Capítulo16

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— Ela não está aqui, chefe. Eu encontrei esses livros aqui em cima do sofá da sala. É o que procuramos? — perguntou um deles ao padre Miguel, o rosto que Jéssica reconhecera pela fresta.

— É claro que não. Esses são os volumes que ela roubou do quarto de Victor. Não o que ela estava procurando. Com certeza também está atrás dos pergaminhos sagrados, mas parece que começou mal. Já podemos ir agora. Ela deve estar no hospital. Terei de fazer uma visitinha a Victor. — respondeu Miguel. Os outros se entreolharam e saíram do apartamento, um por um.

Jéssica respirou aliviada, mas não ousou sair de baixo da escrivaninha por um longo tempo. Quando finalmente criou coragem e se esticou vagarosamente para fora, assustou-se com o tocar do interfone. “Com certeza é o porteiro que se deu conta dos estranhos que invadiram meu apartamento”, pensou.

— Olá, Jéssica! O senhor Cornélio está aqui e quer vê-la. Devo mandá-lo subir? — perguntou normalmente o porteiro do prédio.

— Não... Quer dizer... Sim... — gaguejou em resposta. Não sabia se fizera bem em deixá-lo subir. Cornélio não era de confiança e pelo que havia falado ao telefone, também estava envolvido com o que acontecera a Victor. Teve medo, mas já não poderia voltar atrás. Ela mesma havia consentido na subida dele. Olhou em volta, pensando em algo que pudesse ser usado como arma, caso ele tentasse alguma coisa contra ela. Não havia nada. Ele já estava ali e tocava a campainha incessantemente. O tempo se esgotara. Ela segurou uma pequena estatueta de metal que ficava sobre a mesa de centro da sala de estar e apertou entre as duas mãos.

— Pode entrar, Cornélio! — gritou, sem sair do lugar. A maçaneta redonda girou lentamente. A primeira coisa que ela viu foi a incrível careca de Cornélio, seguida por dois olhos arregalados e atentos. Ela escondeu a estatueta atrás do corpo, sentindo-se meio envergonhada por aquela atitude. Afinal, Cornélio ainda era o seu chefe no departamento de pesquisas da USP e ela lhe devia, no mínimo, respeito.

— Jéssica, você está bem? Eles estiveram aqui? O que fizeram? — perguntou o homem, aflito.

— Eles? A quem se refere, Cornélio? — Ela suspeitava agora mais do que nunca. Estava claro que ele fazia parte da conspiração que tentara acabar com Victor, assim como era igualmente claro que a próxima da lista era ela própria. Eles com certeza pensavam que Victor lhe contara mais do que deveria, embora para Jéssica, nada do que ele mencionara sobre antigas profecias ligadas aos erros de cálculo que ela descobrira ou traduções de pergaminhos parecesse mais do que meras especulações, como tantas outras que já ouvira. Agora a visita de Cornélio viera a calhar para confirmar sua suspeita. Ou então o que estaria ele fazendo ali?

— Eu não sei quem eles são. Não sei seus nomes se é isso que você quer saber. Preciso que você me diga o que sabe sobre a profecia. O que Victor contou? — insistiu ele.

— Por que está tão interessado nesse assunto, Cornélio? Essa história toda de profecia é papo furado, não passa de especulação sensacionalista de algum maníaco que não tem o que fazer e resolveu espalhar o pânico pela Internet outra vez — tentou despistar. — Por que você está tão interessado nesse assunto? Você é um desses maníacos? Não foi você quem divulgou essas sandices, não é?

— Jéssica, por favor, escute-me com atenção. A profecia é real, está acontecendo, só que mais tarde do que julgávamos. Sua vida está em risco e daquele seu amiguinho pateta também! Não sei até onde Victor lhe contou, mas existe um grupo dentro da própria Igreja Católica, formado por pessoas importantes, clérigos e cientistas unidos em prol de um único objetivo: acabar literalmente com todas as pessoas que têm conhecimento sobre a real data da profecia. Existem provas concretas de que isso é muito real. Você não vê? O aquecimento global, você acha que é o quê? O planeta que encontramos algum tempo atrás, você estava lá, você me acompanhou...

— E você nem sequer citou meu nome nas publicações — interrompeu ela, olhando para o chão e deixando transparecer toda a mágoa que sentia por Cornélio, desde a descoberta do planeta.

— Perdoe-me. Eu só não queria envolver mais ninguém nessa história toda. Mas isso já não tem mais importância agora. É muito mais sério do que você pensa. Vejo que Victor não lhe disse muita coisa, não é? Mas para eles já é o suficiente para matá-la. Temos que fugir daqui. O mais depressa possível, antes que eles voltem.

— Eles acabaram de sair daqui — contou. Narrou para Cornélio a invasão a seu apartamento duas noites antes e também a visita que recebera pouco antes de ele chegar. Cornélio preocupou-se com o fato de que o apartamento pudesse estar sendo vigiado. Ele temia pela vida dela e pela sua própria. Quando expulsara Victor de seu laboratório alguns anos atrás, foi para se proteger e proteger suas pesquisas. Estava muito próximo de descobrir toda a verdade.

— Eu estudei durante anos, tentando aprender algo que pudesse usar em minhas pesquisas. Outros árduos anos passei pesquisando sobre o novo planeta e outro astro chamado Herculovos. Finalmente em 1980, consegui encontrar Herculovos. Foi um dos dias mais felizes da minha vida! Eu já estava quase perdendo as esperanças e de repente em meio a uma busca por um satélite perdido: lá estava ele!

— O que é isso, um cometa? Um asteroide? — quis saber, curiosa.

— Ainda não temos certeza. Apenas detectamos um astro maior do que o planeta Júpiter, em rota de aproximação com a terra. Em 1993, tivemos a aparição do novo planeta. Era exatamente como os maias descreveram. Esse planeta deverá causar grandes alterações eletromagnéticas e gravitacionais na Terra. Tememos que a inversão dos polos seja causada por esses dois astros, ou pelo alinhamento do Sol com o centro da galáxia. Mas isso é outra história. Agora temos que fugir daqui!

— Mas eu não posso...

— Por favor, ouça! E temos que levar seu amigo conosco, ele também corre perigo! Victor estará seguro enquanto estiver no hospital. Já temos pessoas encarregadas de garantir sua segurança. Enquanto não receber alta, estará seguro e vamos adiar o máximo possível esse dia.

— Está bem, mas você dirige! — concordou finalmente.

Obrigada por acompanhar!  

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