CAPÍTULO 28

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O delegado parecia muito mais irritado agora do que estivera na ocasião anterior. Deixara-os esperando por mais de uma hora em uma sala úmida, sentados em banquetas duras de madeira, enquanto tentava entrar em contato com o padre Miguel e o seu ajudante na casa paroquial da igreja matriz. Repetira a ligação diversas vezes, até que, finalmente alguém atendeu.

- Olá, aqui quem fala é o delegado Marcelo Rocha, da Delegacia Regional Criminal. Preciso falar com o padre Miguel. Com urgência! - dizia ele impaciente.

- Infelizmente o padre não pode atendê-lo agora, delegado. - A voz do outro lado da linha era de Carlo. Parecia calmo e voltara a transmitir aquela conhecida sensação de paz que vinha sempre com suas palavras. - Ele está em repouso. Sentiu-se mal depois da invasão de hoje à tarde e ainda se sente muito indisposto. Eu mesmo acabo de deixá-lo a dormir em seu quarto. Mas terei prazer em ajudá-lo pessoalmente, se necessário, delegado.

- Sim, vamos precisar da sua ajuda, rapaz. A senhorita Salles e o seu amigo aqui resolveram registrar uma queixa contra vocês dois. O padre Miguel também precisará prestar seu depoimento, contar a sua versão da história, você me entendeu?

- Mas como já lhe disse, o padre está com sua saúde debilitada momentaneamente. O senhor não vai abusar assim contra a saúde de um homem com a idade do padre Miguel, não é mesmo? Tenho certeza de que amanhã na primeira hora ele terá grande satisfação em ir até a sua delegacia e contará tudo o que o senhor precisar saber.

- Está bem. Mas minha vontade é de mandar uma viatura buscá-los agora mesmo. Vou respeitar seus argumentos em nome da saúde do padre. Estou esperando-os amanhã bem cedo, ou terei que tomar atitudes drásticas!

- Muito obrigado, delegado! E que Deus o acompanhe! - despediu-se Carlo, sorrindo baixinho.

- Amém - resmungou o delegado do outro lado da cidade.

Agora não podia fazer mais nada por Jéssica e Ricardo. Teriam que passar a noite na delegacia, até que o caso ficasse esclarecido. Era visível que os dois não tinham assaltado a casa paroquial. A menos que fossem ladrões de bíblias e batinas. Mesmo assim, o delegado ponderou que os dois poderiam mesmo estar sofrendo uma perseguição, talvez vinda dos inimigos de Victor. A mulher lhe contara que seu apartamento fora invadido mais de uma vez, e que seu professor e ex-chefe tentara raptá-la. Não poderia simplesmente mandá-la de volta para casa sem saber se os riscos eram reais ou uma mera invenção de uma cabecinha problemática.

2020 - A Revelação (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora