16. Walking Evil Parte IV

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Hyun concordou em guardar o Snorlax até voltarmos, já que tinha desperdiçado a maior parte do seu dinheiro naquela competição boba. Eu tentei lhe pagar, mas recusou, se culpando por se ter deixado envolver em demasia pela adrenalina. Agradeci novamente, e então, eu e o gamer partimos em direção ao grande objetivo da noite: uma estrutura que de longe parecia uma espécie de casa mal assombrada, mas sem ter aquele aspeto centenário e de certa forma luxuoso - como se coisas paranormais só acontecessem em casas de famílias ricas-, mas sim algo mais bunker militar.

O local estava bem realista, tinha as paredes enferrujadas, as janelas cobertas com tábuas de madeira com um aspecto meio apodrecido, havia até uma antena parabólica no topo do telhado de placas de metal, bem como a porta principal meio destruída e barris de óleo na entrada que complementavam aquela atmosfera apocalíptica. Não estávamos de todo esperando por isto, afinal, estávamos numa simples feira de diversões, por isso, nossas expectativas não eram muito altas, mas só o cenário exterior nos tinha deixado completamente boquiabertos.

- Oh meu deus, eu não sabia que era esta escape room... - Antes de chegarmos à entrada, Armin parou, segurando na minha mão para me impedir de avançar mais. Ele tinha se apercebido de algo, e isso o estava preocupando, podendo-se observar facilmente a inquietude no seu rosto. Ainda um pouco hesitante, e enquanto olhava fixamente para o edifício, levou a mão ao celular pesquisando por algo no motor de busca. Eu tentei espreitar pelo canto do olho, mas só conseguia ler palavras aleatórias num fundo branco, por isso, decidi apenas esperar pelo seu veredicto. Depois de alguns "hum", e de, talvez, dois minutos de scroll em notícias, finalmente acenou com a cabeça positivamente, prosseguindo. - Confirmado, é o que eu estava pensando... Esta é das piores de todo o país, e não no sentido da dificuldade dos puzzles, mas do terror que eles fazem te passar lá dentro enquanto você tenta os resolver. Eles têm atores com maquilhagens quase do nível de The Walking Dead e que fazem de tudo para que você desista e, resumindo, a maior parte das pessoas nem passa da primeira sala com o medo.

- Oh, por favor, nem deve ser assim tão mau. Se são atores, e você sabe que aquilo é falso, porque desistir? - Eu ri, tentando desacreditar o que ele estava me contando. Fiquei um pouco nervosa, porém, não me deixei afetar, afinal, se fosse assim tão mau, eles não estariam fazendo uma "tour" pela França em feiras de diversões, certo? - Se você estiver com medinho, podemos sempre ir até aos carrinhos de choque, mas os dos bebés.

- Ora, ora, a senhorita Ella está me provocando... - Um sorriso desafiador se formou no canto dos seus lábios. - Eu só fiquei preocupado por você, porque se fosse por mim, eu já tinha corrido pela aquela porta a dentro destruindo todos o que tentassem me impedir de ganhar. Mas já que você está tão confiante, não podemos desistir.

Concordei, e estendi-lhe a minha mão, afinal, estávamos a fazer um acordo, uma aposta: não podíamos sair até finalizar o jogo. Ele a apertou, assertivo, mas a sua confiança não parecia de todo honesta. Acho que no fundo eu sabia que era uma má ideia, mas ainda assim eu queria mostrar que também era forte, corajosa: um bom character devolpment para quem jurava que havia um fantasma no porão e correu de medo do Lysandre quando o viu pela primeira vez. Mas desta vez eu sabia que nada era real, por isso, o quão assustador haveria de ser?

Passamos o arame farpado, e ignorando as placas que diziam "keep out, zombie research zone", avançamos até à porta. Um dos funcionários, vestido com uma espécie de farda militar estava vigiando a entrada, de braços para trás e rosto trancado. Os seus olhos verdes reluziam com a luz esbranquiçada da lâmpada de emergência, e, por algum motivo, ele parecia familiar. Franzi as sobrancelhas, e semicerrei os olhos tentando me focar no homem, que escondeu parcialmente a cara com o chapéu, o que estranhei de imediato. Agi um pouco por impulso, mas me aproximei dele e me abaixei, esperando descobrir a identidade do misterioso militar.

Meus últimos sete dias com vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora