Capítulo 17

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Os dois saíram em disparada rumo à casa de Ricardo. Jéssica queria muito ir até o hospital para ver se Victor havia dado algum sinal de melhora e se a cirurgia fora bem sucedida, mas Cornélio lhe garantiu que seria muito arriscado.

 Ricardo não tinha ideia do que estava acontecendo. Não queria ir para lugar algum, mas como Jéssica iria com ou sem ele, achou melhor não deixá-la ir sozinha.

— Para onde está nos levando? — perguntou ele. Cornélio não respondeu, apenas lançou um olhar gelado a Ricardo. Jéssica repetiu a pergunta do rapaz. Cornélio apenas afirmou que os levaria para um local seguro. Ricardo estava desconfiado. Queria falar com ela a sós, mas não podia dizer isso na frente do professor maluco. Estava convencido de que Cornélio fora enviado pelos padres que traíram Victor e certamente os estava encaminhando para a toca dos tigres de uma vez. Precisava dar um jeito de fugir e tirar Jéssica dali.

— Precisamos parar agora. Eu tenho que ir ao banheiro — tentou.

— Não pode esperar mais um pouco? — irritou-se Cornélio.

— Não posso esperar nem mais um minuto. É urgente, você entendeu?

 Pararam no posto de gasolina seguinte, mas Cornélio pediu que Jéssica permanecesse no carro. Alguém poderia tê-los seguido. Ela estava assustada e pronta para concordar com qualquer ideia de Cornélio.

            Ricardo precisava tirá-la do carro. Perguntou-lhe se queria comer alguma coisa, mas para sua decepção ela não quis.

— Vamos, Jéssica, aproveite a parada. Ninguém nos seguiu, veja, não há nenhum outro carro à vista. Pelo menos aceite água antes de continuarmos — insistiu Ricardo piscando a pálpebra direita para a moça. Ela entendeu que ele queria falar-lhe a sós e então desceu. Cornélio ia abrir sua porta para sair com Jéssica, mas ela o interrompeu antes que saísse do automóvel.

— Está bem, então eu aceito uma água enquanto Cornélio fica aqui e vigia a entrada — virou-se para Cornélio e continuou — Você nos avisa se vir qualquer movimento estranho, não é? Ele não respondeu, apenas acenou afirmativamente. Jéssica e Ricardo entraram na pequena lanchonete, na loja de conveniências do posto. Ricardo dirigiu-se a uma das mesas mais do fundo, de onde Cornélio não poderia vê-los. Pediram uma água sem gás, caso ele viesse ver o que realmente estavam fazendo e Ricardo pediu um pão de queijo, assim poderia justificar a demora.

— Jéssica, você ficou maluca? — repreendeu ele. — Esse cara não é confiável! Não acredito que se deixou levar pela conversa dele!

— Ricardo, os padres da casa paroquial estiveram no meu apartamento há pouco. Cornélio havia me telefonado minutos antes, alertando que eles viriam para me matar e a você também. Acha que isso é não ser confiável?

— Mas como ele sabia que eles iriam ao seu apartamento? Como ele soube da nossa visita à casa paroquial?  Você não percebe que seria impossível? Ele só pode ser do mesmo grupo dos padres de lá! Temos que sair daqui sem que ele nos veja. Só escapando para descobrir toda a verdade antes que seja tarde demais!

— Tarde demais para quê, Ricardo? Você ficou maluco? Não temos pra onde ir e além do mais, por que Cornélio faria questão de ir buscar você se não estivesse falando a verdade?

— Talvez ele esteja pensando que Victor me contou tudo o que contou a você. Ou que você mesma tenha me contado e assim, podem estar querendo se livrar de mim também! Eu vou embora agora, e você?

— Está bem. Mas como sairemos sem que ele nos veja?

— Pela janela do banheiro.  Tem uma estrada do outro lado do posto. Deve levar a alguma localidade aqui perto. Não tem ligação com a rodovia e ele não vai conseguir nos enxergar se ficarmos escondidos por um tempo naquela mata lá atrás — explicou ele apontando para um capão de mata nativa, visível pela janela lateral. Ela não queria concordar, mas teve de admitir que o plano poderia dar certo. Não sabia por que, mas algo lhe dizia que estavam tomando a decisão errada. Não gostava de Cornélio, mas ele fora convincente em sua versão dos fatos, o que a fizera sentir uma fagulha de confiança nele. Mesmo assim, achou melhor não arriscar, principalmente por causa de Ricardo. Não seria justo arriscar a vida dele por causa de uma intuição sua, afinal, há muito tempo ela deixara de confiar em intuições.

Saíram pela apertada basculante do banheiro masculino. Jéssica passou com mais facilidade, mas Ricardo tinha o corpo musculoso e gemeu ao encolher o abdômen na pequena abertura. Um idoso, que ia entrar no banheiro, ouviu os gemidos e decidiu voltar mais tarde. Ricardo caiu em cima da garota que ainda tentava levantar-se depois da queda. O desnível da construção fazia com que mais de três metros os separassem do solo, nos fundos. Ricardo não havia prestado atenção nesse detalhe quando deu a ideia de que fugissem por aquela janelinha. Ficaria dolorido pelo resto do dia.

Os dois correram para dentro da mata verde, o mais longe possível. Jéssica estava cansada. Precisava fazer uma pequena parada para retomar as forças. Sentia que não conseguiria dar mais nenhum passo adiante. Ricardo concordou em dar um tempo para descansarem. Sentaram-se em um pequeno barranco à beira de uma sanga. Ela quis tomar um pouco de água, mas Ricardo advertiu-a de que poderia estar recebendo o esgoto direto com os resíduos usados no posto de combustível.

— A água pode ser tóxica! — brincou ele. Ela sorriu discretamente. Permaneceram no local pouco mais de dez minutos. Acharam melhor prosseguir. Cornélio já devia estar sentindo a falta deles.

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