Rian| APRESENTAÇÃO

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Rian tem 22 anos, moreno tatuado, daqueles que sempre tá com o cavanhaque alinhado, olhos castanho claro, corpo mediano, nem muito magro, nem muito musculoso, 1,83 de altura.

(Não vou deixar foto dos personagens, vou descrever e vocês usem e abusem da imaginação).

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Minha vida nunca foi perfeita, nem de longe, desde moleque sofri pra caralho, e hoje geral se acha no direito de me julgar pelas minhas "escolhas", mas que escolhas? Se eu nunca tive. Todo mundo acha que escolhi essa vida porque eu quis, mas poucos sabem o que me fez entrar nessa porra e acham pouco eu comer o pão que o diabo amassou desde que vivo no crime.

Eu morava desde que nasci com a mulher que me colocou no mundo, mas nunca me deu amor, carinho, tudo que uma criança precisa além de cuidados, nunca conheci o meu pai, não faço a mínima ideia de quem seja, e hoje não faço mais questão de saber. Minha mãe nunca me tratou "bem", nunca me deu carinho, eu nunca entendi o porque, quando fui crescendo comecei a imaginar que talvez ela tivesse raiva do meu pai e descontasse essa frustração dela em mim, mas realmente não sei, nunca perguntei.

Morei com ela até os meus 12 anos, foram 12 anos difíceis, apanhava sempre sem nem saber o porquê, eu era uma personificação do capeta, reconheço, mas tudo que eu dissesse ou fizesse de errado era motivo de ela brigar comigo e me bater. Eu passava meu dia inteiro praticamente na rua, evitava sempre ir pra casa pra não ficar ouvindo ela brigar comigo, mas quando eu chegava também já sabia o que me esperava. Eu ia pra escola pela manhã, as vezes passava o dia na rua brincando só com o lanche da escola no estômago, as vezes almoçava na casa dos meus amigos, e na maioria das vezes fazia minhas refeições na casa de uma vizinha nossa, que sempre me acolheu, quando minha mãe dormia fora de casa e me deixava sozinho, quando ela saia pra trabalhar e não deixava comida, quando minha mãe me batia e eu corria pra casa dela, a tia sempre me salvava.

Um tempo depois que completei 12 anos ela sumiu, sem deixar rastro nenhum, eu tava dormindo, quando acordei pela manhã a casa tava vazia, achei que ela tivesse ido trabalhar, não me importei, fui pro escola, normalmente e quando eu voltei ela não tinha chegado ainda, almocei na casa da tia e fui pra rua, anoiteceu, voltei pra casa e nada dela, mas ainda achei normal, pensei que ela podia ter saído com as amigas ou saído com alguém, fui dormir, um dois, três dias se passaram, foi quando fui no quarto dela e havia poucas coisas dela lá, percebi que ela tinha ido embora, como sempre falava que ia quando encontrasse uma oportunidade. Senti um misto de emoções, por um lado, alívio, em saber que não ia sofrer mais na mão dela, por outro lado uma puta sensação de abandono e desespero, por saber que a partir dali eu não teria mais ninguém já que até onde eu sei, ela era a única família que eu tinha.

Sempre fui muito orgulhoso, nunca gostei de ficar mendigando ajuda de ninguém, depois que ela sumiu eu passei alguns dias sozinho naquela casa, tentei me virar com o que ela tinha deixado, mas com o passar dos dias só não passei fome por causa do lanche da escola e almoço na casa dos meus amigos. Foi nesse momento da minha vida que eu conheci Ricardo, Jeferson e Débora, se tornaram a partir dali meus melhores amigos, Ricardo sempre me chamava pra ir pra casa dele, almoçar, depois do colégio ou fazer qualquer besteira, mas nem sempre eu ia, já que eles moravam numa parte da favela longe da onde eu morava. Eles não sabiam muita coisa sobre mim, sempre fui difícil de me abrir, e eu não contei pra eles que a única pessoa que eu tinha meteu o pé e me deixou sozinho.

A tia que era nossa vizinha percebeu que minha mãe tinha sumido, daí ela me chamou pra morar com ela, fui meio receoso, mas ou era isso ou ia morrer de fome uma hora, morei com ela até os meus 14 anos, foi quando ela se casou com um cara que ela já tinha um lance a um tempo, depois que eles casaram e ele foi morar com a gente minha vida voltou a ser um inferno, tudo era motivo de briga e eu percebia que tia nena as vezes brigava com ele pra me defender, mas as vezes também brigava comigo acreditando nas coisas que ele inventava pra ela me mandar embora, antes que isso acontecesse eu mesmo disse que iria sair de lá, não queria causar discórdia entre eles, sabia que se tinha alguém que tinha que se retirar era eu, ali não era o meu lugar.

Conversei com tia nena e mesmo sem ter pra onde ir, sai de lá antes que fosse pelo ralo a mínima consideração que ela ainda tinha por mim, fui pro colégio e pensei pra onde eu iria, pensava em contar pros meus amigos, ou pelo menos pro Ricardo que era com quem eu era mais próximo na época, mas não consegui, voltei pra casa na hora da saída ainda pensando pra onde eu iria, foi quando passei em frente ao mercado do seu Aurino, ele tinha um mercado e uma pensão no fundo, daí eu fui até lá e conversei com ele, pedi pra ele me deixar ficar na pensão e como eu não tinha como pagar, disse que se ele me deixasse ficar eu trabalharia no mercado pra ele, e assim eu fiquei alguns anos trabalhando pra ele em troca de um quarto, e comida, o foda é que nunca tinha uma grana pra nada, quando queria sair com meus amigos, quando queria ir pra uma festa, ficar com alguém, ou simplesmente quando queria comprar alguma coisa pra mim, ele reconhecia isso pelo menos, sempre me dava um trocado pra eu conseguir me virar, mas era muito foda.

Assim eu vivi até meus 17 anos de idade, daí meus amigos já sabiam tudo que tinha rolado e o porque eu morava na pensão, foi aí quando eu comecei a frequentar mais a casa do Ricardo, já que era mais perto da pensão, sempre ia lá a noite que era quando eu tinha tempo, Ricardo já namorava com Débora e depois que a mãe dela se mudou para outra cidade ela passou a morar com ele e com tia Vera.

Tia Vera é uma das melhores pessoas que já conheci na vida, dez de mais, desde que comecei a ir na casa dela (com uma vergonha do caralho), a convite do Ricardo ou da Débora, ela sempre me acolheu, sabia da minha história com minha mãe porque o fofoqueiro do Jeferson já tinha contado, sempre insistia pra eu dormir lá, por ela eu viveria lá, se preocupava pra caralho comigo.

Com 18 eu consegui um trabalho em um outro mercado, lá do morro também, não era um salário, mas dava pra pagar a pensão e sobrava um trocado, então sai do mercado do seu Aurino e fui trabalhar no outro, trabalhava o dia todo, já que mesmo me arrastando consegui me formar, mesmo pensando em desistir todos os dias pelo cansaço de trabalhar e estudar.

Pouco antes de eu fazer 19 anos o mercado que eu trabalhava fechou, por motivos que até hoje eu não sei bem, coisa pessoal do dono, fiquei desempregado e sem ter como pagar a pensão, foi quando tia Vera insistiu pra que eu fosse morar com ela, eu fui mesmo com um pé atrás, tava cansado de viver morando de favor mesmo que tia Vera fosse uma pessoa totalmente diferente das outras que convivi, mas mesmo assim não posso deixar de agradecer a essas pessoas. Fiquei aquele último mês na pensão e fui morar com tia Vera, Ricardo e Débora, fora Jeferson que vivia lá, disse a ela que ficaria até conseguir um outro emprego, ela dizia que eu ficaria o tempo que quisesse.

Os meses se passaram, e eu pirava por rodar, rodar e não conseguir emprego, aquilo me deixava frustrado, eu já tendo casa, comida e roupa lavada, de uma pessoa que não tinha obrigação nenhuma comigo, não ter grana pra comprar o que eu queria, pra curtir com meus amigos como sempre gostei de fazer e pra ajudar em casa na mínimo, me deixava puto de mais. Eu nunca fui o tipo de pessoa que se influencia facilmente, nunca me deixei levar quando alguém tentava fazer minha cabeça, e olha que na favela o que mais vai ter é nego querendo te atrasar, mas sempre fui muito centrado quanto a isso, mas a dificuldade foi me apertando cada vez mais, eu não tava mais suportando, foi aí que essas influências começaram a ir entrando na minha mente, comecei a pensar em entrar pro crime, mas quando eu pensava em perder minha liberdade e as melhores pessoas que haviam entrado na minha vida, por causa de uma escolha eu começava a repensar, passei mais um tempo atrás de um trampo, e nada, no fim das contas eu não tinha muita escolha na vida.

Sempre fui grato a Deus por ter conseguido segurar a barra desde que a mulher que me colocou no mundo sumiu e me deixou sozinho, influência pra entrar pra vida do crime desde moleque eu sempre tive, mas sempre acreditei que um dia ia conseguir ser alguém na vida, coisa que com o passar do tempo eu deixei de acreditar, e quando eu vi já tava com uma arma na cintura, vendendo droga, fazendo cobrança de drogas aos moradores e ameaçando de morte quem não pagava, quando comecei a ganhar uma grana fazendo isso aluguei uma casa pra mim, era do outro lado da Rocinha, longe pra caralho de onde tia Vera morava, mas não deixava de ir na casa dela não, pra ela eu tinha arrumado um trampo e tava trabalhando honestamente, mal sabia ela que justamente pra ela não descobri eu aluguei a casa e pedi pra trabalhar em outra parte da favela, sim, eu escondi isso dela por dois anos, os únicos que sabiam e viviam me enchendo era Jeferson Ricardo e Débora, e tia nena as vezes, porque ela também sabia.

Eu ainda ia na casa de tia Vera, dormia as vezes, como sempre, como se não tivesse fazendo nada de errado, eu nem imaginava como ela iria se decepcionar quando soubesse, eu nunca tive coragem de contar pra ela, meus amigos falavam pra caralho mas não me deram as costas, mas ela eu tinha medo de mais de decepcionar.

Do Morro Ao AsfaltoOnde histórias criam vida. Descubra agora