Dieci

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Noah's POV

Olha, de fato, meu pai sempre disse que ter um apartamento não era necessariamente a tarefa mais difícil do mundo. "Só pague as contas em dia para não cortarem sua energia, vá às compras regularmente para comer algo diferente de miojo e nunca, em hipótese alguma, cruze com seu síndico a não ser que seja de extrema importância". Como bom filho que era, segui à risca tudo o que ele disse. Tudo bem, a parte do miojo nem tanto. Costumo sobreviver de qualquer coisa que possa colocar no micro ondas. Por isso passei a pedir grandes quantidades de comida para jantar, pois sempre sobra para o almoço. Não me julgue. Ou julgue. Consigo lidar com julgamento, não consigo é lidar com meu tempero.

Perdi o fio do pensamento.

Voltando às sábias palavras de papai, se evito meu síndico com tanto afinco, por que ele insiste em não me evitar?! Inicialmente pensei que devia ter alguma neta ou até mesmo uma filha que sabia o que eu fazia, e estava atrás de um autógrafo ou algo assim. O que o faria, sem problemas nenhum. Porém, essa hipótese morreu quando nos encontramos no elevador um dia, e ele disse: "Boa noite, Norman! Quanto tempo sem vê-lo!". O homem honestamente pareceu tão simpático e feliz em me ver, que tentei ser uma pessoa melhor e não rir na cara dura. Norman... Norman Reedus. Amo o Daryl!

FOCO, URREA!

De fato, estava postergando a conversa sobre as reformas que seriam feitas no condomínio. Se não estava querendo encontrar com ele, que dirá encontrar e discutir a cor que ficaria melhor nas paredes do hall de entrada. Gente, pelo amor de Deus. Quem decorou meu apartamento foi minha irmã, e nunca mais vou deixá-la fazer isso. Quase me custou um rim. Abri a porta repetindo um mantra que girava em torno de: "ele é só um velhinho simpático, você não deve manda-lo à merda" , e qual não foi minha surpresa quando encontrei Bob, porteiro do prédio, parado e meio afobado. Ainda apertava a campainha, mesmo a porta já estando aberta.

- Oi, senhor Urrea!

Cristo, odeio quando me chama assim! Fiz uma careta, mas o homem nem prestou atenção a isso.

- Desculpa a hora, mas a sua amiga bonita pediu para que lhe entregasse esse papel. - falou apressado, me entregando o objeto e não me dando chance de responder - Agora preciso ir, não posso deixar a portaria sem ninguém ou fico sem emprego. Boa noite!

Apenas acenei desajeitadamente, enquanto o via pegar as escadas, nem se dando ao trabalho de esperar pelo elevador. Cenas como essa, me fazem pensar em todos os privilégios que tenho. E deixam meu coração pesado, às vezes. Quantos Bobs não existem por aí? Senhores com mais de 65 anos, que precisam submeter-se à jornadas longas e exaustivas, para poder pagar as contas? Enquanto eu, com 20 anos, poderia parar de trabalhar hoje e, ainda assim, não precisaria me preocupar com isso nunca mais. É um sentimento louco saber que o porteiro do prédio (que é um senhor absurdamente amável), não pode se dar ao luxo de esperar o elevador e precisar descer as escadas, mesmo com seu joelho não sendo mais tão bom. Fechei a porta devagar, ainda absorto em meus pensamentos.

Retornei à sala e sentei no sofá, respirando fundo e abrindo o papel. Não havia muita coisa escrita ali, mas o que vi, foi suficiente para fazer meu peito aquecer e meu coração errar as batidas. Era a letra dela. Um pouco mais confusa do que de costume, e isso me fez pensar na pressa que a mesma estava quando escreveu. Eu sabia que estava sorrindo. Sorria tanto que sentia minhas bochechas começarem a doer um pouco.

"Você também me tem, Noah. Só preciso aprender a lidar com isso. Mas não tenha dúvidas que me tem".

Reli essa pequena confissão várias e várias vezes, antes de pegar o telefone e ir para o quarto.

Pelo tempo, já devia estar em casa. Contava com isso. E contava que ela estivesse bem acordada, porque precisava ouvir sua voz para acalmar todo o turbilhão que estava sentindo nesse momento. Me joguei na cama enquanto ouvia a chamada. Caiu na caixa postal e rolei meus olhos. Ela não podia estar dormindo. Não depois da noite de hoje. Não depois dos dois terem admitido o quão envolvidos estavam. Ela pode ser uma rocha, mas assim já é um pouco demais.

We ain't finished yet. - NoarraOnde histórias criam vida. Descubra agora