21. Feelings and Dragons Parte V

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Não consegui responder, e apenas acenei com a cabeça enquanto esboçava um sorriso. Falso, amarelo, mas os meus olhos não mentiam. O desespero, o desconforto, o pedido de socorro espelhado nas minhas íris. Morgan era inteligente, perspicaz, e, apesar de não ser preciso ser um génio para entender, o garoto rapidamente percebeu que alguma coisa não estava bem, e associou, quase imediatamente, o que estava se passando. Armin, pais, eu, meus pais, uma maldita reunião familiar. Ou.. Ex-familiar? Será que aquele dia conseguia ficar mais constrangedor?

- Aqui é horrível para estacionar! Devíamos ter deixado o carro na faculdade e fazer o caminho a pé. - Vitória entrou no estabelecimento, guardando as chaves do Honda na sua bolsa. Estava distraída, comentando com o seu marido, que a acompanhava, o motivo da sua demora. Parou, ao reparar em mim e nos meus pais, e levou a mão à boca, incrédula. - Ora bem, que coincidência engraçada. Lucia, Philippe, à quanto tempo?!

- Realmente! Aposto que se tivéssemos combinado, não ia ser tão certeiro! - Mamãe respondeu, entusiasmada. Infelizmente, devido ao trabalho, a relação entre os nossos pais nunca foi muito próxima, mas das poucas vezes que estiveram juntos tinham se dado bem o suficiente para conversar durante umas boas horas. Conversas aborrecidas de adultos, trabalho, economia e conversas sobre o nosso futuro (que eram as piores, inclusive já estavam combinado com quem os nossos filhos ficariam quando precisássemos de nos ausentar.) - O que acham de ficarmos todos juntos? Eu acredito que o garçom não se importe de juntar duas mesas.

Talvez não fosse tarde demais para ir embora, talvez se eu me escapulisse discretamente ninguém ia notar que fugi, talvez ninguém questionasse. Não. Toda a gente ia reparar, provavelmente viriam atrás de mim. Pior ainda, iam fazer questões.

Ainda tinha esperanças que o empregado rejeitasse aquele pedido, ainda tinha esperança que não houvesse espaço, que tínhamos que comer em mesas separadas. Eu até já tinha planejado em que lugar me iria sentar para evitar cruzar olhares com o gamer, de todos os ângulos possíveis.

Mas não, a sorte não estava do meu lado, e enquanto o garçom nos encaminhava para o fundo do restaurante, Armin segurou no meu pulso.

- Está tudo bem? - Ele perguntou, baixinho, me puxando ligeiramente para mais perto de si. Não, não estava tudo bem, mas agora que ele me tocava, eu me sentia mais calma, mais relaxada. Não estava tudo bem, mas ele me fazia estar bem. Apenas assenti, desviando o olhar. - Eu também estou um pouco desconfortável, especialmente depois de... bem, você sabe. Desculpa ter ido embora tão rápido, mas acho que foi o momento mais constrangedor da minha vida.

- Você não precisa de se desculpar, sério. - Olhei para cima, e, enquanto falava, os meus olhos reencontraram os seus. - Se você ficasse mais um segundo, o meu pai provavelmente iria cometer homicídio. - Deixei escapar uma risada. - Ele ainda pensa que eu preciso de ser protegida, que ainda sou uma garotinha indefesa. Acho que já tenho idade suficiente para decidir por mim.

- Você não precisa se preocupar, eu já derrotei o chefão uma vez. Não foi fácil, mas... Eu não me importo de repetir. - Brincou, abrindo um sorriso desafiador. Merda, o que ele queria dizer com isso? Que voltaria a conquistar o meu pai? Estas mensagens ambivalentes me deixavam ainda mais confusa, mais perdida. Era apenas uma piada, ou havia um pouco de verdade nas suas palavras? - É melhor irmos.

O garoto tinha razão, mais à frente, à mesa, toda a gente nos encarava, curiosos. Ele ainda segurava o meu braço, delicadamente, como se eu fosse frágil, e penso que sequer tinha notado na nossa aproximação. Era difícil não chamar a atenção assim.

Juntamo-nos aos restantes, calados, e sentamo-nos frente a frente nos dois lugares que sobravam no canto da bancada. Philippe nos seguia com os olhos, e a expressão no seu rosto não escondia o seu descontentamento, o sobrolho franzido, as rugas marcadas na testa, porém, não parecia tão furioso quanto antes, apenas desconfiado.

Meus últimos sete dias com vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora