7. O Universo dos Super-Heróis Parte II

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A fila para a bilheteira estava imensa, cheia de jovens com camisetas do Iron Man ou com o símbolo icónico dos Vingadores, alguns até fazendo cosplay. Decidimos portanto, que no tempo em que ele procurava um estacionamento, eu comprava os ingressos, então eu me dirigi para a fileira e aguardei. Vendo o casal à minha frente, vestidos de Viúva Negra e Hulk, eu imaginei nós os dois á anos atrás vestindo as fantasias que a Rosa havia confeccionado para nós, e eu senti uma pontada de inveja acompanhada por um pouco de nostalgia. Aquele dia tinha sido a primeira vez que ele disse que me amava, vestidos de Capitão América e Capitã Marvel no parque da cidade e eu nunca me esquecera daquele momento.

Acabei me perdendo nos meus pensamentos enquanto observava os adolescentes uma vez que as suas interações e o seu comportamento tinham muitas semelhanças connosco na época da escola. Ela parecia insegura com a sua roupa justa, e estava tentando o tempo todo tapar o decote com o casaco de cabedal que trazia vestido, mas quando ele a elogiava tornava-se mais confiante e sorria, metendo o cabelo para trás da orelha timidamente. Ele estava mais relaxado, agarrando na mão da namorada e a segurando com carinho, enquanto lhe mostrava memes no seu celular para a fazer rir e descontrair um pouco.

Já fazia tempo que eu não namorava com alguém, na verdade, o meu último relacionamento sério tinha sido com o gamer. Não nego que me envolvi com outros rapazes, mas nenhum dele me fez sentir o que ele me fez sentir, e desde o nosso término que eu desenvolvi uma barreira nos meus sentimentos amorosos. Eu nunca senti que tivemos um fim digno, terminamos por chamada depois de termos jogado uma partida silenciosa de League of Legends. A primeira vez que eu disse algo naquela noite foi quando murmurei "Acho que devíamos falar", e assim o fizemos. Discutimos um pouco, mas nenhum de nós tentou culpabilizar o outro e após conversarmos até à madrugada chegamos à decisão que seria melhor e mais saudável para nós seguir em frente. Acabei por não conseguir dormir, e apesar de ter aulas, fiquei o dia seguinte fechada no quarto até que os meus pais me encontraram na cama chorando em posição fetal. Eu bem sei que eles fizeram de tudo para me tentar animar, mas a única coisa que fez com que eu melhorasse foi o tempo, e é realmente como dizem: só o tempo sara.

Mergulhei nas minhas memórias e me abstrai do mundo durante uns bons minutos, era um sentimento estranho, doloroso. Porque é que eu estava me sentindo assim? Eu não ouvia nada, não via nada, eu apenas avançava roboticamente e em passos pequenos enquanto me focava num pequeno ponto no horizonte, como se estivesse em transe. Uma voz grossa chamou pelo meu nome, o que me fez despertar instantemente, como o estalar de dedos numa hipnose. Eu me virei para a pessoa que estava me chamando, desnorteada, e vi Rayan parado bem à minha frente.

- Sr. Zaidi? O que você está fazendo aqui? - Balbuciei, um pouco confusa. A sua barba estava por aparar e estava vestindo uma roupa mais casual - uma tshirt azul marinho e uns jeans pretos ao invés da calça social - dando-lhe um ar mais relaxado.

- E agora professores não podem ter vida para além das aulas? - Ele indagou, franzindo a sobrancelha, mas rindo de seguida. - Se eu não tivesse permissão para sair da faculdade eu ia acabar enlouquecendo.

- Não é isso! - Tentei me explicar, sem sucesso. No entanto, sem dúvida que este não era o tipo de ambiente onde eu esperava encontrar o meu professor no meio das férias. - Eu não sabia que você tinha interesse na Marvel.

- Você já devia saber que eu aprecio todos os tipos de arte, Ella. - O seu rosto de repente ficou mais sério e o seu tom mais profundo. Parecia um pouco desapontado, como se esperasse outro tipo de reação da minha parte.

Eu pedi desculpa, e ele me respondeu com um sorriso calmo, como se dissesse "está tudo bem". Conversamos um pouco, livremente, sem atrair olhares curiosos como na faculdade, e me contou que tinha sido convidado por um amigo que fazia parte da organização do evento, por isso ele estaria naquela cidade durante os três dias da exposição para ajudar a guiar as inúmeras visitas escolares. Ele estava entrando para o seu "turno" quando se deparou comigo, o que o deixou surpreso, mas feliz, por ver um rosto conhecido.

- Quando você acabar a visita, quer vir tomar alguma coisa comigo? Estou disponível a partir das cinco da tarde e estou hospedado num hotel aqui perto, por isso é só dizer. - O seu convite indiscreto me fez corar, e se me pudesse olhar ao espelho, provavelmente via que estava tão vermelha quanto o cabelo do Castiel.

- Na verdade eu... - É interessante a forma como o destino funciona. Eu nem sequer tive tempo para acabar de responder, quando exatamente naquele momento, Armin pulou de trás de mim e se apresentou, praticamente gritando.

Eu não sei há quanto tempo ele estava ali, mas de certeza que ouviu o que Rayan tinha acabado de dizer. Este ficou paralisado, pálido como um fantasma, com medo que o garoto fosse um aluno de Anteros Academy, no entanto, rapidamente o tranquilizei frisando que o meu acompanhante não era um estudante. Tentei amenizar o clima, fingindo que nada tinha acontecido e tentando puxar assunto com os dois, mas os meus esforços foram em vão e acabei tornando o ambiente ainda mais pesado.

- Entrem comigo. - O professor disse determinado, olhando para o relógio que trazia no pulso. Eu não sei se foi uma maneira de se redimir, ou de me agradar, mas eu inicialmente rejeitei a sua oferta educadamente, no entanto, o gamer me bateu discretamente no braço indicando para eu simplesmente aceitar. E assim o fiz, afinal, não tinha nada a perder e podia gastar o dinheiro da entrada em alguma lembrança da loja.

Guiados por Zaidi, saímos da fila e nos aproximamos do guiché que dizia "convidados" em letras maiúsculas. Ele tirou as suas credenciais do bolso, e as mostrou à empregada, pedindo então duas entradas, sinalizando com os dedos e apontando para nós de seguida. Ouvi-o a murmurar um "eles estão comigo" e a mulher por de trás do balcão apenas assentiu e carregou num botão, ligado à impressora, que cuspiu os ingressos em poucos segundos.

Seguimos novamente o homem, desta vez, para uma porta escondida junto da bilheteria que era guardada por um segurança de quase dois metros. Novamente, ele mostrou o seu cartão, e nós entregamos os nossos bilhetes ao grande homem musculoso, um bocado receosos, mas ele apenas olhou para os papéis e nos voltou a entregar, abrindo a porta por trás de si.

Ao contrário da entrada principal, nós entramos no final do recinto, especificamente na parte das lojas que vendiam tudo o que fosse alusivo ao vasto universo da Marvel. Logo, conseguimos perceber que esta exposição era maior do que a que tínhamos visitado á anos atrás, tinha provavelmente o dobro do tamanho e muitas mais coisas, e só a parte das lojas era o triplo. Armin parecia uma criança numa loja de doces, e eu não posso negar que também estava entusiasmada, uma vez que estava rodeada de imagens e figuras que me inspiravam.

- Agora tenho que ir que estão me esperando. Nos vemos por aí. - Concluiu, nos entregando uma brochura com o mapa do recinto. Ele acenou, e virou as costas em direção a um grupo de jovens que tiravam fotografias com a estátua de Thanos - de tamanho real - junto das bancas. - O meu convite se mantém, Ella.

- Ele estava claramente dando em cima de você. - O garoto rosnou ao perceber que o professor já estava longe o suficiente para não o ouvir. - E bem na minha frente! Foi legal ele nos deixar entrar sem pagar, mas ele claramente fez isso para te agradar. Mas o pior foi aquele "o meu convite se mantém", mesmo depois de saber que você não estava sozinha! E claramente que ele não queria que eu fosse também fazer de vela, nem eu queria fazer de vela!

- E você está com ciúmes? - Eu o provoquei, rindo. Ele me olhou, chocado com a minha pergunta, e mordeu o lábio inferior, irritado, deixando escapar um longo suspiro enquanto avançava na minha frente para começar a nossa visita. - Se você me ignorar, eu vou assumir que sim.

- Sim, estou! - Ele confessou, se voltando para mim de braços cruzados como um adolescente, um pouco corado. Eu não esperava que ele fosse tão sincero, mas isso me agradou e até me deixou um pouco contente. - Nenhum cara gosta de ver outros caras flertando com a ex, é normal! Ele está claramente interessado em você, é preciso ser bobo para não perceber. De qualquer maneira, você está livre de fazer o que quiser, e se quiser ficar com ele, eu respeito a sua decisão. 

Meus últimos sete dias com vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora