CAPÍTULO 33

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O detetive recolheu-se para um dos dormitórios e logo voltou trazendo uma pilha de cobertas e travesseiros nos braços. Largou tudo sobre o sofá da sala.

- Você não acha que este sofá é muito pequeno para dois? - perguntou Ricardo. Jéssica sentiu vergonha por seu amigo ser tão exigente. Achava mesmo que o policial tinha sido muito gentil trazendo-os para sua casa para evitar que ficassem presos. Se é que realmente tinha sido como ele contara. Não pensava que tivessem direito algum de reclamar das acomodações.

- Não é pra vocês! Eu fico aqui, montando guarda. Vocês podem ficar com os quartos. As camas já estão arrumadas. Sintam-se em casa! - disse ele, estendendo o lençol branco sobre o sofá.

- Não... Isto é... Não precisa sair da sua cama por nossa causa... Nós podemos nos virar por aqui mesmo, não é, Ricardo? Eu...

- Já está resolvido. Vocês ficam com os quartos. Eu vou ficar aqui mesmo. Se alguém tentar invadir a casa, é melhor que encontre a mim primeiro. E ao meu revólver - disse ele mostrando a arma que trazia debaixo do sobretudo marrom. Jéssica e Ricardo se entreolharam mais uma vez e foram para os quartos.

A noite foi longa. Ricardo não conseguiu dormir. Fechava os olhos e via a imagem de Cornélio, chegando para levar Jéssica embora. Imaginava se o detetive o deixaria entrar sorrateiramente, no escuro, para que Ricardo não percebesse. Era estranho ele ter insistido para que cada um ficasse em um quarto separado.

O barulho dos latidos na viela era desconcertante, assim como o movimento dos carros que pareciam ir e vir durante todo o tempo, freando bruscamente no calçamento de concreto. Os vitrais das janelas de ferro tremelicavam constantemente por causa da vibração dos motores lá fora, enquanto ele se revirava de um lado para o outro.

O colchão de molas de Jéssica era macio demais. Suas costas estavam doendo e ela mal conseguia virar-se. Cochilava por alguns instantes, mas logo tornava a despertar a um movimento no assoalho da sala. Seu corpo gelava imediatamente, mas logo percebia que era somente o detetive fazendo sua "ronda". Pensou ter ouvido a porta ranger. Seus sentidos aguçaram-se, mas nada aconteceu. "Durma, você precisa descansar.", dizia para si mesma. Mas não conseguia relaxar. Já era um tormento dormir fora de casa, ainda mais com aquela sensação de perigo no ar.

Levantou-se, precisava tomar um pouco de água. Caminhou com passos leves, até a cozinha. O detetive não estava no sofá. A porta da frente estava entreaberta. Alguém teria entrado e dado um fim ao policial? Voltariam para pegá-la? O pensamento a fez tremer. Aproximou-se bem devagar e viu um vulto na varanda frontal. Um homem alto, musculoso falava ao celular bem em frente à janela do quarto onde Ricardo dormia. Jéssica olhou em volta. Não encontrou nada que pudesse ser usado como arma. Seu coração batia acelerado, enquanto ela prestava atenção aos cabelos negros do homem de camiseta branca e agasalho de inverno.

2020 - A Revelação (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora