CAPÍTULO 31

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O local era escuro e apertado, bem diferente do espaçoso apartamento de Jéssica. Compunha-se de dois modestos dormitórios, sala conjugada com cozinha, uma espécie de escritório e um pequeno quintal, com churrasqueira. Na frente, uma varanda estreita, porém acolhedora e uma calçada ladeada por crisântemos que acompanhavam gentilmente os visitantes até o portão. Um odor agradável de incenso queimando exalava de toda a casa, infestando as cortinas leves e semitransparentes de tule cor de pêssego.

- Será que isso é realmente necessário? Quer dizer... Não poderíamos ir para a minha casa? Eu não me importaria que o senhor ficasse dormindo em um dos quartos de visitas, detetive - dizia Jéssica, ainda inconformada.

- Você deveria ficar feliz por eu ter convencido o delegado a deixar que eu a trouxesse pra cá. Geralmente ele deixa os envolvidos em crimes dormindo na prisão.

- Desculpe, eu não quis ofendê-lo, mas...

- E não ofendeu - interrompeu ele.

Ricardo observava tudo em silêncio. Não gostava daquele homem e desconfiava que ele tivesse algum interesse a mais em Jéssica. Não era normal que um policial, um investigador como ele levasse suspeitos para dentro da sua própria casa. Quando as pessoas precisam de proteção policial, mandam uma viatura vigiar suas casas, mas não as tiram de lá para um lugar como esse, sem a mínima segurança. Ricardo agora pensava que ele também poderia estar envolvido em toda essa história. Achara-o muito estranho desde a primeira vez que o vira. Será que foi Cornélio quem o mandou para tirar Jéssica de dentro da delegacia, onde ela estaria protegida?

- Ela tem razão! - disse Ricardo - É muito estranho que você tenha insistido tanto para nos trazer até aqui. Qual é a sua intenção?

- A minha intenção era não deixar que uma mulher passasse a noite na cadeia, junto com criminosos perigosos! Mas se preferirem podem voltar pra lá! A porta está destrancada, rapaz! - respondeu ele, em um tom ameaçador. Ricardo deu dois passos em direção ao detetive, com o peito estufado, como se fosse começar uma briga. Jéssica se interpôs entre os dois, fazendo uma careta para Ricardo, que entendeu o recado e se afastou.

- Eu não acredito que estão fazendo isso! - exclamou ela. - Olha, detetive, muito obrigada por nos oferecer a sua casa, mas eu acho melhor irmos para o meu apartamento...

- Não podem ir para lá! O delegado os proibiu! Ou ficam aqui ou voltam para a cadeia. O que preferem? - Os dois se entreolharam, mas não responderam.

2020 - A Revelação (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora