Spin-of - Parte 4 (Final)

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Luna

Depois da conversa com a minha mãe, tomei um banho para clarear os pensamentos e fui conversar com o meu irmão, pedir desculpas por ter sido injusta com ele quando tudo o que ele queria era tentar cuidar de mim. Ele também se desculpou por ter agido de maneira exagerada, mas eu percebi que, se fosse o contrário, eu teria tido exatamente a mesma reação. Quando saímos do seu quarto e fomos atrás de nossos pais que estavam na cozinha, a mamãe estava desligando o telefone, depois de ter ligado para os nossos abuelos, e o papai a abraçou apertado enquanto ela escondia o rosto em seu peito. Nos escondemos no corredor, para que eles não nos vissem e acabasse o clima. Não conseguíamos ouvir o que eles falavam, mas percebemos que, apesar da maneira que estavam abraçados, não tinha acontecido mais nada, minha mãe só devia estar cansada e abalada pelas conversas desgastantes do dia.

A vi levantar a cabeça e sorrir para o meu pai, os víamos de perfil de onde estávamos, e ele beijou seu nariz, depois sua testa, o queixo e, por fim, lhe deu um selinho demorado, subindo uma das mãos pelas suas costas e adentrando em seus cabelos castanhos e sedosos, a puxando para mais perto com a outra mão. Luís e eu nos olhamos desconfortáveis por flagrar um momento tão íntimo, depois rimos baixinho.

- Se um dia eu casar, quero um casamento assim – Luís disse voltando a olha-los. Luís era romântico, cuidadoso e adepto de pensamentos feministas, a mulher que se casasse com o meu irmão teria muita sorte.

- Mas primeiro você vai precisar ter uma amizade colorida com a sua melhor amiga – respondi rindo baixinho e me virando para olhar nossos pais de novo. Eles tinham se separado do beijo, mas ainda estavam abraçados, minha mãe parecia em paz e meu pai a olhava como se visse um anjo. Eu também queria um casamento igual ao deles.

- Então eu preciso te tirar do posto de minha melhor amiga – Luís respondeu fingindo que estava vomitando e eu nos entreguei rindo alto.

- Temos espiões em casa agora? – ouvi a voz divertida do meu pai ao mesmo tempo em que Luís dava um tapa na minha cabeça.

- Cacete, hein Luna? – meu irmão reclamou saindo de perto de mim e indo para a cozinha. Olhei e minha mãe sorria divertida, ainda abraçada com meu pai que claramente segurava o riso.

- Não queríamos atrapalhar – dei de ombros, me aproximando.

- Vocês não atrapalham – mamãe respondeu com um sorriso fofo e meu pai se controlou para não gargalhar. Era obvio que tínhamos atrapalhado várias vezes, inclusive coisas muito mais intimas que um beijo carinhoso trocado na cozinha de casa.

- Achamos linda a relação de vocês – comentei dando de ombros, me apoiando na mesa e o olhar que meus pais trocaram foi tão lindo e intenso que eu senti meus braços arrepiarem.

Se um dia me casasse, eu queria aquilo pra mim. Nada menos do que aquilo. Eu não podia entregar meu coração e meu amor para alguém que não me fizesse sentir o que era obvio que meus pais sentiam um pelo outro. Além de testemunha, eu era prova viva do amor deles. A primeira prova. Como eu poderia sequer imaginar passar o resto da minha vida ao lado de alguém que não me proporcionasse sorrisos e olhares como aqueles? Eu sabia que o casamento deles não era um mar de rosas, o de ninguém é, as pessoas são diferentes umas das outras e tem defeitos, problemas surgem no decorrer do caminho, mas meus pais sabiam lidar bem com essas situações e eram tão parceiros um do outro... Sorri para eles e olhei para o meu irmão. Eu tinha certeza de que ele estava pensando a mesma coisa que eu.


Alguns dias haviam se passado e eu estava confusa. Martin mal falava comigo, me olhava como se quisesse, mas tivesse receio e eu não o julgava, não depois de como Luís agiu a última vez que nos vimos e "conversamos". Eu estava admirada que ele não tivesse revidado o soco ou procurado vingança nos dias que se passaram desde o ocorrido, não era o que os garotos faziam quando tinham o ego ferido? Buscavam vingança e uma forma de mostrar que eram "melhores" do que os outros? Aquela situação me deixava mais confusa ainda. E eu tinha a sensação de que eu deveria me desculpar pelo que havia acontecido, mas também não sabia muito bem como me aproximar e nem o que falar.

Amigos Com Direitos (Chaverroni)Onde histórias criam vida. Descubra agora