Capítulo 10

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Ao chegarem ao hospital, foram levados imediatamente à unidade de terapia intensiva, onde Victor ainda respirava com auxílio de aparelhos e permanecia inconsciente. Jéssica o observava através do vidro espesso, com lágrimas nos olhos. Ele fora a única pessoa em quem ela pôde confiar desde que se mudara de vez para São Paulo, e sabia que ela fora sua única família enquanto esteve pesquisando no Brasil. Um policial, a mesma cópia de Sherlock Holmes que a interrogara no dia anterior, se aproximou, desviando-a de seus pensamentos tristes.

— Senhorita Jéssica Salles? — perguntou.

— Bom-dia, senhor... — ela interrompeu a frase, percebendo que não sabia o nome do policial.

— Michael Soares, investigador do setor de homicídios.

— Homicídios? Mas Victor não está morto — estranhou Ricardo.

— É claro que não está, mas temos suspeitas de que o incidente com o padre esteja ligado a cinco mortes ocorridas nos últimos meses. Precisamos que nos acompanhe até a delegacia, senhorita Jéssica, para prestar maiores esclarecimentos a respeito.

— Desculpe-me, detetive, mas eu não estava presente quando essa monstruosidade aconteceu e não vejo em que posso ser útil para vocês. Tenho certeza de que, se voltarem ao local do crime, encontrarão várias testemunhas que poderão esclarecer melhor do que eu.

— A que testemunhas se refere, senhorita? Por acaso está sabendo de algo que ainda não sabemos? Conversou com Victor antes de ele entrar em estado de coma?

— Não é nada disso, eu apenas pensei que...

— Pois não precisa gastar seus neurônios em vão. Deixe a polícia pensar pela senhorita. O delegado está esperando-a. Quer vê-la imediatamente. Por favor, devo pedir que me acompanhe.

— É claro, detetive. Será que posso me despedir dele antes? É só um minuto, por favor.

— Só um minuto — repetiu o policial e seguiu para a sala de estar. Jéssica não se sentiu segura com o tratamento rude do investigador. Não queria e não merecia ser tratada daquela forma. Que culpa tinha ela pela morte das cinco pessoas que ele mencionara e principalmente pelo espancamento de Victor? Ela sentiu-se tratada absolutamente como suspeita.

— Eu vou com você. Não fui com a cara dessa imitação de Sherlock Holmes.

— Imitação de Sherlock Holmes? — Jéssica não pôde deixar de rir com a comparação.

— Não ria, isso é serio! — Ricardo a repreendeu. — Esse cara é muito estranho. Desde ontem ele não arredou o pé aqui do hospital, a enfermeira da recepção me disse. Será que estava esperando você voltar ou Victor acordar para dar depoimento?

— Eu não sei, mas suspeito que estivesse mesmo esperando por mim. Deve achar que eu tenho alguma coisa a ver com isso, ou que ele podia ter me contado algo que explicasse o que aconteceu; ou talvez procure apenas alguma pista de quem seriam os agressores.

— Mas meus instintos estão me alertando sobre esse “detetivezinho”. Fique alerta. É certo que não poderei entrar com você, mas, por favor, chame se sentir que tem algo errado. O delegado também não deve ser “flor que se cheire”.

— Eu o chamarei. Fique tranquilo — disse ela para acalmar Ricardo, embora não achasse que estaria desprotegida dentro de uma delegacia de polícia. Seguiram no carro de Jéssica, atrás da viatura do investigador Michael. Ele não usava farda, assim como não usara no dia anterior e o carro não era uma viatura comum da polícia militar, mas parecia um carro comum, de um cidadão comum. Deveria ser policial civil, ou trabalhava à paisana para não chamar atenção no hospital.

Demoraram mais de uma hora. O trânsito estava muito lento, como era sempre em horários de pico. Essa era uma das coisas que ela mais odiava na cidade, depois da violência urbana, é claro.

O homem usou seu telefone celular para avisar da chegada de Jéssica. Logo um moreno baixo e barrigudo apareceu vestido em um terno preto e ainda com manchas de maionese e molho de tomate nos cantos da boca. Entrou em uma pequena sala logo à frente e indicou uma cadeira para ela sentar. Estava claro que Ricardo deveria esperar ali mesmo, e pelo jeito, demoraria um bocado.

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