18. Feelings and Dragons Parte II

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O abraço foi longo, envolvida pelo seu cheiro e resguardada pelo seu corpo, eu me sentia em casa, em paz. Os seus dedos passavam pelas minhas madeixas, afagando a minha nuca e me puxando contra si. Eu me afastei, tentando olhar para o seu rosto, e notei o brilho na sua íris azulada. Ele também estava emocionado. Foram raras as vezes que vi Armin tão perto de chorar, mas o turbilhão de emoções destes últimos dias eram demais para aguentar. Novamente, dei por mim perdida nas suas orbes, vislumbrada pela sua feição. Nos encaramos por algum tempo, como se falássemos com os olhos, como se comunicássemos telepaticamente.

Delicadamente, o garoto segurou na minha face, limpando uma lágrima da minha bochecha com o polegar. Ele se aproximou um pouco, esperando por uma reação antes de se aproximar ainda mais. Ao contrário das outras vezes, eu não me esquivei, pensei que era apenas mais uma das suas provocações. Senti os seus lábios frios tocarem suavemente no canto da minha boca, me deixando completamente atônita. Não sabia como reagir, mas sentia as minhas maçãs a ficarem cada vez mais quentes, contrastando com o seu beijo gelado.

- Você está corada. - Apontou, me desafiando. Um sorriso sádico se formou no seu rosto, porém, não era maldoso, estava apenas zombando. Engoli em seco, visivelmente atrapalhada e tentei esconder com as mãos o rubor que se ia intensificando. - Que fofa, está combinando com os cabelos do Castiel.

- Armin! - Protestei, não parando de ficar cada vez mais encarnada. Eu sabia que eram apenas provocações, mas era involuntário. O nosso corpo reage a determinados estímulos de um jeito interessante: um toque pode te deixar arrepiada, um abraço pode te deixar nostálgica, e um "simples" beijo te pode deixar...Assim. Eu nem sequer devia agir desta forma, não deveria me deixar afetar. Mas afetou. - Estou apenas com uma reação alérgica aos croissants.

- A sério? - O garoto fingiu estar chocado, mas o tom de sarcasmo na sua voz tinha deixado claro que a mentira não tinha colado. - Nunca soube que você tinha alergias alimentares.

Mais uma vez, fui atraída para o passado, para a caixa de memórias que repousava no topo do meu armário. Não lhe respondi, e me apoiei em bicos de pés para a tentar alcançar. Uma camada fina de pó cobria a tampa de papelão, mas os momentos que guardava ali dentro estavam imaculados, como se fosse uma cápsula do tempo.

Sentei-me no sofá, aconchegando-me nas almofadas decorativas, e pousei delicadamente a caixa no meu colo, entreaberta. "Tenho algo para te mostrar", murmurei, e o convidei para se juntar a mim, sinalizando com a mão onde se deveria sentar. Ele assentiu, e se abancou, debruçando o seu corpo sobre o pacote. Como se estivesse a libertar os males aprisionados na Pandora's box, levantei por completo a tampa, hesitando, receosa.

Não era a primeira vez que tinha revirado aquelas lembranças, era reconfortante ler cada bilhetinho devidamente dobrado, olhar para cada fotografia e reviver cada momento na minha cabeça. Algumas cenas magoavam mais que outras, haviam imagens que faziam o meu estômago revirar, aquelas malditas imagens onde estávamos nós os dois, felizes, apaixonados. Apesar de não admitir, ainda doía.

Demos por nós a percorrer as fotos, uma por uma, fazendo comentários idiotas e troçando com a mínima coisa, fosse as nossas caras, as nossas poses ou as nossas roupas. Haviam fotografias que pareciam centenárias, memórias distantes, pessoas que não via à anos e de quem, infelizmente, não tinha notícias. Como é que estava a Bia, a Violette, o Jade e o Dajan? Até tinha fotos do Dake, no dia da corrida de orientação, junto do seu tio, Bóris. Inúmeros momentos da minha vida estavam ali, o meu primeiro dia de aulas junto de Kentin, baixinho e com óculos com aquelas lentes que lhe escondiam a cara inteira, o dia em que os gémeos chegaram a Sweet Amoris, o concerto, a peça de teatro, o piquenique do parque e o jantar que correu horrivelmente mal, a festa da Íris, o baile, a exposição da Marvel, momentos pequenos que tiveram um impacto tão grande na minha vida.

Meus últimos sete dias com vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora