9. O Rei Parte I

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Subi para o meu quarto em passos lentos, praticamente me arrastando até chegar à porta, ainda um pouco abalada com o que tinha acabado de acontecer. Eu estava confusa, primeiro porque ele disse que "eu estava mexendo com ele", depois estávamos tão perto que quase nos beijávamos, mas ele se afastou repentinamente e antes de ir embora afirmou que "estava em outra". Será que eu estava analisando demais a situação? O que aquela frase significava sequer? Será que ele estava namorando com alguma garota da cidade dele? Não! Ele já tinha dito que não namorava faz tempo. Um interesse amoroso então? Novamente, acabei mergulhando nos meus pensamentos, andando às voltas pelo cómodo revivendo aquele momento inúmeras vezes, considerando todos os cenários possíveis que justificassem o seu comportamento. Acabei desistindo, não consegui concluir nada e estava dando em doida: decidi que ia apenas ignorar e seguir em frente.

Levei a mão à cabeça quando percebi que para além de não ter devolvido o seu casaco, tinha deixado o meu uniforme do café nos bancos traseiros do carro. Por sorte, no dia seguinte não trabalhava, por isso preferi não o incomodar e o relembrar quando fossemos sair. Acabamos por não combinar nada e nem sequer decidimos se continuaríamos a lista ou não. Será que devíamos? Nós tínhamos ido longe demais com este jogo de ciúmes, mas, a culpa não foi da lista.

Apesar de tudo o que estava acontecendo, o mais importante nesse momento era pedir desculpas a Rayan. Peguei no meu celular e respirei fundo, começando a carregar nas teclas até ficar satisfeita com o texto que tinha escrito para o professor: eu lamentei, tentado justificar o porquê de eu ter agido como uma adolescente de quinze anos, e agradecendo não só pelos bilhetes mas também pela explicação, pela "aula" que me tinha dado. No fim terminei com "por favor me deixe te pagar um café, ou um drink na próxima semana para recompensar", e carreguei em enviar, me sentindo logo mais aliviada.

O céu já estava completamente escuro quando parei um pouco para relaxar, e me apoiei no parapeito da janela observando as estrelas. Coloquei música nos fones, baixinho, uma melodia agradável e com uma voz suave me acompanhavam enquanto eu apenas limpava a minha mente, ou tentava, dado que imagens daquele dia estavam sempre passando pelos meus pensamentos.

Decidi sair um pouco, desanuviar, e talvez até fazer uma corrida pelo campus para tentar me distrair. Olhei para a jaqueta de Armin pousada cuidadosamente na cadeira, e eu a agarrei, segurando-a contra mim antes de a pousar de novo e me dirigir até ao armário para pegar outra.

Como era de esperar, a universidade estava completamente vazia, dado que a maioria dos estudantes ou estavam de férias com a família ou estavam nos seus quartos trabalhando nas suas monografias. Eu caminhei durante uns minutos, observando detalhadamente os edifícios de uma maneira que nunca tinha parado para fazer antes, parando por fim na frente da faculdade de artes.

Em poucos meses ia ser a minha graduação, e eu podia finalmente entrar no mercado de trabalho, pagar o meu próprio apartamento e deixar de depender dos meus pais. O que futuro me iria reservar?

Quando estava prestes a regressar aos dormitórios, o meu celular vibrou no meu bolso, e eu o peguei no mesmo instante, ansiosa. Sem nem ver quem era, impulsivamente atendi a ligação, me sentando no primeiro banco de jardim que encontrei pelo caminho.

- Alô? Você está livre agora? - Ao contrário do que eu esperava, era Alexy que estava falando do outro lado da linha. Sua voz parecia mais séria, contrastando com a sua personalidade alegre e animada de sempre e eu me perguntei porque ele estaria ligando, dado que normalmente conversávamos sempre por mensagem. Teria acontecido algo de grave? - Vamos nos encontrar no Snake Room com a Rosa em trinta minutos.

- Mas está tudo bem? - Eu indaguei preocupada. Respondeu que sim, mas que apenas precisava de falar com nós as duas o mais rápido possível. Concordei, uma vez que os meus únicos planos eram assistir um seriado enquanto comia os salgadinhos que estavam escondidos debaixo da cama, portanto sair com os meus amigos iria me fazer bem. - Até logo, então.

Meus últimos sete dias com vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora