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1 ano depois...

Dandara

A exatamente 7 meses atrás minha vida ganhou um novo sentido, e o motivo de tudo isso foi o Murilo, minha gravidez tinha sido muito difícil, principalmente o início, todo dia uma nova surpresa, na maioria das vezes ruím, o que me fazia ter crises de ansiedade, ter medo, insegurança e afins, a única certeza que eu tinha era que queria ser a melhor mãe do mundo pro meu bebê. A gravidez foi quase toda bem difícil, e no dia do parto não foi diferente, sofri pra caramba, foi um parto normal mas um pouco complicado, foram horas e horas de dor, quando achei que não fosse mais aguentar o amor da minha vida finalmente veio ao mundo.

Hoje meu pinguinho de gente já tá com 7 meses, engatinhando pela casa toda, querendo brincar com tudo que vê pela frente e dando cada sorriso que me deixa fraca, posso está tendo o pior dia do mundo, mas quando vejo meu nenê olhar pra mim e abrir um sorrisinho banguelo eu não aguento de tanto amor, é incrível como ele me faz esquecer tudo, todos os problemas, todas as minhas feridas, tudo.

Luíza e Gustavo não saíram do meu lado em momento nenhum durante a gravidez e até hoje, Luíza e Jeferson tinham voltado e ninguém nem imagina quantas vezes Jeferson faltou quase nada pra descobrir do Murilo, só que Luíza faz de tudo pra manter esse nosso segredo, mesmo sendo difícil as vezes.
Guto morava no Rio e vivia aqui, ele babava muito o Murilo, e fazia questão de mostrar que estava do meu lado sempre, durante esse tempo todo sempre ele dava um jeitinho de dar em cima de mim, ele fazia questão de mostrar o quanto gostava de mim e que pra ele não era só uma amizade, e eu me sentia muito amada por ele, já tentei até dar uma chance a mim mesma de me permitir viver isso de novo, eu tinha certeza que dessa vez seria diferente mas eu nunca consigo chegar lá, parece que algo ainda me prende, mas mesmo assim Guto nunca desistiu de mim.

Desde a última que descobri do Rian eu nunca mais tinha ouvido falar dele, eu sabia que Luíza até sabia porque ela vivia lá em tia Vera, mas mesmo assim quando ela vinha pra cá, eu não perguntava e nem ela falava, era um assunto proibido pra mim. Quando ele tinha sido preso me angustiava não ter notícias dele, mas agora eu me sinto melhor em não saber, não quero nunca mais ter que me sentir mal por alguém que me fez tão mal, hoje a única coisa que me fazia lembrar dele era o Murilo, querendo ou não além de saber que ele era filho dele, o Murilo infelizmente parecia muito com ele, e não tinha nem como eu fingir que não porque até meus pais falavam isso, Luíza mesmo sempre dizia que de parecido comigo o Murilo só tinha os olhos.

Murilo era a coisinha mais linda que eu já tinha feito na minha vida, ele era moreninho, tinha os cabelos bem pretos com aqueles cachinhos abertos bagunçados que eu era apaixonada, ele parecia muito o babaca do Rian, tinha poucos traços que lembravam os meus, a única coisa que ele visivelmente tinha parecido comigo era os olhos, os olhinhos dele era uma mistura real dos olhos do Rian com os meus, um leve tom de castanho claro com verde, a diferença só era que os meus eram bem claros, que o dele, mas eram praticamente iguais.

Eu ainda morava com meus pais aqui em São Paulo, mas comecei a fazer alguns trabalhos de publicidade depois que o Murilo nasceu, meus pais viviam dizendo que eu não precisava trabalhar agora, que eu tinha apenas 17 anos e não precisava me preocupar com isso, e claro, viviam me incentivando a ir pra uma universidade cursar direito, e apesar de não ser o que eu realmente queria, justamente por ainda não saber o que eu realmente queria eu acabei indo na onda deles, tem 4 meses que entrei na universidade, e tô tentando ainda me interessar um pouco pelo curso pra ver se não desisto, mas continuo fazendo alguns trabalhos por fora e a meta por enquanto é poder trabalhar pra mim mesma um dia, ser dona do meu próprio negócio sem depender dos meus pais pra isso.

Eu sabia que eu ainda era muito nova, logo depois que Murilo nasceu eu fiz 17, porém eu sentia uma vontade enorme de conquistar minha independência, ter o meu cantinho, ser só eu e o meu filho, crescer, dar um futuro e um bom estilo de vida pro meu bebê, sem ter que depender dos meus pais pra isso, não quero conseguir minhas coisas e ficar sempre com aquela coisa de que só consegui por causa dos meus pais, quero mostrar que sou capaz de conseguir grandes coisas sozinha.

Rian

Fazia 1 ano que eu tava vivendo um inferno, e pouca coisa tinha mudado pra mim, as torturas continuavam, eu já tinha ido pra aquela porra de infermaria umas 5 vezes, isso porque as vezes aquele desgraçado me batia pra caralho e os guardas simplesmente só me levavam pra cela de novo como se nada tivesse acontecido.
O doutor Alberto já tinha tentado recorrer a várias paradas pra tentar me transferir mas nunca dava certo, sempre o desgraçado do delegado tinha que intervir, com certeza o filho da puta do Marques dava uma propina pra ele das boas.

Tirando a tortura física que eu passava pelo menos de 2 em 2 meses tinha a tortura psicológica, as vezes eu queria surtar, tacar o foda-se, fazer alguma coisa e meter o pé daqui mas eu tô ligado que no máximo só ia piorar minha situação, mas porra, eu ficava maluco de mais, todo dia olhando pras mesmas paredes, fazendo as mesmas coisas, olhando as mesmas caras, viver aqui era insuportável.

Eu sentia tanta saudade de tudo lá fora, dos meus amigos, da Débora, da Lara, da minha tia, quando os meninos vinham aqui sempre falavam que Débora já tinha tentado de tudo pra vim aqui, mas nem eles e nem eu deixava, aqui definitivamente não é lugar pra mulher, papo reto, não sei como esses caras deixam a mulher vir fazer visita.
Sentia saudade da comida da minha tia, o que a gente come aqui é horrível, as vezes prefiro nem comer, só não tô só o esqueleto porque como não tem nada pra fazer aqui faço atividade física com os caras lá no pátio e jogo bola quase todo dia, é o que resta.

Eu não sabia nada da Dandara, absolutamente nada, e mesmo assim eu não tirava ela da minha cabeça nunca, era mais uma tortura pra mim, lembrar dela. Eu pensava nela o tempo todo, todos os momentos que a gente teve junto nunca saiu da minha mente, eu tentava esquecer mas parecia impossível, a última vez que soube algo dela foi que ela tinha ido morar em São Paulo com os país e Jeferson me contou que ela cortou contato com geral lá, nem com a Débora que era amiga dela ela não falava mais, e o motivo ninguém sabia, ele disse que segundo Luíza era porque ela não queria por perto nada que fizesse ela lembrar de mim, e eu já imaginava isso. Doía saber que uma hora dessas ela deve tá seguindo a vida dela bem longe de mim, com outras pessoas e com certeza não deve mais pensar em mim como penso nela, por outro lado é melhor saber que ela tá longe, assim não vou correr o risco de sair daqui e me deparar com a cena dela ela com outro cara ou sei lá, porque a sensação que eu tenho infelizmente é que enquanto eu não conhecer outras pessoas e voltar a viver a porra da minha vida eu não vou esquecer aquela maldita.

No dia que teve aquela tentativa de fulga aqui deu certo pra uns, mas pra outros deu uma merda do caralho, Deco e Paraná foram pegos no mesmo dia e levaram uma surra do caralho, e hoje os dois pau no cu estão aqui comigo no nosso lar de novo, pegaram mais um ano de cadeia e é isso, cá estamos nós de novo juntinhos.

Do Morro Ao AsfaltoOnde histórias criam vida. Descubra agora