20. Feelings and Dragons Parte IV

95 18 0
                                    


 Queria pensar que era apenas uma visão, uma alucinação, alguém apenas muito similar, mas era inegável. Ali, no corredor, estava Lucia e Philippe, sorrindo, entusiasmados com a surpresa que estavam a fazer. Bem, de certo que eu estava surpreendida, mas infelizmente, não da forma mais positiva.

Fiquei uns segundos os encarando, de boca aberta, segurando na porta, estática: não sabia como reagir, o que dizer. Parece que tinham acertado na pior altura para aparecerem. Porque é que não avisaram? Porque é que eu não soube antes?

Eu consegui ver o sorriso do meu pai a desaparecer no momento que viu Armin, apenas de toalha, bem no quarto. A minha mãe parecia envergonhada, segurando no braço de seu marido como se estivesse dizendo que voltariam depois. No entanto, papai não se moveu.

- Eu me lembro de você, garoto! - O homem declarou, autoritário, se dirigindo ao gamer que tentava procurar um sítio para se esconder. Isto era mais constrangedor para ele do que para mim, ao menos, eu estava vestida. - Armin, certo?

Bleffando, claro, típico do meu pai. Ele sabia perfeitamente quem era, mas tinha que fazer a pergunta para nos deixar mais envergonhados. O moreno apenas assentiu, tímido, não tendo sequer coragem para responder decentemente à questão. A ruiva voltou a puxá-lo pela camisa, tentando o arrastar de volta para os corredores, porém, novamente, ele ficou parado, nos fitando.

- Philippe, eu acho que não é a altura melhor para... - Interviu, calma. Ela sempre foi mais compreensiva sobre este tipo de assuntos, contrastando com o lado mais protetor do meu pai. - Ella, nós queríamos te fazer uma surpresa, mas, talvez não tenha sido uma boa ideia aparecer sem avisar.

- N-Não... - Gaguejei, como se estivesse com as palavras presas na garganta. Eu não sabia o que dizer, como explicar. - Não é culpa vossa.

- Ella! - Uma voz familiar surgiu por trás dos meus pais, e eu larguei um suspiro de alívio ao ver Alexy com as roupas nas mãos. - Desculpa a demora, mas eu meio que me distraí no meio de tantos outfits que tinha no clo... - Parou, se apercebendo da presença dos dois adultos. - Wow Armin, duas reuniões familiares num dia. Algo que me diz que isto não foi planejado.

- E-Eu vou me vestir! Com licença. - O garoto desapareceu de novo para dentro do banheiro, segurando desajeitadamente nas roupas que o seu irmão lhe entregara. Após alguns minutos, surgiu novamente, desta vez completamente vestido com umas calças pretas simples e uma t-shirt de um festival de verão de à anos atrás. Talvez era a peça mais normal que o outro rapaz tinha no seu armário. - Vamos indo, Alex? Os nossos pais estão nos esperando! Te vejo mais tarde, Ella?

- Mas eles nem sequer saí... - Alexy foi interrompido com uma cotovelada de Armin, e com uma rápida troca de olhares, o gémeo mais novo finalmente percebeu a mensagem: tinham que ir embora o mais rápido possível. - Oh, pois é, eu esqueci que mamãe queria ver as lojas. Pelos vistos vamos ter um funeral em breve.

Os dois saíram apressadamente, me deixando sozinha no momento mais constrangedor da minha vida. Não os culpava, se tivessem ficado por mais uns minutos, era provável que o gamer não saísse do campus vivo. Fazia tempo que não me viam com algum rapaz, e, no fundo, para Philippe eu ainda era a sua garotinha inocente.

Convidei-os a entrar, sinalizando com a cabeça para estarem à vontade, permanecendo calada. O silêncio que pairava no ar era ensurdecedor, desconfortável até. Lucia observava o ambiente, provavelmente impressionada com o estado imaculado do quarto, realmente, eu tinha me esmerado.

A mulher não pode deixar de notar que, no caixote do lixo por baixo da minha secretária, estavam os sacos de papel que, outrora, embrulhavam os croissants. Era impossível que ela não reconhecesse o logotipo da pastelaria e não tivesse associado imediatamente aos nossos cafés da manhã nas férias de verão.

Meus últimos sete dias com vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora