Meus últimos sete dias com você

1. Reencontros

Eu pensava que nunca mais voltaria para esta cidade, mas a verdade é que o destino nos surpreende. O ônibus parou bem em frente da Anteros Academy, tirei os meus fones de ouvido e junto de outros estudantes desci do veículo com as minhas malas nas mãos e as arrastei pelo asfalto até chegar aos portões de ferro do grandioso edifício que seria a minha nova universidade por este último ano. O vento soprava e bagunçava os meus longos cabelos enquanto as folhas avermelhadas das árvores rodopiavam à minha volta até caírem no chão de cimento.

O meu celular vibrou, era uma mensagem de Rosalya dizendo que estava me esperando em frente do prédio de artes. O meu coração estava batendo forte, já não conversávamos á bastante tempo pois tínhamos acabado por perder o contacto quando me mudei, mas eu confiava que não ia ser estranho para as duas. O pensamento de rever determinadas pessoas me deixava ansiosa e nervosa, mas eu não podia me focar nisso, eu prometi a mim mesma que ao voltar aqui não podia me deixar levar por memórias do passado.

- Meu Deus! Não estou acreditando! - Uma voz familiar soou por de trás de mim. Era Rosa, os seus longos cabelos brancos agora estavam pela altura do ombro e ela estava bem mais adulta. Eu a abracei, emocionada, e ela retribuiu o gesto, bastante feliz com o nosso reencontro.

- Calculo que você esteja cheia de coisas para me contar! - Eu disse, entusiasmada. Fazia anos que eu não tinha novidades dos outros estudantes de Sweet Amoris, e honestamente, a curiosidade estava me matando. - Ainda tem contacto com a galera do nosso grupo? Como estão os gémeos?

- Alguns alunos foram embora e outros ficaram... - Ela me respondeu, com um sorriso nostálgico. - Mas quanto aos gémeos... O Armin.. Como dizer.. Ele pegou gosto pela pirataria. E você se lembra do que houve naquela época né...

- Claro... Ele foi parar na polícia! - Respondi. A memória do Armin sendo levado por dois policiais bem à frente da escola passou pela minha mente. Na altura eu estava bastante assustada e preocupada, mas no final acabou por dar tudo certo. Dizer o nome dele já não me afetava tanto quanto antes, mas ainda assim falar sobre ele após tantos anos me deu uma pontada no peito. Ignorei esse sentimento, e me foquei no que Rosa estava contando.

- Bem, ele quase foi parar na polícia novamente, mas ele teve muita sorte. - Ela continuou, animada. - Ele criou toda uma reputação e ao invés de ser pego novamente ele foi contratado por uma enorme empresa de segurança informática.

- Esse é o meu garoto! - Eu retorqui, alegre. Rapidamente me toquei que eu tinha usado a palavra "meu", e corei um pouco esperando que a minha amiga não tivesse notado. - Não me surpreende nada, eu sabia que ele era super inteligente. Fico contente que tenha dado certo para ele.

- Você está bem diferente. Já ele... Continua igualzinho. Na verdade, nós nos vemos o tempo todo quando ele vem à cidade. Pode ser que você tenha a sorte de se reunir com ele.

"Reunir com ele", estas três palavras ecoaram na minha cabeça. Era exatamente isto que eu queria evitar, eu não saberia lidar com rever o Armin de novo. Senti uma dor na barriga enquanto pensava nisso. Foi bem difícil para nós nos separarmos um do outro. Em um ano só nos conseguimos ver três vezes. Era difícil para os nossos pais pagar passagens de trem todos os finais de semana e nem tínhamos condições para tal. A distância acabou nos separando e apesar de tudo, foi uma decisão de ambos. Depois do nosso término, o Armin e eu nunca mais nos voltamos a falar. Doeu muito, mas foi necessário. Já se passaram três anos sem trocar uma palavra com ele e a esperança de o rever estava a dar cabo de mim, como ia ser o nosso reencontro? E quando?

- Foi bom te ver, mas prometi ao Leigh que o ajudaria com a loja. - Rosa me fez voltar a despertar. Sacudi a cabeça e olhei para ela. - Mais tarde vem ter ao barzinho da cidade, o Snake Room, tenho uma surpresa para você!