Sorrir e acenar, Any.

A resposta de Heyoon não agradou a brasileira, mas também sabia que não havia muito a ser feito, não dependia deles.

— Mandando esse clima bem mais ou menos para longe — Sabina tomou a palavra — Como faremos com esse casal vinte a partir de hoje?

— Tava demorando para chegar na gente... — suspirou Diarra, encostando a cabeça no ombro do norte americano.

— Gatinha, você bem sabia que se era ruim quando eles apenas achavam, seria tremendamente pior quando tivessem a certeza. — Noah disse, dando um beijo rápido no pescoço da senegalesa, que a fez arrepiar.

Noah adorava como o corpo de Diarra denunciava o que sentia quando ele a tocava. Chegar a esse ponto de intimidade e proximidade com ela foi, durante muito tempo, um de seus maiores desejos. Era incrivelmente prazeroso ver que estavam avançando e construindo algo sólido. Isso por si só, fazia toda a pressão que sentia por estar escondendo de tantas pessoas parecer menor e mais leve.

Diarra, por outro lado, já havia aceitado que não dava mais para voltar de onde estavam agora. E havia aceitado que nem queria voltar, também. Estar com ele lhe proporcionava sensações boas demais para serem desperdiçadas por medo.

— Tudo bem que agora nós sabemos, mas vocês não vão ficar nesse chamego o tempo todo só por isso, não é? — Joalin falou, com uma careta — Tenham piedade dos meus olhos.

We ain't finished yet. - NoarraOnde histórias criam vida. Descubra agora