Wake Me Up

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Abro meus olhos lentamente. A luz forte do lugar doía minha visão um pouco desfocada. Logo meus ouvidos são preenchidos por bipes e vários passos no corredor, alguns rápidos e outros não. Passeio meus olhos pelo local e vejo uma pessoa sentada em uma cadeira perto de onde eu estava, seu pescoço curvado para frente. Estava dormindo. Sua silhueta me lembra um pouco a... Cameron. É Cameron quem está sentado ali.

Meus olhos aos poucos tem sua visão inteira de volta, confirmando o que eu quase tinha certeza.

Num clique tenho todas as lembranças de volta. A mensagem que Norman havia mandado e como saí desesperadamente em busca de meu pai. O acidente e agora o hospital. Passo a lingua por minha boca extremamente seca, olho para os lados, procurando algum copo de água. Vejo uma jarra e um copo na cabeceira da cama. Estico meu braço dolorido, tentando alcançar o copo. Quando estou quase desistindo, uma mão o pega, a mão de Cameron. Ele se estica e o alcança até mim, seus olhos quase fechados de sono.

O encaro por alguns instantes antes de pegar o copo de sua mão. Viro meu rosto, tentando não olhar para ele. A vergonha e humilhação era muito grande.

- Você está bem? - Pergunta Cameron rouco.

- Uhum.

- Que bom. Você acordou várias vezes essas últimas três noites, gritando por seu pai.

- Três noites?? - Não resisto e pergunto.

- Sim.

- O que aconteceu?

- Espere aí. - Cameron diz se levantando e correndo pelo corredor. Ele volta alguns instante depois com uma enfermeira.

A enfermeira que no crachá diz ser Teresa, checa algumas coisas ali nas máquinas e logo depois me pergunta se eu estava sentido dores ou coisa do tipo. Respondo que só quando mexo meus braços e pernas, algo mais como fadiga. Ela diz que já chamaria o doutor e sai pelo corredor, deixando apenas Cameron e eu no quarto. Percebo seu olhar sobre mim. Ele batuca seu pé no chão. Desvio meu olhar para o lado oposto e vejo um urso de pelúcia gigante, uns três balões dizendo melhoras e um buquê de flores que já estava um pouco murcho. Sorrio. Olho para Cameron que também sorria. Ele abre a boca para falar algo, mas é interrompido pelo doutor que entra no quarto, folheando uma prancheta.

- Heather Summers. - Fala ele lendo algo entre as folhas. - Bom, você deve estar meio confusa, então vou lhe explicar o que aconteceu. - Ele pede para Cameron se retirar do lugar. Pouco antes de sair pela porta, ele sorri e da uma piscadela. Volto meu rosto para o doutor. Seu olhar paciente.

- Está se sentindo bem? - Pergunta ele se sentando na beirada da cama. Concordo com a cabeça. - Que bom. Então, você deu entrada no hospital faz três dias. Acidente de carro na autoestrada. Lembra de alguma coisa?

- Só de ver o farol do outro carro. Depois disso foi completa escuridão.

- Você teve bastante sorte, Heather, comparada com a tamanha batida do carro. - Ele para um instante, para ver se eu estava o acompanhando. O doutor lê algo na prancheta e volta seu rosto para mim. - Rachadura craniana e sete pontos no braço esquerdo.

Franzo as sobrancelhas.

- Não se preocupe muito com isso, é só tomar mais cuidado daqui em diante para isso não se repetir. - Concordo com a cabeça. O doutor se levanta e anda até a porta. Antes dele sair o chamo.

- Como está a pessoa do outro carro? - Pergunto.

- Está em repouso. O melhor seria eu não lhe dizer o que aconteceu à ele por restrições médicas.

- Tudo bem, você sabe como aconteceu o acidente?

- Bom, pelo o que eu entendi, o motorista do outro carro foi contra a mão na pista em que você estava. Dirigia bêbado se não me engano.

