24. Feelings and Dragons Parte VIII

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Encarei a garrafa, metade vazia - ou se virmos pelo lado positivo, metade cheia - e libertei um longo suspiro ao perceber que, tinha, de fato, exagerado. Merda, merda, merda! Fui uma idiota ao pensar que isso iria resolver os meus problemas, enquanto que, na verdade, só tinha os agravado. As minhas pálpebras pesavam, e eu sentia a minha cabeça a girar enquanto o ar tornava-se mais e mais sufocante. Pensei. Me forcei a pensar. Eu precisava sair daquele ambiente, eu tinha que sair.

Calambeei até à varanda, tropeçando nos atacadores das minhas botas que estavam mal apertadas, e, com alguma dificuldade, coloquei as mãos no vidro para empurrar a porta de correr.

Senti que todos me estavam olhando naquele momento, mas eu não quis saber, e me tranquei do lado de fora apesar de estar vento, de estar frio. As luzes da cidade brilhavam no fundo, mas eu só conseguia ver borrões na minha frente já que as lágrimas que me caiam dos olhos não me permitiam focar na beleza do cenário. Me encavalitei no guarda-corpo, esperando sentir alguma coisa para além da brisa que me congelava o rosto, olhei para baixo, para o chão, parecia mais perto da realidade, parecia que quase lhe conseguia tocar com os dedos. O sangue começou a chegar-me a cabeça, fiquei tonta, mas logo voltei à superfície como um nadador regressando do fundo da piscina. Respirei fundo, como se estivesse procurando por ar, e me deixei cair no chão, me segurando na barra de ferro. Visto de fora, era só uma bêbeda idiota, mas eu nem sequer tinha bebido tanto. Mentira, eu tinha bebido tanto. Era por isso que estava nesta situação.

Castiel entrou, perguntando se eu estava bem e se eu precisava de alguma coisa, de um copo de água, de um comprimido. Apenas neguei e o deixei fumar o seu cigarro em silêncio. Estremeci com o frio, mas eu não queria voltar lá para dentro. Ouvi a porta abrir novamente, e fechar logo a seguir, e, enquanto apoiava os meus braços no metal, um casaco cobria as minhas costas. Olhei para trás, o ruivo já tinha regressado para o interior, deixando apenas o odor a cigarro que ainda queimava no cinzeiro.

- O que foi isto, Ella?! - Armin questionou, firme, me fazendo estremecer com o som da sua voz. Engoli em seco esperando que continuasse, mas permanecemos calados durante uns segundos, nos encarando. Eu fitava os seus olhos azuis, hipnotizantes, e mordi o lábio inferior, tentando ler a sua expressão. Estava indecisa entre preocupado, magoado, ou chateado, mas talvez, naquele momento, se encontrasse num estado intermédio entre os três. Ele esperava uma resposta.

- Eu... - Novamente, borrões. Queria dizer que tinha sido o álcool a me deixar mais emocional, mas era mentira. As lágrimas quentes que escorriam pelo meu rosto deixavam um trilho gelado em contacto com o vento, era desconfortável. Não conseguia pronunciar sequer uma palavra sem ser impedida pelo meu próprio soluçar. - D-Desculpa. - Finalmente consegui balbuciar enquanto tentava suportar o choro. Me lancei, impulsiva, agarrando o garoto pelo tecido da sua t-shirt e o puxando contra mim. Escondi a face no seu peito, e me deixei desabar.

- Ei, porque é que você está se desculpando? - Agora a sua voz estava mais suave, no entanto, menos segura. Apesar de surpreendido pelo meu gesto repentino, o gamer não reclamou. Gentilmente, o moreno colocou o seu braço em redor do meu corpo, enquanto que com a outra mão, acariciava a minha nuca e afagava os meus cabelos. Se eu fosse um gato, de certeza que já estava a ronronar nos seus braços. Eu queria parar de chorar, queria parar de encharcar as suas roupas com as minhas lágrimas, porém, por um lado, eu precisava de me deixar levar pelos meus sentimentos. Será que era uma boa altura para me declarar? - Eii, o que quer que tenha acontecido, já passou, okay? Está tudo bem.

- Armin... - Levantei o meu rosto, voltando a fitar as suas orbes azuis e continuei, desta vez mais calma. - Eu fiquei te evitando a noite inteira. O mínimo que te devo é um pedido de desculpas.

Meus últimos sete dias com vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora