Capítulo 20

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A porta tornou a se abrir, mas desta vez, não era nenhum médico ou enfermeira que entrara para examiná-lo de novo. Um rapaz moreno, usando sobretudo bege, uns óculos redondos com aro de metal meio enferrujado e um cigarro apagado na boca.  Aproximou-se de seu leito, mas não disse palavra. Passou um grande tempo apenas observando Victor, suas fraturas e hematomas. Carregava consigo uma espécie de caderneta, onde ia tomando nota de cada detalhe visto naquele quarto de hospital. Finalmente olhou para o rosto do padre e se apresentou.

— Eu sou detetive. Trabalho na delegacia regional criminal. Estou encarregado de lhe assegurar que ninguém vai incomodá-lo, ou atentar contra sua integridade física novamente.

— Foram eles que o mandaram aqui, não é? Diga pra eles que não vão me deter, mesmo aqui neste hospital, com a cabeça operada. Diga que eu sou muito mais forte do que eles pensam e que se eu morrer, alguém completará a missão por mim. Os seus esforços serão inúteis! Inúteis!

— Não sei de que está falando, padre, mas o senhor vai ter que explicar. Está insinuando que alguém o está perseguindo? Qual é a sua missão? Levar a palavra de Deus à humanidade? O senhor acha que hoje em dia alguém ainda se sinta ameaçado pela Igreja? Só pode estar brincando!

— Não se faça de bobo! Estou vendo que foi muito bem instruído, senhor. Mas devo alertá-lo que...

— Eu é que devo alertá-lo, padre! — interrompeu o detetive. — Não existe nenhuma conspiração antirreligião! Estamos investigando seu caso porque pode estar relacionado a cinco assassinatos ocorridos naquela mesma área, ou seja, sob nossa jurisdição. Somos pagos para investigar crimes e tem um maluco à solta. Não temos tempo para psicoses religiosas. Então, por favor, descanse e trate de se recuperar depressa. Precisa prestar esclarecimentos na delegacia regional criminal. O próprio delegado quer interrogá-lo.

— Ei, detetive! — tentou gritar Victor, quando o estranho policial ia saindo da sala — Por que não joga fora esse cigarro quando sair daqui?

— Eu não fumo. — respondeu o homem.

O policial bateu a porta atrás de si. A discussão deixara Victor em dúvida. Ou ele não tinha mesmo nada a ver com a conspiração, ou estava representando muito bem. Victor aprendera a ler o rosto das pessoas em todos esses anos trabalhando com gente, de quem ele muitas vezes precisava ouvir indesejadas verdades. Aprendera a decifrar quando estavam mentindo. As pessoas sempre deixavam passar despercebida uma contração muscular, um piscar de olhos, alguma coisa sempre as denunciava quando estavam mentindo. Aquele jovem não deixara transparecer nenhum sinal. É claro que tinha recebido um treinamento rigoroso, mas via-se que não possuía experiência suficiente para dissimular tão bem. Por hora, não se preocuparia com ele. Se houvesse alguma autoridade por trás daquilo tudo, certamente seria alguém bem mais poderoso que um simples detetive em início de carreira. Ainda mais um que se vestia daquela forma. Chamar a atenção não seria uma boa ideia para eles, Victor sabia.

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