- Ok, obrigada.

- Sem problemas. - Ele sorri e sai pela porta. Me viro na cama para a janela, observando o céu azulado pela persiana. Escuto passos entrando no quarto, limpo minha garganta, pensando que agora é o momento certo para conversar com Cameron. Me viro e me surpreendo com Nash, ele se senta na cadeira onde antes estava Cameron. Nash sorri.

- Está tudo bem?

- Sim.

- Ah, peguei isso para você - ele me alcança um pote cheio de frutas. Pego de sua mão - achei que você poderia estar com fome. - Nesse mesmo instante, escuto minha barriga roncar.

- Obrigada.

- Então... O que te fez sair correndo de sua casa, me deixar sozinho lá, pegar a chave do meu carro e dirigir pela autoestrada? - Sinto minha garganta apertar. Não consigo falar. Engulo em seco. - Foi uma mensagem, não foi? - Diz ele, provavelmente notou minha expressão. Apenas concordo com minha cabeça, sinto meus lábios tremerem involuntariamente, coloco minha mão em cima dos mesmos, na esperança de não soltar nenhum soluço. Várias lágrimas descem meu rosto.

Nash senta na beirada da cama e me abraça. Tento conter meus soluços baixos, mas era praticamente impossível com seu ouvido ao lado de meu rosto. Ele começa a a chiar baixinho, fazendo aos poucos as lágrimas cessarem. Nash se afasta e antes de dizer qualquer coisa, é empurrado com força no chão. Cameron parecia furioso em frente a ele, seu peito se movia rapidamente e ele travava o maxilar incontáveis vezes. Antes de Cameron prosseguir seus socos em Nash, começo a gritar.

- Pare! Pare com essa palhaçada. Você não tem que arranjar briga com ninguém por minha culpa, isso não é um filme que um cara briga com outro por uma garota, por favor, Cameron, não tem absolutamente nada entre nós, além do mais, no que isso ajudaria? No nível que nós três estamos fodidos, isso é mais que irrelevante. É uma grande perda de tempo comparado com tudo o que temos que resolver ainda, por que, Norman fica mandando ameaças, e aí você fica se preocupando com uma bobagem dessas? - Um silêncio mais que constrangedor domina conta do lugar. Vejo aos poucos, Cameron se acalmar. Ele começa a concordar com a cabeça.

- Você tem razão, isso é mais que irrelevante. - Ele anda lentamente até a saída do quarto. Passando pela porta. Fico um tempo raciocinando o que acabara de acontecer.

"E se eu fui muito dura com ele? Não deve ser fácil ver a garota que ele gosta ficar abraçada com o melhor amigo dele e que ainda por cima transaram."

Nash se levanta e se senta na cadeira novamente, o encaro por alguns instantes.

- E se eu fui muito dura com ele?

- Sinceramente, não deve ser fácil ele nos ver juntos.

"Bingo"

- Heather, não fique brava com Cameron, não duvide do quanto ele te ama. Quando Cameron viu no noticiário que era meu carro na autoestrada e que você estava nele, nunca vi alguém tão desesperado. Ele me ligou e dirigiu por praticamente todos os hospitais te procurando, e quando finalmente te achou, não saiu daqui nesses últimos três dias. Só quando eu convenci ele de ir tomar banho. Olha, Cameron precisa de você mais do que você pensa, ele não abriu um sorriso sequer nesses últimos dias que eu vi ele. Você deveria conversar com Cameron. - O celular de Nash vibra e ele o tira de seu bolso e lê a mensagem recebida. - Ah, me desculpa, mas vou ter que ir. Minha mãe está me chamando para o almoço. - Ele se levanta e se aproxima. Colocando a mão sobre meu braço. - Tente conversar com Cameron. Mais tarde você me contar sobre a mensagem. - Nash aperta meu braço e sai do quarto.

Dirty LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora