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Dois meses que eu tava na rua de novo, as vezes eu parava pra pensar na minha vida e caralho, era uma verdadeira montanha russa, do nada dava um giro louco que nem eu entendia nada, há cinco anos eu conheci uma mina que bagunçou minha vida de uma maneira que eu nunca achei que mulher nenhuma fosse conseguir, mexeu pra caralho na minha mente pô, nunca imaginei na vida que um dia ia deixar mulher nenhuma me tontear, me enganei bonito.

Pior de tudo é que o tempo só tinha deixado ela filha da puta pra caralho, perdeu o pouco de ingenuidade que tinha, virou um mulherão do caralho, decidida, daquelas que se tu fosse tentar enrolar quem saia enrolado era tu. No passado quem praticava a malandragem com ela era eu, agora ela quem tá me botando em baixo do pé e pisando sem dó. Eu ia atrás da minha cria sim, ela querendo ou não, isso era óbvio, a questão é que eu queria agir pelo certo, fazer as parada tudo certinho, até porque a última pessoa no mundo com quem eu queria errar era com o garoto, mas ficou claro e evidente que se depender dela eu não vou conseguir isso tão fácil não, mas beleza, deixa eu só resolver essa parada com o tenente filho da puta que eu me resolvo com ela depois e vamo ver quem bota quem na mão.

Eu ainda não fazia a mínima ideia do que ia fazer, já pensei em armar alguma, matar ele, mas assim que geral soubesse da morte dele a polícia ia fazer de tudo pra descobrir quem tava por trás e o medo que eu tinha de voltar pra aquele inferno só eu sabia, a vontade de torturar aquele filho da puta até a morte e fazer ele sentir pelo menos a metade de tudo que eu senti quando ele me torturava me deixava cego, tão cego a ponto de só conseguir pensar em vingança, mas seria arriscado de mais, já perdi quase 5 anos longe do meu filho, eu não quero arriscar ficar o resto da vida sem conviver com ele.

Pensei em falar com o Nunes, pedir ajuda dos caras, mas não quero dever favor pra eles não, conheço bem Jarbas e sei como ele vai querer me cobrar, eu só quero distância do crime, pô tô no meu trampo, tô vivendo sossegado de mais, as noites mal dormidas com aquele peso na consciência de ter feito coisa errada acabou tá ligado?! Eu consigo dormir tranquilo sem ter insônia ou pesadelos, eu tô vivendo numa paz que não vivia a anos, e eu não quero arriscar jogar tudo isso no lixo, mas eu precisava dar um jeito ou ia acabar caindo quando o desgraçado soubesse que eu tava vivo.

Sai de casa e fui pro asfalto, passei numa lanchonete perto da praia pra fazer aquele lanche mais reforçado antes de ir pro estúdio. Eu tava andando o tempo todo meio que em estado de alerta, toda vez que eu tava na pista eu ficava atento olhando pra todos os lados, nunca se sabe quando ele ia tá por perto e poderia me ver. Tava de boa fazendo meu lanche sentado de frente pro lado de fora, tinha uma sisma de ficar sentado de costas quando tava comendo em algum lugar, tava encarado algumas pessoas que caminhavam na praia, quando de longe eu vi ela, respirei fundo quando vi o filho da puta do Gustavo caminhando do lado dela com meu filho no colo, caralho como eu tinha ódio dessa merda de sentimento que eu ainda tinha por ela, namoral, talvez um tiro doeria menos que ver essa cena.

Terminei meu lanche e sai de lá indo pro estúdio, que não ficava muito longe já que era ali no outro lado da rua de frente pra praia mesmo. Evitei olhar pro lado durante meu trajeto pra não ser visto por eles também e entrei no estúdio.
A manhã passou rápido, fiz o que eu tinha de fazer e como era sexta não iria trabalhar a tarde, então depois de arrumar minhas coisas sai do estúdio me preparando pra dar uma andada do caralho daqui até a Rocinha, isso porque a casa de Débora era longe pra caralho da entrada do morro, só o que eu tinha de ladeira pra subir quando chegasse lá dentro ainda já me dava vontade de deitar num banco desses aí da praça e dormir até a preguiça sair da alma.

Sai andando quando resolver parar numa barraca de um vendedor ainda perto da praia pra comprar uma água, sentei em uma cadeira debaixo do sombreiro até ele pegar quando vi uma mulher de cabelos loiros caminhar em minha direção, quando percebi quem era revirei os olhos.

Do Morro Ao AsfaltoOnde histórias criam vida. Descubra agora