Spin-of - Parte 2

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Alguns anos depois

- Mamá, porfa! – Luna implorou e eu respirei fundo outra vez. Estávamos na sala de casa, tínhamos acabado de chegar depois de eu tê-los buscado na escola. Luís tinha ido direto tomar banho, por causa da aula de educação física. Eu não tinha mais nenhum ensaio aquele dia.

- Luna, você tem treze anos. TREZE. Você não vai passar o fim de semana na casa de pessoas que eu nunca vi na vida! – retruquei tentando me manter paciente e buscando na memória se havia feito minha mãe passar por aquilo alguma vez na vida. Pelo que eu me lembrava, não.

- Mas eu conheço, mãe – ela insistiu. – São amigos da escola e são só 3 dias. Bem, duas noites e dois dias, para ser mais especifica, sendo que vamos na sexta feira e voltamos no domingo. É pertinho daqui, Guadalajara não é tão longe assim e os pais... – a partir do momento em que Luna pronunciou "Guadalajara" eu não ouvi mais uma palavra do que ela disse, apesar de ela ter continuado tagarelando, até que eu a interrompi.

- Guadalajara? – perguntei arrastando a palavra e ficou claro para ela que eu não tinha escutado mais nada além disso, considerando a forma como seus olhos se arregalaram, tão idênticos aos meus.

- É, mas o pais da Briana vão estar junto, mamá – disse como se aquilo fosse o suficiente para me convencer. – E os avós dela também, já que a casa é deles.

- Luna, você está nessa escola há o quê? Três meses? Você mal conhece essas pessoas e eu NUNCA vi nenhuma delas, nem essa Briana! – argumentei e ela suspirou.

- Mas, mamá, ela é a minha melhor amiga! Eu vi os pais dela, eles são uns amores, eu juro. A senhora não confia em mim? – Luna insistiu, claramente aborrecida com a minha "desconfiança" e eu respirei fundo.

- Vem aqui, mi niña, vamos para o meu quarto – chamei e ela pareceu em dúvida por um instante, mas segurou minha mão e me acompanhou.

No caminho, parei no quarto de Luís para ver se estava tudo bem e ele estava fazendo o dever de casa e avisei que, caso ele precisasse, estaríamos no meu quarto e ele apenas assentiu, concentrado no que fazia. Entrei no quarto, fechei a porta, liguei o ar condicionado e puxei o edredom, ajeitando os travesseiros.

- O que a senhora está fazendo? – Luna perguntou desconfiada e eu sorri para ela.

- Senta aí, já volto – falei e saí apressada, indo até a cozinha e voltando com barras de chocolate.

- Achei que a senhora estava brava comigo – Luna disse ainda na defensiva quando entrei no quarto. Estava sentada na beira da cama, aparentemente desconfortável com a situação que não estava como ela imaginou que seria.

- Brava, brava, não. Só quero conversar civilizadamente com você – dei de ombros e ela relaxou um pouco enquanto eu me sentava e a chamava para se sentar ao meu lado. Dei uma barra de chocolate para ela e esperei ela abrir enquanto eu abria a minha. – Podemos? – perguntei quando ela colocou um pedaço na boca.

- Claro – respondeu e pareceu um pouco tensa.

- Certo... – soltei o ar e pensei um pouco antes de começar a falar. – Bom... nós já tivemos conversas sobre esses assuntos, Luna, e eu quero te lembrar que, além de sua mãe, eu quero ser, e acredito que sou, sua amiga, filha. Quero que você pense sempre "eu preciso contar isso pra minha mãe" e não "minha mãe não pode saber disso" – comecei e ela se virou para mim, os olhos arregalados.

- A senhora é, mamá! A melhor mãe e a melhor amiga do mundo todo – disse prontamente e eu sorri, me inclinando para beijar sua bochecha.

- Fico feliz por saber – respondi me ajeitando de novo e jogando outro pedacinho de chocolate na boca. – Primeiro, nunca duvide da minha confiança em você, meu amor, eu confio cegamente em você, ok? – perguntei e ela assentiu aliviada, se encostando nos travesseiros. – Segundo, apesar de confiar tanto em você, eu não confio em ninguém que eu não conheça profundamente para passar 1 minuto ao seu lado sem que eu ou seu pai estejamos presentes, quem dirá te deixar passar um final de semana há mais de 500 quilômetros de distância com pessoas que eu nunca vi, filha – continuei e ela me olhou, os olhos castanhos claros mareados e ainda um pouco arregalados. – Você e o seu irmão são o meu mundo, Luna, só a mera possibilidade de acontecer qualquer coisa com vocês... Deus, é como se estivessem arrancando um pedaço de mim... – minha voz falhou e meu nariz ardeu. Precisei respirar fundo para continuar. – Eu não quero te criar para ter medo de nada, não quero fazer de você uma mulher que tem receio do mundo, muito pelo contrário, quero te ver se tornar uma mulher destemida, que sonha e realiza, que não abaixa a cabeça pra ninguém, mas eu ainda não sou forte o bastante pra te deixar enfrentar o mundo assim, agora – falei e vi uma lágrima escorrer pela sua bochecha e ela a secou logo. – Você só tem treze anos, meu amor, e eu não consigo cogitar a possibilidade de te deixar viajar para outra cidade sem que eu, seu pai ou alguém que tenha a minha total confiança esteja com você – completei e ela deitou a cabeça no meu ombro, se aconchegando em mim.

Amigos Com Direitos (Chaverroni)Onde histórias criam vida. Descubra agora