Do Morro Ao Asfalto

31°

Tinha uma semana que tudo tinha acontecido, uma semana que eu tava tentando falar com ela e ela não atendia nem respondia uma mensagem, eu sei que eu errei mas queria uma oportunidade de pedir desculpa, queria conversar com ela, não queria que ela saísse da minha vida assim, e nem agora.

Tinha uma semana que Jarbas e o Nunes tavam chantageando o tal do tenente usando o garoto, eles estavam tentando bolar algo pra fora do morro já que provavelmente o tenente vai tramar alguma pra vim com uma equipe de policiais e pode tentar uma invasão, ele não é besta e ninguém aqui é otário de acreditar que ele vai vim pegar o menino sozinho.

Ele tava mais calmo, só sentia muito medo e chorava chamando pela mãe. Eu ia ver ele quase todos os dias, eu me sentia um filho da puta de tá envolvido nessa merda e não queria carregar o peso na consciência caso fizessem mal ao garoto, então eu ia levar as refeições dele e garantir que ele esteja bem.

Eu não vi mais a Erika depois daquela noite, ela tá sempre junto com o marido e eles estão doidos atrás do menino e estão tentando descobrir quem tá por trás do sequestro. Liguei pra ela ontem pra tentar descobrir se eles tão sacando alguma coisa mas não deu pra gente conversar direito, então depois de muita insistência ela topou ficar comigo hoje a noite no AP dela, inventei mô lorota, disse que tava com saudade, que tava preocupado com ela e queria ficar com ela um pouco, só que na real eu tava com medo deles saberem de algo, afinal quem sequestrou o menino foi eu.

Cheguei no condomínio e subi pro AP dela, ela atendeu a porta, reparei de cara nos olhos inchados, ela me abraçou e eu fiquei meio sem reação mas retribui, caminhamos até o sofá e ela sentou e jogou a cabeça pra trás e limpou algumas lágrimas que caíram.

Rian: Como tu tá?

Erika: Mal né, meu filho tá com traficantes da Rocinha, por causa de vingança ou briga idiota, sei lá, do Marques, eu tô com medo, do que eles possam fazer com meu filho, eu não sei o que eles querem, já oferecemos dinheiro, já fizemos de tudo, os policiais estão investigando, tentando uma negociação mas eles não querem, só dizem que o que interessa eles é o Marques e enquanto aquele idiota tenta arrumar um jeito de não se dar mal nessa o meu filho tá lá, por dias e mais dias, eu não sei como ele tá, não se se tá comendo, se tá bem, faz dias que eles não deixam ele falar com a gente quando ligam - Desabafou enquanto chorava

Rian: Calma pô, pela lógica, pra eles conseguirem o que querem tem que deixar o garoto bem mano - Acariciei os cabelos dela e ela deitou no sofá colocando a cabeça em cima da minha perna

Erika: Eles são bandidos Rian, não tem pena de ninguém, são pessoas ruins

Rian: Nem todo bandido é tão ruim assim

Erika: Até parece que você não vê as coisas que a gente se depara no nosso dia a dia, não tem como defender um bandido, não tem como confiar, só de pensar que meu filho tá nas mãos desses monstros eu... - Interrompi ela

Rian: Calma, tu tem quer ser forte por ele, logo ele vai tá aí contigo pô

Erika: Me diz como você pode ter tanta certeza disso? Eu juro que eu queria ter convicção disso também

Rian: Tô tentando fazer tu pensar positivo, só isso - Ela levantou e sentou do meu lado novamente e me deu um selinho demorado.

Erika: O que mais me irrita é que eu acho que o Marques tinha que se reunir com outros policiais e ir logo atrás dele, mas não, ele tá com medo de ser pego pelos traficantes e fica pensando em mil e uma maneiras de como conseguir chegar lá de maneira que nem ele nem os outros policiais sejam prejudicados, ele está tentando descobrir quem foi que fez o sequestro, pelo amor de Deus isso a gente pode deixar pra outro momento, o importante é pegar o Guilherme e mais nada, já sabemos onde ele está e com certeza a pessoa que sequestrou não é a mesma que está com ele